São Paulo, sexta, 3 de julho de 1998

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Brasil se diverte com dez anos de atraso


LEANDRO FORTINO
PATRICIA DECIA
da Reportagem Local

Demorou dez anos para chegar (como tudo, aliás), mas finalmente a cultura descendente do movimento acid house está no Brasil. Grandes raves, com público entre 2.000 e 5.000 pessoas, acontecem quase toda semana em São Paulo e, em menor escala, no Rio de Janeiro e nas praias do sul da Bahia.
Entre os frequentadores, só há uma característica comum: a faixa etária. Jovens entre 18 e 35 anos, de todas as classes sociais, regiões, etnias e estilos (veja abaixo) reúnem-se só para se divertir.
Para isso, enfrentam uma verdadeira maratona, que começa tentando descolar o flyer com as indicações de onde acontecerá a festa. Com o endereço na mão, começa a viagem de pelo menos uma hora de carro seguida pela caminhada de quilômetros entre o estacionamento e a pista de dança.
Tudo isso para desembolsar cerca de R$ 20 pela entrada e passar de seis a oito horas dançando todos os estilos da música eletrônica.
Programa de índio? Parece que não. Afinal, São Paulo vê agora a profissionalização das raves -coisa que aconteceu no Reino Unido já em 1990.
Por aqui, os grupos organizadores têm suas marcas, como XXX-perience, Avonts e Mission, trazem DJs estrangeiros, competem para oferecer os maiores shows pirotécnicos e atrações como vôo de balão e até gás hélio.
Isso sem contar a recente entrada de patrocinadores, principalmente os grandes clubes da cidade e marcas de cigarro, de refrigerantes e de drinques energéticos -bebida cujo crescimento do consumo está associado às festas.
Como não poderia deixar de ser, o ecstasy também está presente. Não há dados sobre o consumo da droga no Brasil. No dia 5 de junho, a polícia de São Paulo confiscou 1.134 comprimidos de ecstasy, na maior apreensão da droga já registrada no país.
Mas a repressão policial registrada por aqui ainda passa longe da que ocorreu no Reino Unido, onde as raves foram consideradas ilegais já no final dos anos 80.
Atualmente, o governo trabalhista de Tony Blair tenta tomar posição diferente. Ele não apenas reconheceu a importância dessa cultura jovem, como também quer exportá-la como a nova cara do país, para atrair o turismo.
Só que ainda não conseguiu dissociá-la do ecstasy. A economia das drogas cresceu mais de 500% no Reino Unido entre 88 e 95. A maior fatia está associada a drogas consumidas em clubes, como ecstasy e anfetamina.
A França também já se rendeu. Em abril, o governo co-patrocinou um evento para 15 mil pessoas. Em países diferentes, como Alemanha, África do Sul e Índia, as raves alcançaram uma dimensão gigantesca, com mais de 24 horas de música ininterrupta.


A coluna "Noite Ilustrada", de Erika Palomino, excepcionalmente não é publicada hoje


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