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TRILHA SONORA - CRÍTICA
Composições para o filme são retratos sonoros
CARLOS BOZZO JUNIOR
especial para a Folha
Há pouco que
o mercado brasileiro valoriza
trilhas feitas no
país, lançando-as em CD.
O questionamento sobre a música funcional gera inúmeras polêmicas. Afinal, ela deve ou não
ser considerada uma arte maior?
Vale, então, lembrar as sábias palavras do maestro Koellreutter,
que profetizam o futuro da música erudita: ela será funcional,
complementando filmes, balés,
vídeos ou peças para teatro.
Assim, uma boa trilha, como a
produzida, composta e arranjada
por João Nabuco para "Os Carvoeiros", apresenta uma alta qualidade musical, e ganha, mesmo
quando apartada do filme, autonomia para ser apreciada e deixar
livre para o ouvinte o ato de criar
suas próprias imagens.
É comum que CDs de trilhas sejam recheados de vários efeitos,
muitos músicos e pouca música;
este, no entanto, foge à regra.
Além de Nabuco nos violões e teclados, há Paulo Moura tocando
clarinete, Márcio Malard, violoncelo; Mário Séve, flautista do grupo Nó em Pingo D'água, Marcos
Suzano e Jovi, na percussão, e, incorporando o instrumento ao nome, Paulinho Trumpete.
Ao todo, são dez faixas, 29 minutos e 40 segundos de uma sonoridade única, que permeia o
clássico e o popular com bom
gosto. Às vezes, tal sonoridade remete a músicas de Ryuichi Sakamoto, principalmente as executadas pelo violoncelo de Jacques
Morelenbaum no CD "1996".
"Céu Vermelho", a primeira do
CD, é uma delas, mas "Baião de
Bola", a segunda, ocidentaliza
imediatamente a atmosfera, por
meio do som da percussão de
Marcos Suzano, além do clarinete
afinadíssimo de Paulo Moura.
Colagens de vozes de carvoeiros
fazem a ponte para uma forte e
cadenciada percussão que inicia
"Derrubada", fazendo com que
triângulos, vozes, atabaques e um
escapamento, constituam um
caos sonoro, que culmina nos
harmônicos iniciais de "Saudade". Mais uma à la Sakamoto.
Aqui, a captação é perfeita, a
ponto de quase se enxergar os
movimentos dos músicos. Os dedos do violonista correm pelo
braço do violão, trastejando suavemente as cordas, enquanto as
arcadas do violoncelista traçam,
talvez, a verdadeira imagem da
saudade. O breu passado na crina
do arco para friccionar as cordas
deixa uma marca sobre elas, que,
com o tempo, some, se dispersando no ar em minúsculas nuvens
de poeira branca. Outras seis músicas sugerem muito mais. Compre, ouça e veja.
Avaliação:
Disco: trilha sonora de "Os Carvoeiros"
Lançamento: Sony
Quanto: R$ 20, em média
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