São Paulo, sexta-feira, 03 de setembro de 2004

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"A JORNADA DE JAMES PARA JERUSALÉM"

Israelense alia humanismo a humor

SÉRGIO MALBERGIER
EDITOR DE DINHEIRO

Israel é um país complexo, mas reduzido a vilão pelos maniqueístas de plantão. A crescente exibição de filmes israelenses no Brasil serve um pouco como "outro lado" à demonização do país em muitos círculos.
Não que sejam filmes ufanistas e patrióticos. Pelo contrário. De obras como "Kadosh" e "Kipur" (de Amos Gitai), "Yossi & Jagger, Delicada Relação" (Eytan Fox) e "Promessas de um Novo Mundo" (B.Z. Goldberg, Justine Shapiro e Carlos Bolado) partem visões críticas do país fundado em 1948.
Mas ver o israelense nesses filmes -sua eventual compaixão pelos palestinos, seu drama pessoal de travar uma guerra que parece perpétua ou sua luta contra a opressão de mulheres e homossexuais- esclarece um público acostumado a vê-lo apontando fuzis para crianças com pedras.
Este "A Jornada de James para Jerusalém", de Ra'anan Alexandrowicz, usa o humor para mostrar como Israel, apesar de todas as suas particularidades, parece cada vez mais com o planeta -excetuando-se, e põe exceção nisso, o conflito com os árabes, que quase não aparece no filme.
O cristão e inocente James parte de uma aldeia imaginária da África para a Terra Santa com a missão de conhecer Jerusalém e tornar-se pastor. Logo na chegada, a imigração o toma por imigrante ilegal. Vai parar na cadeia, de onde sai para ser explorado pela rede de trabalhadores ilegais que substituiu os palestinos -barrados por causa do terror.
James descobre que a Terra Prometida e seu povo são bem diferentes dos salmos. A trama eficiente injeta graça sutil na fábula humanista do inocente transformado pelo meio corrosivo.
E o alvo do jovem Alexandrowicz, documentarista em seu primeiro e premiado longa, é justamente essa corrosão dos ideais dos fundadores de Israel, considerados estóicos, idealistas e compassivos. A "normalização" é paradoxalmente vista como evolução positiva e descida aos prazeres infernais do consumismo e do individualismo dominantes.
O também premiado elenco dá peso a este filme leve. O ator sul-africano Siyabonga Melongisi Shibe transfigura-se magistralmente ao longo dos 87 minutos de sessão. O israelense Arie Elias, no papel do idoso mentor de James, matiza as contradições de um personagem cruel e bondoso, amargurado e bem-humorado.
A produção é simples, em vídeo digital. Feito com recursos taxados das TVs, "A Jornada de James" pode ser visto como diversão leve e didática.


A Jornada de James para Jerusalém
James" Journey to Jerusalem
   
Direção: Ra'anan Alexandrowicz
Produção: Israel, 2003
Com: Siyabonga Melongisi Shibe e Arie Elias
Quando: a partir de hoje no Espaço Unibanco 1



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