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CINEMA
Filme de Hector Babenco, que será exibido em 12 salas, desperta orgulho e ressentimento em seu país de origem
"Coração Iluminado' estréia na Argentina
MAURÍCIO SANTANA DIAS
de Buenos Aires
A estréia argentina de "Coração
Iluminado", novo trabalho do diretor Hector Babenco, está agitando os meios cinematográficos locais. A partir de hoje, o filme poderá ser visto nos principais cinemas
de Buenos Aires.
Essa foi a primeira vez que Babenco rodou um filme em seu país
de origem -mais, em sua cidade
natal, Mar del Plata-, e isso desperta sentimentos contraditórios
entre os argentinos.
Muitos se sentem lisonjeados de
ver o país mais uma vez projetado
nas telas de cinema; outros guardam ainda um certo ressentimento
pelo fato de Babenco ter "trocado"
a Argentina pelo Brasil, país onde
se naturalizou.
De qualquer modo, "Coração
Iluminado" entra no circuito comercial argentino com toda a força. O filme será exibido em 12 salas
de Buenos Aires, segundo dados
da distribuidora Columbia.
Além disso, desde o início da semana, "Coração Iluminado" tem
merecido destaque na imprensa
argentina, com artigos e entrevistas publicados pelos principais jornais: "Clarín", "La Nación" e "Pagina 12".
²
Desconfianças
Mas nem tudo são flores no caminho de "Coração Iluminado",
uma co-produção Brasil-França-Argentina que custou US$ 9 milhões. Antes mesmo de estrear,
fontes ligadas ao cinema argentino
já criticavam Babenco e seu novo
filme.
Comenta-se, por exemplo, que a
opção por filmar na Argentina,
com atores argentinos e brasileiros, não teria sido uma escolha de
Babenco, mas estaria ligada à "má
fase" do diretor em Hollywood
-que, depois do fracasso de bilheteria da superprodução "Brincando nos Campos do Senhor", teria
perdido espaço na meca do cinema
norte-americano.
Isso explicaria, entre outras coisas, a mudança do elenco de "Coração Iluminado", inicialmente
previsto para ser estrelado por
Nastassja Kinski e Willem Dafoe.
Babenco, que veio a Buenos Aires para o lançamento do filme,
passa ao largo dessas questões. Diz
que o projeto nasceu de uma demanda absolutamente pessoal,
que foi feito como se se tratasse de
um testamento (o diretor estava
lutando contra o câncer quando
começou a elaborar "Coração Iluminado").
As críticas são recebidas com
bom humor: "O argentino é uma
pessoa que se queixa desde que
nasce; deixei de me queixar há
tempos, porque esse não é um sentimento construtivo", comentou
entre sorrisos o diretor de "Pixote", em conversa que teve com a
Folha.
Indagado por que "Coração Iluminado" não foi exibido no Festival Internacional de Cinema de
Mar del Plata, realizado no mês
passado, Babenco disparou: "O
festival tem um modelo anacrônico; não quis participar dele porque
é uma patetada, feito para tirar fotos com (o presidente) Carlos Menem".
A despeito das desconfianças e
dos conflitos, Babenco aponta para uma reconciliação: "Coração
Iluminado' é a minha "educação
sentimental', um resgate de meu
momento como argentino", confessa o diretor.
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