São Paulo, Sexta-feira, 03 de Dezembro de 1999


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TRILHA SONORA - CRÍTICA
Composições para o filme são retratos sonoros

CARLOS BOZZO JUNIOR
especial para a Folha


Há pouco que o mercado brasileiro valoriza trilhas feitas no país, lançando-as em CD.
O questionamento sobre a música funcional gera inúmeras polêmicas. Afinal, ela deve ou não ser considerada uma arte maior? Vale, então, lembrar as sábias palavras do maestro Koellreutter, que profetizam o futuro da música erudita: ela será funcional, complementando filmes, balés, vídeos ou peças para teatro.
Assim, uma boa trilha, como a produzida, composta e arranjada por João Nabuco para "Os Carvoeiros", apresenta uma alta qualidade musical, e ganha, mesmo quando apartada do filme, autonomia para ser apreciada e deixar livre para o ouvinte o ato de criar suas próprias imagens.
É comum que CDs de trilhas sejam recheados de vários efeitos, muitos músicos e pouca música; este, no entanto, foge à regra. Além de Nabuco nos violões e teclados, há Paulo Moura tocando clarinete, Márcio Malard, violoncelo; Mário Séve, flautista do grupo Nó em Pingo D'água, Marcos Suzano e Jovi, na percussão, e, incorporando o instrumento ao nome, Paulinho Trumpete.
Ao todo, são dez faixas, 29 minutos e 40 segundos de uma sonoridade única, que permeia o clássico e o popular com bom gosto. Às vezes, tal sonoridade remete a músicas de Ryuichi Sakamoto, principalmente as executadas pelo violoncelo de Jacques Morelenbaum no CD "1996".
"Céu Vermelho", a primeira do CD, é uma delas, mas "Baião de Bola", a segunda, ocidentaliza imediatamente a atmosfera, por meio do som da percussão de Marcos Suzano, além do clarinete afinadíssimo de Paulo Moura.
Colagens de vozes de carvoeiros fazem a ponte para uma forte e cadenciada percussão que inicia "Derrubada", fazendo com que triângulos, vozes, atabaques e um escapamento, constituam um caos sonoro, que culmina nos harmônicos iniciais de "Saudade". Mais uma à la Sakamoto.
Aqui, a captação é perfeita, a ponto de quase se enxergar os movimentos dos músicos. Os dedos do violonista correm pelo braço do violão, trastejando suavemente as cordas, enquanto as arcadas do violoncelista traçam, talvez, a verdadeira imagem da saudade. O breu passado na crina do arco para friccionar as cordas deixa uma marca sobre elas, que, com o tempo, some, se dispersando no ar em minúsculas nuvens de poeira branca. Outras seis músicas sugerem muito mais. Compre, ouça e veja.


Avaliação:     

Disco: trilha sonora de "Os Carvoeiros" Lançamento: Sony Quanto: R$ 20, em média

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