São Paulo, segunda, 3 de agosto de 1998

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FESTIVAL DE CINEMA JUDAICO
Cineasta prepara filme sobre homônimos

de Nova York

O cineasta americano Alan Berliner conta a seguir como decidiu passar do trabalho com filmes anônimos para experiências pessoais e de sua própria família. Também revela seu próximo projeto, sobre pessoas que têm o mesmo nome que ele. (AL)

Folha - O que o fez passar da compilação de filmes de anônimos para o enfoque de sua própria família?
Berliner -
Fiz "Álbum de Família" em 1986, usando filmes 16mm caseiros de mais de 70 famílias americanas desconhecidas. O som era composto de entrevistas, cartas lidas, gravações de festas de aniversários, casamentos, feriados etc.
Como o material bruto era muito impessoal, foi crescendo o desejo de encarar um desafio maior, o de fazer algo derivado de minha própria vida e da relação com minha própria família.
Folha - Assim nasceram "Estranho Íntimo" e "Não é da Conta de Ninguém"?
Berliner -
Em 1991, terminei "Estranho", uma biografia de Joseph Cassuto, meu avô materno, que morreu subitamente em 1974 antes de completar sua autobiografia.
O filme, que se tornou uma jornada através da história da família de minha mãe, me satisfez por pouco tempo.
Com o passar do tempo, a distância emocional entre o avô morto e o neto cineasta foi crescendo. Mais um vez senti a urgência de elevar o desafio emocional para chegar ainda mais perto da revelação pessoal.
Vejo "Não é da Conta de Ninguém" como a parte final de uma trilogia, aproximando-me mais e mais da verdade humana, fazendo um "zoom" no poder emocional das relações familiares.
Não tive que procurar longe. Meu pai, Oscar Berliner, que está bem vivo, se agigantou como um personagem incrivelmente convincente para mim.
Folha - Depois de ele resistir tanto às filmagens, como reagiu frente ao filme pronto?
Berliner -
No lançamento mundial, na abertura do festival de Nova York de 1996, meu pai foi aclamado por mais de 1.100 pessoas.
Ele disse para alguém, que me contou três semanas mais tarde, que aquela tinha sido a noite mais feliz da vida dele. Minha mãe sabia da importância do filme para mim e compreendeu que, para apaziguar feridas emocionais, eu tinha que explorar a fundo nossa história familiar. Ela mantém até hoje uma incrível compaixão por meu pai, como o filme mostra.
Folha - Você notou alguma reação especial no público de origem judaica?
Berliner -
Muita gente o vê como uma extensão da suas próprias extensas famílias. Vêem nossa relação como tipicamente judaica, combativa e argumentativa.
Para os americanos em especial, o filme parece ajudá-los a entender como e porque muitos judeus aqui não sabem quase nada sobre suas raízes.
Folha - Pronta a trilogia, qual seu novo projeto?
Berliner -
Chama-se "The Language of Names" (A Linguagem dos Nomes). É um filme sobre o poder, o significado e o mistério dos nomes das pessoas.
Estou localizando e entrevistando gente do mundo inteiro que tenha o meu nome: Alan Berliner. Encontrei até agora 11 pessoas, um na Bélgica (o cineasta que dirigiu "Minha Vida em Cor-de-Rosa"), um na França e nove nos EUA. Até agora todos são judeus.
Se algum de seus leitores conhece alguém chamado Alan, Alain, Allan, Allen ou Alin Berliner, adoraria que me mandassem um e-mail (AJBERLINER@aol.com).



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