São Paulo, quarta-feira, 03 de julho de 2002

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CINEMA

Mudança ocorre mesmo após "solução definitiva" para deixar rolos na cidade carioca

Filmes da Cinemateca do MAM do RJ chegam a SP

Raphael Falavigna/Folha Imagem
Filmes do Rio são descarregados na Cinemateca Brasileira, em SP


SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Vindos da Cinemateca do MAM, no Rio, mil rolos de matrizes e cópias de filmes brasileiros chegaram na última sexta à Cinemateca Brasileira, em São Paulo.
Nos estojos, há obras de Cacá Diegues, Walter Lima Jr., Miguel Faria, Arthur Omar e o arquivo da família Valadão, entre outros.
Foi um desembarque sem alarde, mas com o claro conteúdo de ruído no discurso oficial sobre o destino do acervo carioca. O secretário das Culturas do Rio, Ricardo Macieira, havia anunciado, dois dias antes da chegada dos filmes a São Paulo, a "solução definitiva" para a permanência do acervo na capital fluminense, depois da decisão da diretoria do MAM de dar fim ao depósito de sua cinemateca, que possui aproximadamente 48 mil rolos.
A solução seria um convênio entre a prefeitura e o Arquivo Nacional (órgão da Casa Civil) pelo qual o poder municipal investiria R$ 3 milhões na entidade federal, com o fim de torná-la apta a abrigar até 100 mil rolos de película. O diretor do Arquivo Nacional, Jaime Antunes, afirma que o órgão tem condições de receber imediatamente 12 mil estojos.

Condições técnicas
A saída de novo lote da Cinemateca do MAM para a Cinemateca Brasileira está prevista para julho.
"Soube que algumas pessoas estão querendo sentir até onde vai essa parceria com a prefeitura, para depois decidir se trazem seus filmes de volta ou não. De qualquer maneira, essa é uma questão de livre-arbítrio. Quem quiser vir será bem-vindo; no caso dos que quiserem ir para a Cinemateca, cumpre-se o rito", diz Antunes.
"Acho o Arquivo Nacional um importante lugar para a preservação da memória, mas não conheço suas condições técnicas. A Cinemateca Brasileira é a instituição em que realmente confio", diz o cineasta Arthur Omar.
"Acho que os cineastas estão reconhecendo o mérito do salto astronômico que a Cinemateca Brasileira conseguiu dar. Enquanto todos nós continuamos arquivando filmes a 20C e com 50% de umidade, eles atingiram condições de 10C e 30% de umidade, um padrão internacional", diz o pesquisador Hernani Heffner, que era também o técnico responsável pelo acervo do MAM.
Antunes diz que, por meio de convênio com a Prefeitura do Rio, o Arquivo Nacional contará com Heffner e com uma equipe de estudantes de cinema da Universidade Federal Fluminense para cuidar do acervo transferido. "Recebi o convite e recusei, por razões pessoais. Avisei que é uma decisão definitiva", diz Heffner.
Na próxima sexta, Antunes deve apresentar ao secretário Macieira o projeto detalhado para adaptação e expansão do Arquivo Nacional, "com valor aproximado de R$ 3,5 milhões".
O departamento jurídico do arquivo prepara para hoje um modelo de contrato de comodato a ser apresentado para a Abraci (Associação Brasileira de Cineastas), cujo presidente, Murilo Salles, participou das negociações para o convênio com a prefeitura.
Está prevista para segunda que vem a chegada ao Rio de um representante da Federação Internacional do Arquivo Fílmico, que dará consultoria à administração municipal no projeto de instalação de uma cinemateca carioca.
A idéia é que o Arquivo Nacional seja responsável pela guarda das matrizes e que se construa na cidade uma cinemateca, para a difusão cultural do acervo.
A Cinemateca Brasileira avisou a produtores e cineastas que tem condições de receber todos os filmes do acervo do MAM, se necessário. "Nossa única preocupação é com a preservação da memória", afirma Carlos Roberto de Souza, curador do acervo da Cinemateca Brasileira.



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