São Paulo, sexta-feira, 03 de setembro de 2004

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"O AGENTE DA ESTAÇÃO"

Busca pela redenção move longa

Divulgação
O ator Peter Dinklage em cena de "O Agente da Estação", filme premiado no Festival de Sundance


BRUNO YUTAKA SAITO
DA REDAÇÃO

Tudo em "O Agente da Estação" converge para o olhar. A começar pelo seu protagonista, um homem com pouco mais de um metro de altura.
Finbar é um sujeito taciturno, que trabalha numa loja de maquetes de trens, sua obsessão. Alvo de comentários jocosos ("Cadê a Branca de Neve?", gritam as crianças do bairro ), ele vê novas perspectivas quando seu chefe morre e lhe deixa uma herança.
Trata-se do galpão de uma estação ferroviária abandonada, numa cidadezinha esquecida em Nova Jersey. O lugar, que servirá como seu novo lar, é a oportunidade para se isolar de vez do mundo e dos olhares curiosos.
Tente se lembrar de quantas vezes você viu anões no cinema recente, que não fosse em filmes de David Lynch ou em comédias de gosto duvidoso, e você terá uma idéia da provocação do diretor estreante Thomas McCarthy.
Finbar é o típico "outsider"; guarda semelhanças com outros tipos misteriosos e sedutores, na linha de Clint Eastwood. Poucas vezes personagens delicados como Finbar são tratados de forma honesta, num registro que guarda parentesco com os irmãos Farrelly ("Ligado em Você", comédia sobre irmãos siameses). Mas o mundo de "O Agente" é menos cor-de-rosa. Aqui, as pessoas são desiludidas e ressentidas.
Finbar tenta fugir dos olhares, mas não consegue, a começar pela visão do espectador. Ele não é um mero coitadinho, como adora o cinema independente americano. Ao contrário, é ríspido e trata mal as pessoas que tentam estabelecer contato de amizade com ele. Desde o primeiro momento em seu novo lar, não encontrará paz. Terá sua chance de redenção na figura de quatro pessoas igualmente solitárias.
Joe é uma dessas figuras. Extremamente falante, com um trailer de cachorros-quentes ao lado da estação, tenta aproximar-se de Finbar. Já Olivia é uma mulher deprimida pela morte do filho e por um casamento malsucedido.
Dinklage leva o filme inteiro nas costas. Sua interpretação tira força de um motivo simples: podemos concluir que o que vemos na tela é sua própria vida.
"O Agente" decai quando se conforma aos limites de um filme aborrecidamente dentro dos padrões da cinematografia da auto-ajuda. Finbar vai aos poucos abaixando suas defesas, abre a possibilidade para a amizade e o amor. Quando vê que pode colocar tudo a perder, tenta desesperadamente recuperar o tempo perdido. A essa altura, o olhar é enganado novamente. A pequena figura de Finbar vira mero detalhe. Passamos a enxergá-lo como um homem qualquer de estatura mediana. E o filme, como um drama bem-humorado qualquer.


O Agente da Estação
The Station Agent
   
Direção: Thomas McCarthy
Produção: EUA, 2003
Com: Peter Dinklage, Patricia Clarkson
Quando: a partir de hoje no Frei Caneca Unibanco Arteplex e Cineclube DirecTV



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