VAGUINALDO MARINHEIRO
Editor de Cotidiano/São Paulo

Comédias românticas com personagens inverossímeis, encontros e desencontros e final óbvio e feliz são mais comuns que medidas provisórias do governo Fernando Henrique. Mas "Mero Acaso", mesmo tendo todas essas características, merece ser visto por pelo menos três razões.
1- Monica Potter, a mocinha do filme, tem os tiques e a graça de uma Julia Roberts jovem e loira.
2- Londres poucas vezes foi vista tão bonita no cinema.
3- É possível dar boas e irracionais risadas com piadas sobre psicanálise, restaurante caro por ser fashion e sobre pretensos admiradores de arte.
Vamos à narrativa: "Mero Acaso", que originalmente se chama Martha, conheça Frank, Daniel e Laurence, conta a história desses quatro personagens, que formam um losango amoroso.
Martha é uma americana do interior que, cansada da rotina de empregos vagabundos, resolve mudar de vida. Para isso, compra a passagem mais barata para o exterior. O destino, Londres. No bolso, pouco mais de US$ 30.
Já no aeroporto ela encontra Daniel, um executivo da indústria fonográfica que tem muito dinheiro e muitas mulheres.
Daniel se apaixona à primeira vista, mas ela "se perde" dele logo após chegar a Londres.
No aeroporto inglês ela encontra Laurence (Joseph Fiennes, de "Shakespeare Apaixonado"), um tipo caladão que ensina senhoras de meia-idade a jogar "bridge".
Dessa vez, ela se apaixona por ele, que se apaixona por ela. Mas os dois também se separam.
Por fim, Martha encontra Frank, um ator fracassado, em um parque. Mais uma vez, ele se apaixona por ela, e ela foge dele.
O que amarra todas essas histórias é que os três são amigos desde a infância, e há uma grande disputa, principalmente em se tratando de mulheres, entre o bem-sucedido Daniel e o fracassado Frank.
Pequenas confusões, até que ela descobre que os três são amigos e até que eles percebam que estão apaixonados pela mesma mulher, garantem o restante do filme, que não tem outra pretensão além de divertir.
Há apenas pequenas pinceladas de críticas à nossa sociedade, movida por aparências. Afinal, Daniel comprou uma tonelada de livros usados para sua casa, só para parecer que já os leu.
Frank, por outro lado, tem uma tese de que as pessoas só frequentam museus e galerias de arte para encontrar parceiros sexuais.
Falando em aparências, esse não é um filme que rende frases para comentar em restaurantes fashions como o do filme. Também não há "tomadas revolucionárias" que impulsionam os chatos a tagarelar na saída do cinema.
"Mero Acaso" é fruição, e só.

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