São Paulo, segunda-feira, 03 de outubro de 2005

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Entusiasmado e constrangido, Rio assiste a "Garganta Profunda"

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Uma platéia que, em sua grande maioria, não era nascida quando Linda Lovelace fez história aplaudiu com entusiasmo o desempenho da estrela de "Garganta Profunda". Em cópia restaurada, o mais famoso dos filmes pornográficos foi exibido na madrugada de sábado para uma lotada sala 2 do Espaço Unibanco de Cinema, no Festival do Rio. A película de 1972 não será mais exibida, mas ainda há chances de assistir a "Entrando na Garganta Profunda", um documentário sobre ela.
"Esse filme devia ser obrigatório, todos deveriam ver. É um clássico. Com "O Diabo na Carne de Miss Jones" [do mesmo diretor, Gérard Damiano], é o melhor pornô da história. Hoje em dia, os filmes só são funcionais, com uma estética plastificada, não têm mais história", exaltou a produtora Mariana Penedo, 26. Ela, que disse já ter feito uma pesquisa sobre cinema pornô, estava vendo o filme pela quinta vez.
Chamam a atenção, de fato, a mancha roxa na coxa esquerda de Lovelace, seus dentes imperfeitos, seu cabelo desgrenhado, um perfil bem diferente da perfeição siliconada de hoje.
Ao contrário de Mariana Penedo, a cantora Olívia Byington viu pela primeira vez. Estava empolgada porque, horas antes, também estreara como espectadora de "O Encouraçado Potemkin" (1925), de Sergei Eisenstein, um dos maiores clássicos do cinema.
"Fico emocionada porque, durante a ditadura, não podíamos ver um por motivos políticos e o outro por motivos óbvios", disse ela, que considerou "Garganta Profunda" uma "grande comédia". "O filme já começa com a nona sinfonia de Beethoven tocada num sintetizador. A música e os diálogos são muito divertidos."
"Garganta" não é um filme que o tempo tornou "trash". Ele já foi feito assim, com trilha sonora irreverente, muitas falas cômicas e um enredo insólito: mulher (Linda Lovelace) que não tem orgasmos, apesar das muitas tentativas, vai a um psiquiatra (Harry Reems), que descobre que o clitóris dela está na garganta.
O resultado do diagnóstico é uma seqüência quase ininterrupta de cenas de sexo oral, nas quais se pode constatar o porquê do título do filme. Embora o silêncio da sala nas cenas mais fortes deixasse a impressão de um certo -e compreensível- constrangimento, nenhuma das pessoas ouvidas pela Folha o assumiu.
"O filme é mais engraçado do que excitante", disse Antônio Nascimento, 25, psiquiatra como o "herói" da trama.
A sessão foi acompanhada pelo restaurador de "Garganta Profunda", o norte-americano Paul Interlandi, que vestia uma camisa em homenagem ao clássico pornô. Linda Lovelace morreu em 2002, aos 53 anos, arrependida.


Entrando na Garganta Profunda
Direção: Fenton Bailey e Randy Barbato
Quando: últimas exibições na quarta, às 16h30 e às 21h30, no Palácio 1 (mais em www.festivaldorio.com.br)


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