São Paulo, quinta, 3 de dezembro de 1998

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CINEMA
Filme de Hector Babenco, que será exibido em 12 salas, desperta orgulho e ressentimento em seu país de origem
"Coração Iluminado' estréia na Argentina

MAURÍCIO SANTANA DIAS
de Buenos Aires

A estréia argentina de "Coração Iluminado", novo trabalho do diretor Hector Babenco, está agitando os meios cinematográficos locais. A partir de hoje, o filme poderá ser visto nos principais cinemas de Buenos Aires.
Essa foi a primeira vez que Babenco rodou um filme em seu país de origem -mais, em sua cidade natal, Mar del Plata-, e isso desperta sentimentos contraditórios entre os argentinos.
Muitos se sentem lisonjeados de ver o país mais uma vez projetado nas telas de cinema; outros guardam ainda um certo ressentimento pelo fato de Babenco ter "trocado" a Argentina pelo Brasil, país onde se naturalizou.
De qualquer modo, "Coração Iluminado" entra no circuito comercial argentino com toda a força. O filme será exibido em 12 salas de Buenos Aires, segundo dados da distribuidora Columbia.
Além disso, desde o início da semana, "Coração Iluminado" tem merecido destaque na imprensa argentina, com artigos e entrevistas publicados pelos principais jornais: "Clarín", "La Nación" e "Pagina 12".
² Desconfianças
Mas nem tudo são flores no caminho de "Coração Iluminado", uma co-produção Brasil-França-Argentina que custou US$ 9 milhões. Antes mesmo de estrear, fontes ligadas ao cinema argentino já criticavam Babenco e seu novo filme.
Comenta-se, por exemplo, que a opção por filmar na Argentina, com atores argentinos e brasileiros, não teria sido uma escolha de Babenco, mas estaria ligada à "má fase" do diretor em Hollywood -que, depois do fracasso de bilheteria da superprodução "Brincando nos Campos do Senhor", teria perdido espaço na meca do cinema norte-americano.
Isso explicaria, entre outras coisas, a mudança do elenco de "Coração Iluminado", inicialmente previsto para ser estrelado por Nastassja Kinski e Willem Dafoe.
Babenco, que veio a Buenos Aires para o lançamento do filme, passa ao largo dessas questões. Diz que o projeto nasceu de uma demanda absolutamente pessoal, que foi feito como se se tratasse de um testamento (o diretor estava lutando contra o câncer quando começou a elaborar "Coração Iluminado").
As críticas são recebidas com bom humor: "O argentino é uma pessoa que se queixa desde que nasce; deixei de me queixar há tempos, porque esse não é um sentimento construtivo", comentou entre sorrisos o diretor de "Pixote", em conversa que teve com a Folha.
Indagado por que "Coração Iluminado" não foi exibido no Festival Internacional de Cinema de Mar del Plata, realizado no mês passado, Babenco disparou: "O festival tem um modelo anacrônico; não quis participar dele porque é uma patetada, feito para tirar fotos com (o presidente) Carlos Menem".
A despeito das desconfianças e dos conflitos, Babenco aponta para uma reconciliação: "Coração Iluminado' é a minha "educação sentimental', um resgate de meu momento como argentino", confessa o diretor.



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