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Entusiasmado e constrangido, Rio assiste a "Garganta Profunda"
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Uma platéia que, em sua grande
maioria, não era nascida quando
Linda Lovelace fez história aplaudiu com entusiasmo o desempenho da estrela de "Garganta Profunda". Em cópia restaurada, o
mais famoso dos filmes pornográficos foi exibido na madrugada de sábado para uma lotada sala
2 do Espaço Unibanco de Cinema, no Festival do Rio. A película
de 1972 não será mais exibida,
mas ainda há chances de assistir a
"Entrando na Garganta Profunda", um documentário sobre ela.
"Esse filme devia ser obrigatório, todos deveriam ver. É um
clássico. Com "O Diabo na Carne
de Miss Jones" [do mesmo diretor,
Gérard Damiano], é o melhor
pornô da história. Hoje em dia, os
filmes só são funcionais, com
uma estética plastificada, não têm
mais história", exaltou a produtora Mariana Penedo, 26. Ela, que
disse já ter feito uma pesquisa sobre cinema pornô, estava vendo o
filme pela quinta vez.
Chamam a atenção, de fato, a
mancha roxa na coxa esquerda de
Lovelace, seus dentes imperfeitos,
seu cabelo desgrenhado, um perfil bem diferente da perfeição siliconada de hoje.
Ao contrário de Mariana Penedo, a cantora Olívia Byington viu
pela primeira vez. Estava empolgada porque, horas antes, também estreara como espectadora
de "O Encouraçado Potemkin"
(1925), de Sergei Eisenstein, um
dos maiores clássicos do cinema.
"Fico emocionada porque, durante a ditadura, não podíamos
ver um por motivos políticos e o
outro por motivos óbvios", disse
ela, que considerou "Garganta
Profunda" uma "grande comédia". "O filme já começa com a
nona sinfonia de Beethoven tocada num sintetizador. A música e
os diálogos são muito divertidos."
"Garganta" não é um filme que
o tempo tornou "trash". Ele já foi
feito assim, com trilha sonora irreverente, muitas falas cômicas e
um enredo insólito: mulher (Linda Lovelace) que não tem orgasmos, apesar das muitas tentativas,
vai a um psiquiatra (Harry
Reems), que descobre que o clitóris dela está na garganta.
O resultado do diagnóstico é
uma seqüência quase ininterrupta de cenas de sexo oral, nas quais
se pode constatar o porquê do título do filme. Embora o silêncio
da sala nas cenas mais fortes deixasse a impressão de um certo
-e compreensível- constrangimento, nenhuma das pessoas ouvidas pela Folha o assumiu.
"O filme é mais engraçado do
que excitante", disse Antônio
Nascimento, 25, psiquiatra como
o "herói" da trama.
A sessão foi acompanhada pelo
restaurador de "Garganta Profunda", o norte-americano Paul Interlandi, que vestia uma camisa
em homenagem ao clássico pornô. Linda Lovelace morreu em
2002, aos 53 anos, arrependida.
Entrando na Garganta Profunda
Direção: Fenton Bailey e Randy Barbato
Quando: últimas exibições na quarta, às 16h30 e às 21h30, no Palácio 1 (mais em www.festivaldorio.com.br)
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