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Brasil se diverte com dez anos de atraso
LEANDRO FORTINO
PATRICIA DECIA
da Reportagem Local
Demorou dez anos para chegar
(como tudo, aliás), mas finalmente a cultura descendente do movimento acid house está no Brasil.
Grandes raves, com público entre
2.000 e 5.000 pessoas, acontecem
quase toda semana em São Paulo
e, em menor escala, no Rio de Janeiro e nas praias do sul da Bahia.
Entre os frequentadores, só há
uma característica comum: a faixa
etária. Jovens entre 18 e 35 anos, de
todas as classes sociais, regiões, etnias e estilos (veja abaixo) reúnem-se só para se divertir.
Para isso, enfrentam uma verdadeira maratona, que começa tentando descolar o flyer com as indicações de onde acontecerá a festa.
Com o endereço na mão, começa a
viagem de pelo menos uma hora
de carro seguida pela caminhada
de quilômetros entre o estacionamento e a pista de dança.
Tudo isso para desembolsar cerca de R$ 20 pela entrada e passar
de seis a oito horas dançando todos os estilos da música eletrônica.
Programa de índio? Parece que
não. Afinal, São Paulo vê agora a
profissionalização das raves
-coisa que aconteceu no Reino
Unido já em 1990.
Por aqui, os grupos organizadores têm suas marcas, como
XXX-perience, Avonts e Mission,
trazem DJs estrangeiros, competem para oferecer os maiores
shows pirotécnicos e atrações como vôo de balão e até gás hélio.
Isso sem contar a recente entrada de patrocinadores, principalmente os grandes clubes da cidade
e marcas de cigarro, de refrigerantes e de drinques energéticos
-bebida cujo crescimento do
consumo está associado às festas.
Como não poderia deixar de ser,
o ecstasy também está presente.
Não há dados sobre o consumo da
droga no Brasil. No dia 5 de junho,
a polícia de São Paulo confiscou
1.134 comprimidos de ecstasy, na
maior apreensão da droga já registrada no país.
Mas a repressão policial registrada por aqui ainda passa longe da
que ocorreu no Reino Unido, onde as raves foram consideradas ilegais já no final dos anos 80.
Atualmente, o governo trabalhista de Tony Blair tenta tomar
posição diferente. Ele não apenas
reconheceu a importância dessa
cultura jovem, como também
quer exportá-la como a nova cara
do país, para atrair o turismo.
Só que ainda não conseguiu dissociá-la do ecstasy. A economia
das drogas cresceu mais de 500%
no Reino Unido entre 88 e 95. A
maior fatia está associada a drogas
consumidas em clubes, como ecstasy e anfetamina.
A França também já se rendeu.
Em abril, o governo co-patrocinou um evento para 15 mil pessoas. Em países diferentes, como
Alemanha, África do Sul e Índia,
as raves alcançaram uma dimensão gigantesca, com mais de 24
horas de música ininterrupta.
A coluna "Noite Ilustrada", de
Erika Palomino,
excepcionalmente não é publicada hoje
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