São Paulo, sexta-feira, 03 de setembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ERIKA PALOMINO

TÓQUIO RESUME SONHOS DOS FASHIONISTAS

Você já foi ao Japão? Então vá. É uma experiência de vida, de moda e de cultura jovem impressionantes. Tirei uns dias off e me joguei pra Tóquio, pela primeira vez. E sabe que a Sofia Coppola tem razão? Tive megainsônias, o jet lag mais selvagem da minha vida, que só passou no dia de voltar (seis dias depois) e dura até hoje. Meu corpo dói inteiro, não sei a que horas durmo, a que horas tomo meus remédios, a que horas sinto fome ou não. Assim, tudo aqui vai soar meio impressionista e impressionado, deslumbrado e delirante. Mas acho que é assim mesmo. Que me perdoe o leitor pela onda.
Fui atrás do fofo, do kawaii. E da nova maneira de editar as roupas. Fui para ficar de olhos bem abertos e tentar entender um pouco mais do mundo. Aprendi muito e voltei uma legítima garota de Harajuku, o bairro mais jovem e descolado de lá. Tudo o que você ouviu é verdade: as ruas não têm placas, é impossível andar, o inglês deles é incompreensível mesmo, as pessoas são educadérrimas. Peguei calor forte, chuva e vento de tufão. Parece São Paulo, lembra Nova York. Tive um surto de Hello Kitty, uma febre de Snoopy, um desejo de Prada. Tudo isso ao som de muita Bebel Gilberto ("Baby", histórica), Air ("Alone in Kyoto"), Beta Band, Carla Bruni, Colder ("One Night in Tokyo"), Phoenix, Queen of Japan ("Cool Cat"), Sacha Funke ("Forms and Shapes"), Primal Scream (tá rolando um momentinho deles) e Jimmy Smith.

COMO SE VESTIR FEITO OS JAPONESES
O novo jeito de vestir combina muitas camadas e sobreposições, a fluidez e o movimento dos tecidos, tudo solto, meio caído, meio jogado, com muita malha e algodões. A base são lingeries e topzinhos, sobre os quais entram cardigãs e casaquetes, mesmo sob o calor -que lembrava o abafado do Rio. Saias evasês são a forma oficial, e na região de Harajuku/ Omotesando as mules e os tênis All-Star são os calçados oficiais. As bolsas são em forma de melancia, grandonas e penduradas no ombro, ou estruturadas de alças curtas, penduradas no braço. E o estilo ladylike da moda atual é perfeito para as japonesas, de passos curtos e pés virados para dentro, andando devagar e com passos curtos, muitas vezes escoradas pelos rapazes. Nas unhas dos pés, o esmalte com glitter, em cores bizarras como prata e um verde medonho, da linha jovem da Shiseido. Bonés, bonés e bonés (e os japoneses são loucos por um chapéu). As calças são mais curtas ou sobre os sapatos, e tem uma nova versão de uma calça pós-cargo, com as laterais puxadas por fivelinhas. Sapatinhos de salto baixo têm obrigatoriamente frente pontuda. Ah, vale também calcanhar de propósito no tênis, transformando-o em chinelão. Muito iPod, guarda-chuva comprido usado sem esforço, sacolas, sempre. Nas lojas, nada de música eletrônica tocando, mas sempre hip hop ou anos 60, com muito girl group obscuro (entrei em tudo, e a única que tinha uma batidinha era a Head Porter, beeem anos 90). Lacostes e Fred Perrys estão em alta, Adidas também. Cangurus idem. O jeito de usar mochilas esportivas é com as alças soltas ao máximo, deixando cair para trás. Moda e expressão pessoal aqui são sinônimos. Quer saber? Eles arrasam, fiquei passada.

QUANDO A VIDA PARECE PERFEITA
A loja de que mais gostei foi a Comme des Garçons, em que vitrines e prateleiras se confundem, na fachada azul tecnológica e interior de labirinto branco. A Prada é mesmo um escândalo, um marco na história da arquitetura de moda, vale a viagem. Pisar em seus carpetes brancos é uma experiência sensorial. E acho que é a única loja do planeta da marca em que não fazem carão. Todo mundo te cumprimenta e é simpático, uma vendedora atravessou os andares da loja comigo para me mostrar as peças que só vendem no Japão e procurou até onde pôde o último perfume de flor de laranja da loja (o melhor dos quatro aromas da fragrância recém-lançada, já completamente esgotado, como os mini iPods). O projeto da Colette/ Comme des Garçons é uma galeria de arte, com dois andares e um sensacional iPod -desculpe, só penso nisso- preto. Uma das lojas mais incríveis é de fato a Bape (A Bathing Ape), o streetwear masculino mais sofisticado. Permita-se um ato de auto-indulgência e coma um doce (até eu comi!) da Yoku Moku de Minami Ayoama, a rua mais chique e silenciosa, uma missa de moda.
Tome saquê doce na sobremesa com jabuticaba, coma sashimi a qualquer hora, sente para tomar uma cerveja Yebisu numa tarde quente de segunda-feira. Nessas horas, a vida quase parece perfeita.

URU HARAJUKU É COMO DESFILE
Cheguei e fui direto pra Harajuku Station. É uma explosão de energia contagiante, que se estende pelos caminhos estreitos da Takeshita Dori, espécie de 25 de Março teen. O lugar que mais me impressionou foi Uru Harajuku, onde, sentada para observar o povo, fui tomando anotações e quando vi rabiscava tão freneticamente quanto quando vejo um desfile. Ali todos têm um look, e descubro que Tóquio é uma franja -lugar em que imagem é tudo, a obsessão é o cabelo.

na noite ilustrada...
O feriadón começa hoje com a noite do estilista Caio Gobbi Total Glam, no Ultra, com apresentação das top drags Marcelona, Léia Bastos, Veronika, Brenda e Raphaella. No D-Edge tem a noite Freak Chic com o produtor alemão Ali Scwarz; Christian Smith é a atração da Technova no Lov.e e toca com André Juliani, Noise e Renato Lopes; o DJ Puff toca na noite black da Heaven e Mr. Gil na noite Bandit no Pix; no Exxex rola a Defumadora, festa com Luca Lauri, Liana Padilha e Camila Kfouri. Quem quiser fazer um programa mais calmo, tem o bar Skye do hotel Unique, onde o DJ Jac Junior toca black, acid-jazz e easy listening até 1h. Amanhã tem a noite Anthro, das promoters Vivi Flacksbaum e Larissa com o dono do clube Ângelo Luezzi fazendo um set de anos 80; os DJs Doctor e Magal tocam na noite tecno do D-Edge e em seguida rola o after Paradise com Erik Caramelo, George Actv e Oscar Bueno no som. No domingo tem a noite Fufi Funk di Fino com o DJ Hum fazendo um mix de black e funk no Exxex; e no Atari tem a noite gótica Absolute Begginers com o DJ fofo Click. Na segunda, véspera de feriado tem a divertida On the Rocks no D-Edge com discotecagem de Ricardo Athayde e Adriano Cintra mais show do Love Box Music, com a Lovefoxxx no vocal. E na Blue Space, a drag Raphaella faz uma noite de shows especiais.


Texto Anterior: "Para Sempre na Minha Vida": Amor é a bandeira em filme político-juvenil
Próximo Texto: Música: Festival bica patriotismos e patriotadas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.