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CD é interessante quando se "abrasileira'
da Reportagem Local
Quando promoveu uma batucada -em agosto passado, no Video
Music Brasil, da MTV- com sambistas de tradição, Marcelo D2
concretizou o que já vinha prometendo para seu CD solo: samba e
rap em doses iguais. A mistura
soou inusitada, inovadora.
"Eu Tiro É Onda", gravado antes
do episódio, é menos ousado. Balança algo como 90% de rap e 10%
de samba e perde a oportunidade
de revolver formatos, detendo-se
às vezes em rap ortodoxo, à moda
dos branquelos Beastie Boys.
Fica mais interessante à medida
que se "abrasileira". A opção pelo
universo da velhíssima bossa nova
resvala numa possível nova -e
curiosa- modalidade, a do acid
jazz à brasileira.
Assim, "Samba de Primeira" é o
achado do CD, com sample de
"Tim Dom Dom" (João Mello-Codo) executada pelo brasileiro fajuto Sérgio Mendes e seu Brazil 66.
Aí se evidencia tudo que há de fake em Sérgio Mendes ser brasileiro, em rap ser brasileiro, em Marcelo D2 ser "colonizado". Tudo se
une e se molda pelo kitsch, pela
inalienável cafonice tropical.
O mesmo acontece em "Batucada", em que As Gatas enobrecem
um excerto de "A Batucada dos
Nossos Tantãs", do Fundo de
Quintal. E nas várias citações à fase
"racional" de Tim Maia ("Fazendo
Efeito" sampleia "Rational Culture"), o menos (e mais) brasileiro
dos pop stars brasileiros.
E no coice nas baixarias de "molhar biscoito" que infestam o pop
natal. E na inclusão de diálogos do
filme "O Bandido da Luz Vermelha" (68), de Rogério Sganzerla, em
"Baseado em Fatos Reais", quando
D2 destila sua mágoa com a polícia
nativa, assumindo para si epíteto
("jovem criminoso subdesenvolvido") destinado a Luz Vermelha
-personagem real tombado com
o concurso do caos institucional
nacional. É, até que é bastante.
Onde D2 se mostra mais frágil é
na insistência -herança do que há
de indigente no rap norte-americano- em se autovangloriar. Pode ser tiração de onda, mas cansa a
recorrência de bravatas do tipo "o
melhor do hip hop desde 1967".
Unida ao orgulho pelo desconhecimento de música, a gabolice trai
um traço do atual pop nacional,
capaz de unir numa canoa só opostos tão opostos quanto Carlinhos
Brown e Racionais MC's, tanto
quanto o próprio D2: o culto à preguiça em estudar -no limite, à ignorância. Assim o Brasil desce de
enxurrada ao quarto mundo.
Mas, bem, D2 e seu "Eu Tiro É
Onda" não celebram a ignorância,
afinal. Há muito a favor: o respeito
aos ancestrais musicais, o confronto esperto entre tradição e "modernidade", a crítica social, o cuidado extremo de produção. Bem
no meio do caminho, D2 tem estrada pela frente.
(PAS)
˛
Disco: Eu Tiro É Onda
Artista: Marcelo D2
Lançamento: Chaos/Sony
Quanto: R$ 18, em média
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