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"1" alisa o "cabelo duro" de Wilsom Sideral
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local
Em 98, circulava um CD demo
(que artistas fazem para seduzir
gravadoras) de Wilsom Sideral.
Ele parecia então -desde o nome
provocativo, decalcado do de Simonal, e da figura de hippie-chique- um sujeito dos bem legais.
Fazia um som encorpado, dosado
entre soul, funk e blues envoltos
por voz macia, meio bossa nova.
Agora ele chegou ao disco, chamado "1", pela dita gravadora "nº
1", Universal, e com produtor que
cobiça o título de midas pop, Dudu Marote -homem por trás de
várias das minas pop das Minas
Gerais, do Skank a Pato Fu e Jota
Quest (banda liderada pelo irmão
de Wilsom, Rogério Flausino).
E o que acontece? A Universal,
que não é sideral, fica tão pé na
terra quanto sempre. E o Sideral
ganhou padrão Universal. Se é a
gravadora, o produtor ou o artista, só eles podem dizer, mas entre
a demo e o "1" aconteceram modificações desconcertantes.
Ele continua um cara legal. Mas
o frescor ficou perdido num projeto mercadológico bobo: construir um clone do Jota Quest, banda da hora no circuito rádio-programa "H"-feira fajuta de CDs.
A voz "easy listening", saborosa
como queijo de Minas, adquiriu a
"síndrome de Ed Motta", dos garotos que pensam que ser "soul" é
forçar a voz como tivessem dor de
barriga. O pior momento de canto intestinal é a cover de "Bem
Que Se Quis" (que deu fama a
Marisa Monte, em 89) -gemer
não transforma branco em negro,
nunca; sabendo disso é que Erasmo Carlos foi um dos grandes nomes do soul brasileiro.
Bem, nada disso quer dizer que
se esteja diante de um projeto
frustrado. "1" é um disco um pouco legal de um cara bem legal.
"Wilsom" é provocadora ("sou
Wilsom, o urso do Terceiro Mundo"); "Não Pode Parar" é o "Tão
Fácil" (do Jota, que Sideral compôs) de seu disco, o que a torna
imediatamente polêmica; "Zero a
Zero" e "Xote Atômico" ("xá, xé,
xi, xó, xote atômico") perderam
personalidade, mas ainda são pequenos achados; "Brasileiro" é
Jorge Ben 1969 -isso não a faz legal, mas ela é legal.
No todo, "1" é exemplo de como
convenções industriais vêm achatando o fogo criativo brasileiro.
Quem tem que cortar esse oba-oba são os artistas, e o "urso do
Terceiro Mundo" tem as armas
escondidas no cabelo duro.
Avaliação:
Disco: 1
Artista: Wilsom Sideral
Lançamento: Polydor/Universal
Quanto: R$ 18, em média
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