|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"FLAMENCO"
Carlos Saura produz filme para apreciação da dança espanhola
INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA
Uma noite inteira de flamenco, traduzida para a
noite da tela, em uma hora e meia
de filme. "Flamenco" (1995), de
Carlos Saura, não é menos que isso (dirão os entusiastas); também
não é mais (dirão os detratores).
Para quem gosta de flamenco, é
tudo o que se pode querer.
O flamenco tem um débito considerável com o diretor Carlos
Saura (1932), criador de "Bodas
de Sangue", "Carmem" e "Amor
Bruxo". O filme se passa numa
antiga estação ferroviária em Sevilha, dividida por painéis e espelhos. A história se desenrola numa sequência de quadros, na qual
a "narrativa" resume-se a uma
apresentação de diversos ritmos
de flamenco. São tarantas, tangos,
bulerias, fandangos, alegrias.
Pouco a pouco se vai entrando
nesse mundo ou esse mundo vai
tomando conta de nós.
A sucessão de quadros, sem
narrativa, é sustentada pelas imagens luminosas do diretor de fotografia Vittorio Storaro -reconhecido pelo trabalho nos filmes
"O Último Tango em Paris" e "O
Último Imperador".
Cenas de performance, de dança ou de música alternam-se com
outras, de aulas de flamenco. Sem
forçar uma interpretação, pode-se dizer, talvez, que os espelhos
-presentes também em outros
filmes de Saura- sugerem uma
forma de legitimação: uma confirmação que valoriza, de dentro e
de fora, os gestos dos bailarinos.
Tanto mais quando se pensa
que a expressividade dos rostos e
dos corpos são fatores cruciais na
dança flamenca. É desse teatro,
desse exagero, que a emoção tem
de emergir sem falsidade.
Os aficionados vão perceber, no
filme, as diferenças sutis de ritmos
-na batida dos pés, nos movimentos das mãos, no canto e no
próprio ritmo dos instrumentos.
Mas essa história sem histórias
sugere uma liberdade ainda
maior. É como se Saura nos dissesse: "Isto é o flamenco". Cada
espectador que aprecie, afinal,
sem entraves, a dança e a música.
Flamenco
Flamenco
Direção: Carlos Saura
Produção: Espanha, 1995
Com: Merche Esmeralda, Joaquín Cortés
Quando: a partir de hoje no Unibanco
Arteplex
Texto Anterior: "Zazie no Metrô": Longa de Malle incorpora espírito infantil Próximo Texto: Na pele dos humanos Índice
|