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MÚSICA ELETROACÚSTICA
Brasil sedia a Bienal para os ouvintes
O compositor Flo Menezes, 36, no Studio PANaroma em São Paulo, organizador da Bienal Internacional de Música Eletroacústica de
São Paulo
RAFAEL VOGT MAIA ROSA
free-lance para a Folha
É difícil para uma nova música
criar raízes em um país que tem no
folclore e na música popular sua
referência cultural mais forte.
Ainda mais quando se encontra a
origem dessa corrente musical em
laboratórios sofisticados da Europa do pós-guerra, em um contexto
no qual a composição tradicional
ou mesmo as inovações musicais
do início do século haviam sido exploradas ao extremo por grandes
compositores, como Igor Stravinsky, Arnold Schoenberg, Alban
Berg, Béla Bártok, entre outros.
Talvez tenha sido esse esgotamento o principal impulso para a
criação da música eletroacústica,
que hoje, com uma história de 50
anos, é o principal ramo da composição contemporânea.
É acreditando na universalidade
e na carência dessa música para a
cultura brasileira que acontece, do
dia 8 ao dia 17 deste mês, a segunda
edição da Bimesp (Bienal Internacional de Música Eletroacústica de
São Paulo), promovida em conjunto pela Fasm (Faculdade Santa
Marcelina), Unesp (Universidade
Estadual Paulista) e o Studio PANaroma.
A princípio, o maior contraste
entre um concerto de música erudita convencional e um concerto
de música eletroacústica é a ausência do instrumentista ou mesmo
da orquestra e do maestro.
Todas as peças dos nove dias de
concertos da Bimesp serão difundidas por suporte tecnológico: alto-falantes distribuídos pelo auditório. A luz da sala de concerto é
rebaixada ao máximo para que nada interfira no contato do público
com o som.
A técnica chegou a ser criticada
porque abstraía o ouvinte de estímulos visuais, movimentos que
complementam uma apresentação
musical, substituindo-os por um
palco vazio. Mas o foco não está
exatamente no tablado.
Com o tempo, aumentou-se o
número de alto-falantes, de modo
que o som literalmente corresse
por todo o espaço da sala de concertos criando uma intensa ilusão
de movimento.
Hoje, as audições feitas com gravações e fita magnética são comuns na Europa, nos EUA e Canadá. No Brasil, há um pequeno público formado por eventos raros
como o "Festival de Música Nova",
que existe desde a década de 60.
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Painéis
Na tentativa de deixar clara a
evolução da música eletroacústica
no últimos 50 anos, a Bimesp será
dividida em painéis que abrangem
desde o princípio da música eletrônica, com peças da década de 50,
do alemão Herbert Heimer, o italiano Bruno Maderna e Iannis Xenakis, entre outros, até a estréia de
compositores brasileiros, como
Sérgio Kafejian e Antônio Ribeiro,
que apresenta obra para violão e fita magnética.
Quem for aos concertos vai poder entrar em contato com o desenvolvimento gradual da eletroacústica, que surgiu pela fusão de
várias tendências -como a música concreta, eletrônica e o serialismo-, e entender em que circunstâncias ela chegou ao Brasil -representado por 22 compositores
de vários Estados.
O painel da personagem homenageia os 70 anos de Karheinz
Stockhausen (1926), provavelmente o maior nome da música contemporânea, e o brasileiro Jorge
Antunes, pioneiro da música eletrônica no país.
As versões inéditas das peças
"Kontakte" (1959-60) e "Oktophonie" (1990-91), de Stockhausen, foram cedidas pessoalmente pelo
compositor para a Bienal.
A importância do processo de
gravação na produção da música
eletroacústica será evidenciada na
escolha de grandes estúdios para
uma mostragem das obras neles
produzidas. Nesta edição, será o
GMR (França), o Invisiblerats (Escócia) e o PANaroma (São Paulo),
principal núcleo de composição
eletroacústica da América Latina.
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Evento: Bienal Internacional de Música
Eletroacústica de São Paulo
Onde: Auditório da Faculdade Santa
Marcelina (r. Emílio Ribas, 89, Perdizes, SP,
tel. 011/826-9700, r. 226)
Quando: de 8 a 17 de outubro, às 20h
Quanto: entrada franca
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