São Paulo, sexta, 3 de julho de 1998

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TEATRO
Diretor faz peça itinerante sobre obra do poeta espanhol e espetáculo na Broadway inspirado em Frankenstein
Thomas exibe García Lorca "on the road'

da Reportagem Local

Uma peça sobre a vida do poeta e dramaturgo espanhol Federico García Lorca encenada dentro de um caminhão, cujas exibições acontecerão em praças públicas da capital paulista e de cidades do interior do Estado.
É esse o projeto que o diretor e autor Gerald Thomas desenvolverá a partir de agosto.
A peça sobre a vida de Lorca integra o evento "Lorca na Rua", desenvolvido pelo Sesc de São Paulo, que acontece entre agosto e setembro e percorrerá, além da capital, mais 72 cidades do interior de São Paulo.
"Lorca na Rua" terá participação de dois outros diretores ainda não confirmados, além da presença de videomakers e de artistas plásticos.
A peça de Thomas apresenta um título gigantesco: "Eu, Federico García Lorca, que Estrangulei Meus Personagens, Esfaqueei os Mitos da Cultura Espanhola, Degolei o Espírito da Latinidade e Deitei Nu na Cama com Homens, Agora Levo Meu Tesouro nas Costas de um Caminhão para as Praças no Interior do País, Antes que as Tropas Fascistas me Fuzilem numa Delas".
Segundo Thomas, o título quilométrico foi uma forma de explicar o enredo do espetáculo, que, o diretor diz tratar de um poeta perseguido pelo regime de seu país e que, fugindo pela Espanha, só tem contato com o mundo exterior por meio de notícias de rádio.
O caminhão em que será encenada a peça terá uma abertura lateral para que o público possa ver o espetáculo.
Gerald Thomas diz não ter especial fascínio pelos trabalhos de García Lorca. "Sua obra, apesar de boa, é irregular. Mas ele é um personagem muito interessante, e sua vida é mais rica do que muitas ficções", afirma o diretor.
Este ano, comemora-se o centenário de nascimento do poeta e dramaturgo. Entre as peças de maior destaque de García Lorca estão "A Casa de Bernarda Alba", "Bodas de Sangue" e "Yerma".
Especula-se que Lorca, que era homossexual, teria tido um caso com o artista Salvador Dalí.
As convicções políticas do autor o levaram a ser perseguido e fuzilado por tropas fascistas leais ao General Franco, durante a Guerra Civil Espanhola, em Granada, Espanha, em agosto de 1936.
Segundo Thomas, um dos objetivos da peça é fazer um contraponto entre o tom libertário da obra do poeta e o regime fascista que Franco instaurou na Espanha.
"Quero mostrar até que ponto a cultura de um país -no caso a da Espanha, abalada por uma guerra civil- pode influir na obra de um artista", afirma Thomas.
Frankestein e drag queens
Além da peça baseada na vida de Lorca, Gerald Thomas desenvolve projetos totalmente distintos.
Um deles é um espetáculo com drag queens que será exibido em uma casa noturna no bairro de Queens, em Nova York, intitulado "Queensdrags".
Segundo Thomas, "Queensdrags" é uma encenação cômica, com toques de vaudeville e um ar de show de Las Vegas, que trata de um churrasqueiro machão gaúcho que, ao chegar a Nova York, passa a se fantasiar de Carmen Miranda.
Thomas deve também estrear na Broadway no ano que vem com um espetáculo baseado no Frankenstein de Mary Shelley.
O diretor pensa, para o papel principal da peça, em nomes como Gérard Depardieu, Robert De Niro e Christopher Walken.
Thomas prepara ainda uma encenação da peça "Nowhere Man", exibida no Brasil em 97, que será apresentada no teatro La Mama, em Nova York, em dezembro deste ano.
Segundo Thomas, a peça marcará sua volta ao La Mama, onde apresentou mais de 20 peças escritas pelo dramaturgo irlandês Samuel Beckett, entre elas "All Strange Way", sua primeira encenação, exibida no fim dos anos 70.
Thomas irá se voltar também para uma de suas grandes paixões: a ópera.
O diretor encenará na Áustria, em agosto, "Moisés e Aarão", ópera assinada pelo compositor Arnold Schoenberg, trabalho que vem desenvolvendo há três anos.



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