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Autora de livro sobre escritor afirma que obra lançada agora no Brasil resume modelo do romancista
"Fado" ensaia todo Lobo Antunes, diz crítica
DA REPORTAGEM LOCAL
Assim como os personagens de
"Fado Alexandrino", António Lobo Antunes também foi guerrear
por Portugal nas colônias da África, no início dos anos 70. Mas Lobo Antunes diz que este livro não
é mais autobiográfico que os demais, na medida em que toda sua
escrita "é feita com meu sangue,
minhas tripas, minha experiência
de vida, imaginações e sonhos".
Como diz à Folha, "não sou Deus,
não invento nada".
Pode não ser o mais "autobiográfico", mas "Fado Alexandrino" deixou marcas fortes no relevo literário do escritor, sustenta
Maria Alzira Seixo.
"Esse romance é talvez o texto
em que Lobo Antunes consegue
ensaiar a urdidura a partir de então comum em toda a sua obra:
um tecido complexamente polilogal de vozes que se entretecem e
dramaticamente se alternam,
conjugando várias histórias de diversas proveniências sociais, com
temáticas e idiossincrasias nas
personagens individuais também
muito diferenciadas, e a partir daí
comunicando a dilaceração desordenada da guerra colonial na
África, tanto como a multiformidade absurda da revolução de
Abril", opina a ensaísta.
Se esse "tecido polilogal" se
aproximaria mais da sinfonia, é
de "fado" que foi batizado, mesmo com o desprezo do autor pelo
gênero. "Eu não gosto de fado,
tem melodias muito pobres." O
"alexandrino" em questão é, segundo Lobo Antunes, um dos
quatro tipos de fado existentes. "É
em versos alexandrinos, de 12 sílabas, e normalmente conta a história de uma tribo." A escolha do
título obedeceu, assim, ao fato de
o livro ter 12 partes e ao caráter
irônico que dava para o romance.
"O fado tem uma coisa sentimental, pequeno-burguesa, de
amor. Esteve muito ligado à ditadura. Esses elementos soam irônicos em relação ao romance."
Irônico também é o fato de a
história, como quase todas do autor, se desenrolar em Portugal,
país que ele já atacou muitas vezes
e do qual diz que não sai pela "necessidade de me alimentar da língua em que escrevo".
Mas sua Lisboa, há de se dizer,
não é a de todos os outros. "A Bahia de Jorge Amado é uma outra
Bahia. O cenário de Guimarães
Rosa foi ele que inventou. Faulkner criou seu próprio país. Eu inventei minha Lisboa."
Lobo Antunes, que chegou a
ameaçar em 1998 não mais publicar em Portugal, é quase um estrangeiro em seu país. "Meu
mundo acaba sendo o que eu vou
inventando para as minhas ficções."
(CASSIANO ELEK MACHADO)
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