São Paulo, sábado, 3 de outubro de 1998

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MÚSICA ELETROACÚSTICA
Brasil sedia a Bienal para os ouvintes

O compositor Flo Menezes, 36, no Studio PANaroma em São Paulo, organizador da Bienal Internacional de Música Eletroacústica de São Paulo RAFAEL VOGT MAIA ROSA
free-lance para a Folha

É difícil para uma nova música criar raízes em um país que tem no folclore e na música popular sua referência cultural mais forte.
Ainda mais quando se encontra a origem dessa corrente musical em laboratórios sofisticados da Europa do pós-guerra, em um contexto no qual a composição tradicional ou mesmo as inovações musicais do início do século haviam sido exploradas ao extremo por grandes compositores, como Igor Stravinsky, Arnold Schoenberg, Alban Berg, Béla Bártok, entre outros.
Talvez tenha sido esse esgotamento o principal impulso para a criação da música eletroacústica, que hoje, com uma história de 50 anos, é o principal ramo da composição contemporânea.
É acreditando na universalidade e na carência dessa música para a cultura brasileira que acontece, do dia 8 ao dia 17 deste mês, a segunda edição da Bimesp (Bienal Internacional de Música Eletroacústica de São Paulo), promovida em conjunto pela Fasm (Faculdade Santa Marcelina), Unesp (Universidade Estadual Paulista) e o Studio PANaroma.
A princípio, o maior contraste entre um concerto de música erudita convencional e um concerto de música eletroacústica é a ausência do instrumentista ou mesmo da orquestra e do maestro.
Todas as peças dos nove dias de concertos da Bimesp serão difundidas por suporte tecnológico: alto-falantes distribuídos pelo auditório. A luz da sala de concerto é rebaixada ao máximo para que nada interfira no contato do público com o som.
A técnica chegou a ser criticada porque abstraía o ouvinte de estímulos visuais, movimentos que complementam uma apresentação musical, substituindo-os por um palco vazio. Mas o foco não está exatamente no tablado.
Com o tempo, aumentou-se o número de alto-falantes, de modo que o som literalmente corresse por todo o espaço da sala de concertos criando uma intensa ilusão de movimento.
Hoje, as audições feitas com gravações e fita magnética são comuns na Europa, nos EUA e Canadá. No Brasil, há um pequeno público formado por eventos raros como o "Festival de Música Nova", que existe desde a década de 60.
˛ Painéis
Na tentativa de deixar clara a evolução da música eletroacústica no últimos 50 anos, a Bimesp será dividida em painéis que abrangem desde o princípio da música eletrônica, com peças da década de 50, do alemão Herbert Heimer, o italiano Bruno Maderna e Iannis Xenakis, entre outros, até a estréia de compositores brasileiros, como Sérgio Kafejian e Antônio Ribeiro, que apresenta obra para violão e fita magnética.
Quem for aos concertos vai poder entrar em contato com o desenvolvimento gradual da eletroacústica, que surgiu pela fusão de várias tendências -como a música concreta, eletrônica e o serialismo-, e entender em que circunstâncias ela chegou ao Brasil -representado por 22 compositores de vários Estados.
O painel da personagem homenageia os 70 anos de Karheinz Stockhausen (1926), provavelmente o maior nome da música contemporânea, e o brasileiro Jorge Antunes, pioneiro da música eletrônica no país.
As versões inéditas das peças "Kontakte" (1959-60) e "Oktophonie" (1990-91), de Stockhausen, foram cedidas pessoalmente pelo compositor para a Bienal.
A importância do processo de gravação na produção da música eletroacústica será evidenciada na escolha de grandes estúdios para uma mostragem das obras neles produzidas. Nesta edição, será o GMR (França), o Invisiblerats (Escócia) e o PANaroma (São Paulo), principal núcleo de composição eletroacústica da América Latina. ˛
Evento: Bienal Internacional de Música Eletroacústica de São Paulo
Onde: Auditório da Faculdade Santa Marcelina (r. Emílio Ribas, 89, Perdizes, SP, tel. 011/826-9700, r. 226)
Quando: de 8 a 17 de outubro, às 20h
Quanto: entrada franca



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