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"A JORNADA DE JAMES PARA JERUSALÉM"
Israelense alia humanismo a humor
SÉRGIO MALBERGIER
EDITOR DE DINHEIRO
Israel é um país complexo,
mas reduzido a vilão pelos maniqueístas de plantão. A crescente
exibição de filmes israelenses no
Brasil serve um pouco como "outro lado" à demonização do país
em muitos círculos.
Não que sejam filmes ufanistas e
patrióticos. Pelo contrário. De
obras como "Kadosh" e "Kipur"
(de Amos Gitai), "Yossi & Jagger,
Delicada Relação" (Eytan Fox) e
"Promessas de um Novo Mundo"
(B.Z. Goldberg, Justine Shapiro e
Carlos Bolado) partem visões críticas do país fundado em 1948.
Mas ver o israelense nesses filmes -sua eventual compaixão
pelos palestinos, seu drama pessoal de travar uma guerra que parece perpétua ou sua luta contra a
opressão de mulheres e homossexuais- esclarece um público
acostumado a vê-lo apontando
fuzis para crianças com pedras.
Este "A Jornada de James para
Jerusalém", de Ra'anan Alexandrowicz, usa o humor para mostrar como Israel, apesar de todas
as suas particularidades, parece
cada vez mais com o planeta
-excetuando-se, e põe exceção
nisso, o conflito com os árabes,
que quase não aparece no filme.
O cristão e inocente James parte
de uma aldeia imaginária da África para a Terra Santa com a missão de conhecer Jerusalém e tornar-se pastor. Logo na chegada, a
imigração o toma por imigrante
ilegal. Vai parar na cadeia, de onde sai para ser explorado pela rede
de trabalhadores ilegais que substituiu os palestinos -barrados
por causa do terror.
James descobre que a Terra Prometida e seu povo são bem diferentes dos salmos. A trama eficiente injeta graça sutil na fábula
humanista do inocente transformado pelo meio corrosivo.
E o alvo do jovem Alexandrowicz, documentarista em seu primeiro e premiado longa, é justamente essa corrosão dos ideais
dos fundadores de Israel, considerados estóicos, idealistas e compassivos. A "normalização" é paradoxalmente vista como evolução positiva e descida aos prazeres infernais do consumismo e do
individualismo dominantes.
O também premiado elenco dá
peso a este filme leve. O ator sul-africano Siyabonga Melongisi
Shibe transfigura-se magistralmente ao longo dos 87 minutos de
sessão. O israelense Arie Elias, no
papel do idoso mentor de James,
matiza as contradições de um
personagem cruel e bondoso,
amargurado e bem-humorado.
A produção é simples, em vídeo
digital. Feito com recursos taxados das TVs, "A Jornada de James" pode ser visto como diversão leve e didática.
A Jornada de James para Jerusalém
James" Journey to Jerusalem
Direção: Ra'anan Alexandrowicz
Produção: Israel, 2003
Com: Siyabonga Melongisi Shibe e Arie Elias
Quando: a partir de hoje no Espaço
Unibanco 1
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