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Comida
Na estação certa
Embora o consumo de ostras seja associado ao verão, é no inverno que elas estão mais saborosas; saiba o que observar antes de comê-las
JANAINA FIDALGO
DA REPORTAGEM LOCAL
Pensar em ostra é pensar em
mar. E mar, para muitos, se traduz em praia e calor. Não é de
estranhar, portanto, que o consumo de ostra esteja estreitamente relacionado ao verão.
Mas não é na estação mais
quente do ano, e sim no inverno, que as ostras estão em sua
melhor forma: gordinhas, gostosas, firmes e viçosas.
O porquê, o crítico gastronômico Jeffrey Steingarten explica, da maneira direta e divertida que lhe é peculiar, em "O
Homem que Comeu de Tudo":
"Na primavera, quando a água
se aquece, as ostras se preparam para desovar e sua carne fica leitosa e mole. Como acontece com os homens, ostras que
acabam de se reproduzir não
servem para nada, até conseguirem reconstituir suas reservas de glicogênio".
É o tal do glicogênio, uma reserva de energia acumulada pelas ostras durante o ano e que
serve de substrato para a formação das gônadas (glândulas
sexuais que produzem gametas), o responsável pelo sabor
agradável do molusco.
"Na primavera, quando a
água aquece, a ostra transforma o glicogênio em gônadas. O
sabor vai ficando pior à medida
que o teor dessa substância diminui e o de gônadas aumenta.
No verão, ela está magrinha e
com pouco sabor por ter acabado de desovar", explica o oceanógrafo Claudio Bacher, 51, gerente do Laboratório de Moluscos Marinhos da Universidade
Federal de Santa Catarina.
A chef Bella Masano, 25, do
Amadeus, conta que no verão,
para oferecer uma dúzia de ostras para o cliente, é preciso
dispor de uma dúzia e meia. "À
medida que você abre as conchas, encontra vários animais
ovados e outros vazios, que acabaram de desovar", diz. "Não se
pode oferecer nem uma ostra
"gorda" demais, porque isso altera o sabor, nem uma mirradinha, com poucos nutrientes."
Do mar ou do mangue
Embora existam centenas de
espécies de ostras no mundo,
das comestíveis às produtoras
de pérolas, no Brasil a produção
está baseada em dois tipos: a
Crassostrea gigas e a Crassostrea brasiliana. Também conhecida como ostra do Pacífico, a primeira é produzida
principalmente em Florianópolis (SC), e a outra, em Cananéia (SP). Enquanto a ostra de
Florianópolis vive todo o tempo na água do mar (sem contar
a produção das "sementes" no
laboratório; leia mais à esquerda), a de Cananéia se reproduz
no mangue e depois é coletada
e levada para um estuário.
"Esse é um sistema importante para nós, coletores, e
também para o ambiente. Durante o tempo em que a ostra
fica no viveiro, ela vai desovando e repovoa o mangue", diz
Francisco de Sales Coutinho,
49, da Cooperostra (Cooperativa dos Produtores de Ostras de
Cananéia).
De aparência menos rústica
que a de Cananéia, a ostra de
Florianópolis tem sabor mais
acentuado de mar, mas suave.
"A maioria das pessoas é mais
receptiva à de Florianópolis. É
fina em relação ao paladar. Diria que é uma ostra mais elegante", diz a chef do Amadeus,
restaurante que tem sua própria fazenda de ostras na capital catarinense e que vende de
120 a 150 dúzias por semana.
O chef Francisco Gamelera,
35, do Figueira Rubaiyat, diz
que apesar de ter menos carne
que a do sul, a ostra do litoral
paulista tem gosto mais acentuado. "A de Santa Catarina
tem aceitação maior. Creio que
é por ela ter um gosto mais suave, de maresia mesmo."
O Figueira Rubaiyat vende
os dois tipos -quem quiser
brincar de comparar os sabores, a casa tem uma opção que
mescla as duas variedades.
Se em Florianópolis é a ostra
ao bafo a preferida, por estes
lados a mais pedida é a fresca.
E, para comê-las, Bella dá duas
dicas: sorver a água que a ostra
fresca mantém no interior e
comer o músculo que a fixa na
concha. "Eu daria metade das
minhas ostras, para pegar os
músculos da sua", brinca.
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