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GASTRONOMIA
Festival traz novas formas de comer foie gras
Colunista da Folha
Não é todo dia que se pode comer foie gras. Não se trata apenas
de imposição estética (já que o
produto é uma bomba concentrada de gordura), mas também financeira (já que ele está também
entre os mais caros ingredientes
gastronômicos conhecidos).
Sendo assim, que se coma foie
gras direito, o que poderá ser feito
de hoje até o dia 16 de fevereiro no
Café Antique, restaurante paulistano onde pontifica um especialista no assunto, o chef francês
Erick Jacquin, que vai pilotar o
Festival de Foie Gras.
Como se sabe, foie gras não é
patê; é, literalmente, o "fígado
gordo" do ganso ou do pato, que,
para isso, foi superalimentado, à
força, com milho.
O regime de engorda produz
um crescimento do fígado, que fica gorduroso e vaporoso, capaz
de derreter na língua, apenas com
o calor da boca. É uma experiência única para o paladar.
Do foie gras são feitos subprodutos (patês, terrinas), principalmente a partir das aparas dos fígados que não estejam devidamente exuberantes para serem
vendidos inteiros. É comum encontrar latinhas de patês em que
se lê que a presença do autêntico
foie gras é de 3%, 5% ou 10% -o
suficiente para elevar o preço do
conteúdo.
Existem também subprodutos,
como o "bloc" de foie gras, composto apenas pelo produto em
aparas compactadas. Mas é quando inteiros que eles demonstram
suas melhores qualidades de sabor e consistência: cortados em filés grossos e passados levemente
na frigideira ou mesmo degustados crus, em fatias mais finas,
temperadas com sal e pimenta.
O festival apresenta um mosaico de possibilidades no uso culinário do foie gras inteiro. Trata-se
da especialidade do chef Jacquin
que, antes de vir ao Brasil (para o
Le Coq Hardy, em 1996), passou
pelo Les Comtes de Gascogne,
restaurante no Bois de Boulogne
(arredores de Paris), em que o
chef Henry Charvet esmerou-se
no uso do produto.
"Apesar de caros, os pratos de
foie gras saem muito no restaurante", diz Jacquin, 35.
Ele normalmente utiliza o produto importado da França, embora já tenha experimentado o
nacional, que apresenta o problema de ser instável: "Num restaurante é preciso ter regularidade,
não podemos correr o risco de ter
um produto que às vezes é muito
bom, mas às vezes não é", diz.
No festival do Café Antique, o
cardápio não vai se limitar aos
preparos clássicos do foie gras. A
maioria dos pratos tem um pendor mais moderno, alguns criados pelo próprio chef.
É o caso do foie gras fresco de
pato frito, servido com manga caramelizada, uma das primeiras
criações de Jacquin quando chegou ao Brasil e se encantou com as
frutas locais.
A sobreposição de sensações semelhantes é também típica das
combinações de foie gras com vinho: é comum acompanhar a
iguaria com vinhos doces, untuosos, de forma que um diminua os
excessos na sensação de gordura
ou doçura do outro, resultando
numa sensação equilibrada.
Por isso os vinhos sugeridos são
todos doces: um Porto (português), um Sauternes francês (Rayne Vigneau), um Tokaji húngaro
e um vendange tardive (colheita
tardia) da Alsácia, França.
Em todos os casos, o açúcar do
vinho é natural, derivado da uva,
obtido pela adição de álcool, que
interrompe a decomposição do
açúcar pelas leveduras, ou pela
utilização de uvas ressecadas,
com ultraconcentração do açúcar.
Uma outra novidade preparada
pelo chef é a posta de foie gras "à
moda de feijoada", em que ele
tenta fazer uma fusão da culinária
brasileira com a francesa.
Trata-se de uma feijoada com
foie gras: uma feijoada leve, com
feijão-preto, azeite, ervas frescas,
manjericão, carne-seca, pé de
porco, orelha e paio.
A posta de foie gras é frita à parte e servida sobre a feijoada, tendo
ao lado uma farofinha de bacon
com ervas frescas. Um jeito de
capturar o paladar do neófito brasileiro para o mundo original e incomparável do foie gras.
(JM)
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