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Thomas Pynchon vive
anônimo em Manhattan
Revista ``New York'' descobre endereço do mais famoso recluso literário norte-americano cruzando dados pela Internet; o autor de
``Vineland'' e ``Gravity's Rainbow'' mora em meio aos 8 milhões de
habitantes de Nova York há seis anos e ainda não quer conversa
NANCY JO SALES
da ``New York''
Thomas Pynchon sai do edifício
onde mora, em Manhattan, usando jeans e sapatos confortáveis.
Parece muito mais velho do que
suas fotos, é claro -afinal, a última que alguém viu foi tirada em
1955, quando estava na Marinha.
Ele terá 60 anos em 1997; seu cabelo, que usa comprido, está grisalho; a barba e o bigode, brancos.
Parece que seus famosos dentes
tortos foram consertados. Usa
óculos. Seus olhos, que naquelas
poucas fotos tiradas anos atrás estavam na sombra, são azuis.
Thomas Pynchon caminha por
uma rua de Nova York em plena
luz do dia. Tem um ar cauteloso e
levemente excêntrico, dando a impressão de ser alguém com quem
seria divertido conversar -mas
ele não quer conversa, é claro.
Há seis anos, Thomas Pynchon,
o mais famoso recluso literário de
nossa era, vive abertamente numa
cidade de 8 milhões de habitantes e
passa despercebido. Pergunte às
pessoas que vivem no bairro de
Pynchon onde ele se esconde e você ouvirá respostas variadas.
Desde 1963, quando foi publicado o primeiro romance de Thomas
Pynchon, ``V.'', o escritor -considerado por muitos o mais importante romancista norte-americano
desde a 2¦ Guerra Mundial- se
transformou numa figura quase
mítica, uma espécie de cruzamento entre o Professor Aloprado
(aquele representado por Jerry Lewis) e Caine em ``Kung Fu''.
Já houve outras instâncias em
que Pynchon foi avistado, antes
desta, mas sempre abundaram
teorias malucas aventadas tanto
por fãs amalucados quanto por estudiosos sérios de sua obra.
Já foi dito que Thomas Pynchon
é, ``na realidade'', J.D. Salinger;
que atravessa o país de ônibus, espalhando pistas de sua identidade,
e até mesmo que ele já se fez passar
por uma mulher sem teto e de tendências literárias, que escreve cartas para um obscuro jornaleco do
norte da Califórnia.
Chegou a circular um boato
-objeto de acaloradas discussões
na Internet- dando conta de que
Pynchon seria o Unabomber (terrorista contra a tecnologia).
Nos anos 70, depois do lançamento do espantosamente brilhante e complexo ``Gravity's
Rainbow'' -possivelmente o menos lido dos livros de leitura obrigatória na história norte-americana-, Thomas Pynchon virou tema ``quente'' em termos de mídia.
Algo que é praticamente um subgênero da escola do novo jornalismo surgiu em torno dele.
Em 1990, quando saiu o mais recente dos livros de Pynchon, ``Vineland'', outra leva de artigos foi
publicada, todos especulando sobre onde se encontraria o chamado Homem Invisível.
A ``New York'' levou apenas dez
minutos para encontrar o endereço do escritor num serviço on line
de acesso aberto, que faz o cruzamento de números telefônicos e de
cartões de crédito.
Na introdução a ``Slow Learner'', livro com alguns de seus primeiros contos, Pynchon observou
que ``ingressamos recentemente
numa era em que (...) todos podem
compartilhar uma quantidade inconcebivelmente grande de informações, bastando para isso digitar
algumas teclas em um terminal''.
Com apenas alguns toques em
um teclado, a ``New York'' pôde
descobrir que o bairro onde Thomas Pynchon vive é próspero e
movimentado, com fácil acesso
pelo metrô. Próximo a seu edifício
há uma loja de departamentos de
preços baixos, uma loja de ``bagels'', uma igreja e uma quitanda.
O edifício em si é imponente,
mas suas paredes estão um pouco
sujas. Um porteiro de uniforme
amassado passa os dias sentado
numa cadeira dobrável na entrada
do edifício, observando a passagem dos transeuntes pela rua. Os
vizinhos de Pynchon são pessoas
de idades e raças diferentes.
O bairro é um exemplo de Nova
York em seus melhores aspectos:
tolerante, sã, vivível. É uma cidade
que quase consegue nos fazer crer
no mito americano mais amplo,
aquele do qual Pynchon, em sua
ficção, nos aconselha a desconfiar:
de que tudo vai bem no mundo.
Pynchon nasceu em Glen Cove,
Long Island, filho de um superintendente de rodovias. Aos 16 anos,
entrou na Universidade Cornell.
Entre 1955 e 1957 Pynchon serviu
na Marinha, tendo integrado a 6¦
Frota, que patrulha o mar Mediterrâneo. Ali conheceu Malta, que
é o pano de fundo de ``V.''.
Depois de diplomar-se em língua
inglesa em Cornell, em 1958 (começou por estudar física),
Pynchon voltou a Nova York e viveu no cenário beatnik.
Pynchon atingiu a maioridade
na época dos processos macartistas, e ``V.'' foi publicado no ano do
assassinato de John Kennedy.
``Pynchon escreve, numa espécie de código, sobre o crescente papel do governo na subjugação do
indivíduo ao Estado'', diz Charles
Hollander, estudioso independente de Pynchon. ``Ele e seus escritos
são camuflados porque ele teme o
poder do Estado.''
Jules Siegel, seu colega de classe
em Cornell, conta que perguntou a
Pynchon: ``O que você tanto teme?
Você não percebe que seus escritos
podem te livrar de praticamente
qualquer problema?'' Mas, na época, Pynchon parecia não estar disposto a aceitar a idéia de que o poder da celebridade pudesse funcionar como salvaguarda contra o governo.
Tradução de Clara Allain
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