São Paulo, quinta-feira, 03 de junho de 2004

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ARTES PLÁSTICAS

Galeria Fortes Villaça abre mostra com obras de artistas que fogem do estereótipo de seus conterrâneos

Exposição atenta para os "dissidentes" britânicos

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Desde que ganhou notoriedade, nos anos 90, a Jovem Arte Britânica (Young British Art - YBA) foi disseminada como marca de polêmica e sensacionalismo. Esses adjetivos deveriam envolver toda uma geração de artistas, especialmente aqueles colecionados pelo publicitário Charles Saatchi. Entretanto alguns passaram ilesos pela estampa "Sensation", referência à mostra organizada em Londres em 1997.
Angus Fairhurst, Cerith Wyn Evans e Liam Gillick, alguns desses "dissidentes" da "Sensation" e cujas obras escapam do marketing de Saatchi, apresentam, a partir de hoje, na Fortes Vilaça, essa outra possibilidade de visão da arte britânica contemporânea.
"São três artistas que conheço há muito tempo e não foram vistos na mostra da Tate na Oca [no ano passado]. Todos têm uma obra que foge dos clichês da YBA", diz Márcia Fortes, sócia da galeria onde a mostra acontece e curadora da exposição.
Em São Paulo, os três apresentam trabalhos fortes e de grandes dimensões, como Fairhurst, que trouxe "Cinco Outdoors, Texto e Corpo Removido", um outdoor em escala real. "Removi textos e imagens do corpo humano de cinco outdoors e rearranjei as imagens. Trabalho com a idéia de criar algo a partir do desaparecimento de elementos", conta o artista, durante a montagem.
Já em "Mesa Mnemônica", também de Fairhurst, o artista trabalha com o conceito de memória. Uma mesa em madeira recebe plantas que nascem espontaneamente na cidade, dessas que surgem nos muros. "É uma forma de pensar sobre uma memória ancestral, de onde vem a própria mesa", afirma.
Evans, que já foi assistente do diretor Derek Jarman, traz a instalação "O Filme Já Começou", que mescla plantas e projeções sobre uma bexiga, trabalho que lembra os ambientes de Hélio Oiticica. Não é por acaso. O artista viu a histórica montagem de Oiticica na Whitechapel, em 1969, e ajudou a montar outras exposições do artista, em Londres.
Evans apresenta ainda outras três obras, sendo uma delas uma performance, com fogos de artifício, que ocorre hoje, às 21 horas, na qual ele irá escrever uma frase de Caetano Veloso na parede externa da galeria. Em todas as suas obras, Evans reúne elementos díspares, realizando citações e apropriações. "Considero-me um curador do meu próprio trabalho", diz ele, que até foi visto na "Sensation". "Foi um acidente", brinca. Finalmente, Gillick, que não veio ao Brasil, comparece com uma composição geométrica nas paredes e três esculturas suspensas.
Em tempo: o estranho título da mostra, "Drunkenmasters" (literalmente: mestres da bebedeira), segundo Fortes, é uma referência a um gênero de kung fu no qual o lutador faz movimentos bêbados para confundir e desarmar o adversário, o que reforça o trio como dissidentes da YBA.


DRUNKENMASTERS. Curadoria: Márcia Fortes. Quando: abertura hoje, às 19h; de ter. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 10h às 17h; até 3/7. Onde: galeria Fortes Vilaça (r. Fradique Coutinho, 1.500, SP, tel. 0/ xx/11/3032-7066). Quanto: entrada franca.


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