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33ª MOSTRA DE SP
"Dzi Croquettes" segue trupe anárquica do Rio
Documentário premiado tem última exibição hoje
FERNANDA EZABELLA
DA REPORTAGEM LOCAL
Cerca de dez homens travestidos de mulher dublam divas e
dançam de sunga, batendo histericamente enormes asas de
tecido. Para completar, muita
purpurina. Era início dos anos
70, em plena ditadura, e o Rio
via nascer a primeira grande
manifestação gay no país e um
dos percussores do teatro besteirol, o Dzi Croquettes.
"Virou um movimento, uma
religião, as pessoas se vestiam
como os Dzi Croquettes, não
perdiam um espetáculo", diz
Tatiana Issa, que divide com
Raphael Alvarez a direção do
documentário sobre a trupe,
em cartaz na mostra após ganhar prêmio do júri e voto popular no Festival do Rio.
Tatiana, que mora em Nova
York há sete anos, ficou famosa
como atriz de TV, na minissérie
"Hilda Furacão". "Resolvi fazer
esse filme porque percebi que
as novas gerações não tinham
ideia de quem era os Dzi", diz a
diretora, 35, filha de Américo
Issa, cenógrafo do grupo. "Fui
meio que criada nos bastidores,
morei com parte deles em Paris, entre 1976 e 78; eu dormia
nas coxias."
O grupo começou como uma
peça de teatro escrita por Wagner Ribeiro, líder dos Dzi, e ganhou ares profissionais com a
chegada do bailarino americano Lennie Dale, garoto-problema da Broadway que, morando
no Rio, influenciou Elis Regina
e outros da bossa nova com
suas coreografias. O núcleo original se desfez em meados dos
70, e hoje apenas cinco dos 13
integrantes estão vivos -metade morreu de Aids.
Mistura de cabaré com monólogos de humor, os atores-dançarinos do Dzi fizeram a estreia na boate de Carlos Miele
no Rio, mas acabaram censurados pela ditadura, o que não os
impediu de continuar mais tarde e ainda virar influência de
Secos e Molhados, Frenéticas e
outros grupos internacionais.
São quase duas horas de documentário, embaladas por
histórias saborosas do grupo,
como a primeira viagem à Europa, com duas toneladas de
equipamento e três quilos de
maconha. Para passar livre pelas autoridades portuárias em
Portugal, os Dzi foram convocados a improvisar um show.
Entre os diversos ilustres entrevistados, como Marília Pêra
e Ney Matogrosso, está a cantora americana Liza Minnelli,
que diz que se apaixonou pelo
Brasil por causa dos Dzi.
Se foi fácil recrutar famosos
para destilar elogios aos Dzi, difícil mesmo foi descobrir imagens do grupo em ação. As únicas encontradas estavam numa
TV alemã, que tinha gravações
de um espetáculo realizado em
Paris, em 1973.
O documentário é coproduzido pelo Canal Brasil, responsável por outro documentário
premiado, "Loki", sobre o ex-Mutante Arnaldo Baptista.
DZI CROQUETTES
Quando: hoje, às 14h,
no Cine Bombril
Classificação: 14 anos
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