São Paulo, terça-feira, 03 de novembro de 2009

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33ª MOSTRA DE SP

"Dzi Croquettes" segue trupe anárquica do Rio

Documentário premiado tem última exibição hoje

FERNANDA EZABELLA
DA REPORTAGEM LOCAL

Cerca de dez homens travestidos de mulher dublam divas e dançam de sunga, batendo histericamente enormes asas de tecido. Para completar, muita purpurina. Era início dos anos 70, em plena ditadura, e o Rio via nascer a primeira grande manifestação gay no país e um dos percussores do teatro besteirol, o Dzi Croquettes.
"Virou um movimento, uma religião, as pessoas se vestiam como os Dzi Croquettes, não perdiam um espetáculo", diz Tatiana Issa, que divide com Raphael Alvarez a direção do documentário sobre a trupe, em cartaz na mostra após ganhar prêmio do júri e voto popular no Festival do Rio.
Tatiana, que mora em Nova York há sete anos, ficou famosa como atriz de TV, na minissérie "Hilda Furacão". "Resolvi fazer esse filme porque percebi que as novas gerações não tinham ideia de quem era os Dzi", diz a diretora, 35, filha de Américo Issa, cenógrafo do grupo. "Fui meio que criada nos bastidores, morei com parte deles em Paris, entre 1976 e 78; eu dormia nas coxias."
O grupo começou como uma peça de teatro escrita por Wagner Ribeiro, líder dos Dzi, e ganhou ares profissionais com a chegada do bailarino americano Lennie Dale, garoto-problema da Broadway que, morando no Rio, influenciou Elis Regina e outros da bossa nova com suas coreografias. O núcleo original se desfez em meados dos 70, e hoje apenas cinco dos 13 integrantes estão vivos -metade morreu de Aids.
Mistura de cabaré com monólogos de humor, os atores-dançarinos do Dzi fizeram a estreia na boate de Carlos Miele no Rio, mas acabaram censurados pela ditadura, o que não os impediu de continuar mais tarde e ainda virar influência de Secos e Molhados, Frenéticas e outros grupos internacionais.
São quase duas horas de documentário, embaladas por histórias saborosas do grupo, como a primeira viagem à Europa, com duas toneladas de equipamento e três quilos de maconha. Para passar livre pelas autoridades portuárias em Portugal, os Dzi foram convocados a improvisar um show.
Entre os diversos ilustres entrevistados, como Marília Pêra e Ney Matogrosso, está a cantora americana Liza Minnelli, que diz que se apaixonou pelo Brasil por causa dos Dzi.
Se foi fácil recrutar famosos para destilar elogios aos Dzi, difícil mesmo foi descobrir imagens do grupo em ação. As únicas encontradas estavam numa TV alemã, que tinha gravações de um espetáculo realizado em Paris, em 1973.
O documentário é coproduzido pelo Canal Brasil, responsável por outro documentário premiado, "Loki", sobre o ex-Mutante Arnaldo Baptista.


DZI CROQUETTES
Quando:
hoje, às 14h, no Cine Bombril
Classificação: 14 anos



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