São Paulo, sábado, 03 de agosto de 2002

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POLÍTICA CULTURAL

Órgão do Ministério da Cultura ameaça despejar grupos e não completa agenda do Teatro de Arena

Funarte reduz atividades em SP e no Rio

João Caldas/Divulgação
Antônio Fagundes em "Sete Minutos", dirigido por Bibi Ferreira


VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Projetos e espaços teatrais mantidos pela Fundação Nacional da Arte (Funarte) em cidades do Rio de Janeiro e São Paulo sofrem efeitos das medidas de redução de despesas determinadas pelo governo federal.
Há cerca de 15 dias, o Centro de Teatro do Oprimido (CTO), comandado por Augusto Boal, e o grupo Tá na Rua, dirigido por Amir Haddad, foram notificados sobre a desocupação das sedes que mantêm há pelo menos dez anos no prédio da Funarte (sexto e quinto andares) na avenida Rio Branco, região central do Rio.
"A carta falava em quatro dias para desocupar o espaço, por motivo de reformas. Parecia piada de mau gosto", afirma Boal, 71.
Ele diz ter procurado o presidente da Funarte, Márcio Souza, mas até ontem pela manhã não havia conseguido agendar reunião. Tampouco foi despejado no prazo estipulado.
Já o Tá na Rua obteve um recuo oficial. O diretor do Departamento de Artes Cênicas da Funarte, Marcos Teixeira Campos, afirma, em carta de 31 de julho: "(...) Reconsideramos nosso pedido de desocupação da sala cedida por este departamento e autorizamos sua permanência até o final do exercício de 2002, quando voltaremos a negociar nosso apoio".
Desde a última quinta-feira, no entanto, os grupos reduziram a carga horária de utilização do espaço por determinação da Funarte. "É um final melancólico para o governo pedir para um dos setores mais pobres da cultura apertar os cintos", afirma Haddad, 65.
Até o fechamento desta edição, o presidente da Funarte não havia respondido aos telefonemas e e-mails enviados pela Folha sobre o assunto.
Em maio passado, o governo Fernando Henrique Cardoso assinou os decretos 4.230 e 4.231, que restringem despesas dos órgãos federais para este ano, quando termina o segundo mandato.
Ainda no Rio, dois espaços culturais mantidos pela Funarte estão fechados para reformas: Casa Paschoal Carlos Magno, em Santa Teresa, e Aldeia de Arcozelo, no município de Paty do Alferes.
Em São Paulo, a Funarte administra três espaços. Na sede regional, em Santa Cecília, as salas Guiomar Novaes e o galpão Carlos Miranda reduziram as temporadas também sob alegação de reformas (ainda não iniciadas). O quadro de funcionários (12) foi reduzido à metade.
O Teatro de Arena Eugênio Kusnet, no centro, é ocupado por quatro companhias que, desde maio de 2001, realizam o projeto Harmonia na Diversidade. Pelo edital de contrato, os espetáculos e oficinas deveriam revezar com atividades da Funarte, mas há um ano e meio não acontecem eventos da fundação. Vinculada ao Ministério da Cultura, a Funarte surgiu em 75. Foi extinta em 90 e relançada quatro anos depois.



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