São Paulo, sexta-feira, 03 de agosto de 2001

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"FLAMENCO"

Carlos Saura produz filme para apreciação da dança espanhola

INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA

Uma noite inteira de flamenco, traduzida para a noite da tela, em uma hora e meia de filme. "Flamenco" (1995), de Carlos Saura, não é menos que isso (dirão os entusiastas); também não é mais (dirão os detratores). Para quem gosta de flamenco, é tudo o que se pode querer.
O flamenco tem um débito considerável com o diretor Carlos Saura (1932), criador de "Bodas de Sangue", "Carmem" e "Amor Bruxo". O filme se passa numa antiga estação ferroviária em Sevilha, dividida por painéis e espelhos. A história se desenrola numa sequência de quadros, na qual a "narrativa" resume-se a uma apresentação de diversos ritmos de flamenco. São tarantas, tangos, bulerias, fandangos, alegrias. Pouco a pouco se vai entrando nesse mundo ou esse mundo vai tomando conta de nós.
A sucessão de quadros, sem narrativa, é sustentada pelas imagens luminosas do diretor de fotografia Vittorio Storaro -reconhecido pelo trabalho nos filmes "O Último Tango em Paris" e "O Último Imperador".
Cenas de performance, de dança ou de música alternam-se com outras, de aulas de flamenco. Sem forçar uma interpretação, pode-se dizer, talvez, que os espelhos -presentes também em outros filmes de Saura- sugerem uma forma de legitimação: uma confirmação que valoriza, de dentro e de fora, os gestos dos bailarinos.
Tanto mais quando se pensa que a expressividade dos rostos e dos corpos são fatores cruciais na dança flamenca. É desse teatro, desse exagero, que a emoção tem de emergir sem falsidade.
Os aficionados vão perceber, no filme, as diferenças sutis de ritmos -na batida dos pés, nos movimentos das mãos, no canto e no próprio ritmo dos instrumentos. Mas essa história sem histórias sugere uma liberdade ainda maior. É como se Saura nos dissesse: "Isto é o flamenco". Cada espectador que aprecie, afinal, sem entraves, a dança e a música.


Flamenco
Flamenco
   
Direção: Carlos Saura
Produção: Espanha, 1995
Com: Merche Esmeralda, Joaquín Cortés
Quando: a partir de hoje no Unibanco Arteplex




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