São Paulo, quinta, 3 de dezembro de 1998

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CINEMA
Diretor de "Kurt & Courtney" participa de mostra em Amsterdã
"Foi Courtney Love que se fez de vilã", diz Nick Broomfield

AMIR LABAKI
enviado especial a Amsterdã

O documentarista britânico Nick Broomfield é mais um bom entrevistador que odeia dar entrevistas. O incansável caçador de celebridades não é presa fácil. A questão de temperamento combinou-se neste ano à explosão de sua própria fama, com o veto à projeção no Sundance Festival de "Kurt & Courtney", o polêmico filme que investiga o envolvimento da cantora e atriz Courtney Love na morte de seu então marido, Kurt Cobain, o líder da banda Nirvana.
"Kurt & Courtney" participou da mostra competitiva da 11º edição do Festival Internacional de Documentário de Amsterdã. Não surpreendeu ninguém que todas as sessões estivessem abarrotadas. Num intervalo entre projeções, a Folha conseguiu fisgar o arisco Broomfield para a seguinte entrevista exclusiva.

Folha - Qual a diferença entre a versão de "Kurt & Courtney" que está sendo exibida em festivais e aquela que a BBC levou ao ar recentemente?
Nick Broomfield -
Por razões de ritmo há um maior uso de música na versão da TV. Além disso, como a legislação britânica referente a calúnia e difamação é mais rigorosa, tive que cortar alguns depoimentos. Tirei trechos das entrevistas com El Duce (um punk que afirmava que Courtney ofereceu-lhe dinheiro para matar Kurt), com o advogado Tom Grant e com o ex-namorado de Love. O resultado é um filme diferente.
Folha - Como você responde à crítica de ter sido tendencioso ao não incluir nenhum depoimento favorável a Courtney Love?
Broomfield -
Não encontrei ninguém que tivesse algo bom para dizer sobre ela. E, garanto, tentei. Acho que Courtney derrota a si própria no filme. Não comecei a disputa. Não queria fazer inicialmente um filme que passasse uma imagem negativa dela. Pelo contrário, gostava dela, queria entrevistá-la e pretendia que ela fosse a protagonista do filme. Sinto muito o que aconteceu. Foi tudo ela: ela tentando parar o filme, cortar meus financiamentos, evitar a exibição. Ela se fez de vilã.
Folha - Por que não foi adiante seu projeto de filme sobre a princesa Diana?
Broomfield -
Interessei-me pela história no tempo do divórcio de Charles e Diana. Achava que era como uma peça de Shakespeare em pleno século 20, com aquela guerra entre facções em torno da coroa. Quando a encontrei, perguntei se ela usaria um câmera Hi-8 todo o tempo durante alguns dias. Ela respondeu: "Mas tudo que faço, mesmo de mais privado, já se torna público em cinco minutos!". Ao noticiarem nosso encontro, perdi o interesse e abandonei a idéia.
Folha - Como está seu projeto de um filme sobre Cuba?
Broomfield -
Quero fazer um documentário sobre Fidel Castro. O problema é descobrir como obter uma entrevista com ele. Penso em talvez organizar uma mostra de meus filmes em Havana e conquistar gente da comunidade cubana que possa facilitar-me o acesso. Ouço sempre histórias de pessoas em Havana que esperam meses por Fidel. Não quero ficar dois ou três meses em Havana e não conseguir nada. E já existe um filme brilhante sobre essa espera, "Waiting for Fidel" (Esperando por Fidel), de Mike Rupo.



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