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CINEMA
"ESPANGLÊS"
Após "Melhor É Impossível", James L. Brooks investe em história sobre faxineira em casa de chef renomado
Cineasta mira no "povo invisível" latino
TETÉ RIBEIRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, NA CALIFÓRNIA
James L. Brooks tem uma boa
desculpa para não trabalhar no
ritmo de Hollywood, se recusando a dirigir um ou dois filmes por
ano (a média ruim) ou mesmo
um filme a cada dois anos (a média boa). "Fiz cinco longas até hoje. Comecei a trabalhar em 1969, o
que dá uma média de um filme a
cada sete anos, o que acho bastante satisfatório", disse ele, em entrevista à Folha em Los Angeles,
quando do lançamento nos Estados Unidos de "Espanglês", que
estréia hoje no Brasil.
É uma boa média, que melhora
quando se sabe que, entre os quatro filmes que antecederam o de
hoje, estão sucessos de público,
crítica e Oscar como "Laços de
Ternura" (83), "Nos Bastidores da
Notícia" (87) e "Melhor É Impossível" (97). "Geralmente, escolho
um tema depois de ler um livro a
respeito. Então passo cerca de
cinco anos estudando o tema desse livro", diz ele. "Daí levo uns
dois anos para filmar." Simples?
Foi assim com "Espanglês".
"A comunidade latino-americana, ou hispânica, chame como você quiser, está em todo lugar nos
EUA", contabiliza. "O sul do país
e o norte do México hoje em dia se
confundem. Eles estão em todos
os lugares de Los Angeles, por
exemplo, que é a cidade em que
vivo, mas ao mesmo tempo são
um povo invisível para nós, da
chamada classe alta [Brooks mora
no exclusivo bairro-cidade de Bel-Air, no miolo rico de Los Angeles]. Você entra numa rua e encontra não mais um bairro de mexicanos, mas minicidades, divididas pela origem das pessoas, pela
cidade de onde elas vieram."
Assim ele criou a história de
Flor Moreno (a espanhola Paz Vega, em seu primeiro papel no cinema norte-americano), uma faxineira que acaba se envolvendo
com a família do renomado chef
de cozinha John Clasky (Adam
Sandler) e sua mulher, a hiperativa Deborah (Téa Leoni). Completam o elenco as meninas Christina (Shelbie Bruce) e Bernice (Sarah Steel) e a sogra do chef, a alcoólatra Evelyn, interpretada por
Cloris Leachman, mais conhecida
como Phyllis, a vizinha de Mary
Tyler Moore.
A série de TV homônima à atriz,
aliás, é de autoria de Brooks, um
nativo de Nova Jersey de 64 anos
que se criou em Nova York e demorou muito a conceder que o tipo de vida que queria levar, no
mundo artístico, exigia sua mudança para Los Angeles. "É uma
cidade esquisita. Há duas maneiras de morrer por aqui: ser fracassado ou fazer sucesso."
Brooks também está por trás de
"Os Simpsons" há 16 anos, desde
a estréia da mais longeva série de
animação da TV norte-americana. "Fazer essa comédia é minha
válvula de escape, onde posso falar mal de quem eu quiser, até do
Brasil", brinca, referindo-se ao
polêmico episódio em que a família visitava o Rio.
Há duas semanas, Brooks colocou Homer Simpson como juiz de
paz de casamentos gays em
Springfield. Levou lambada de tudo quanto foi organização conservadora norte-americana, e elas
estão em número cada vez maior
desde a reeleição de George W.
Bush. Aliás, o que ele acha do assunto? "Ninguém pode estar feliz
com os Estados Unidos de agora.
Eu também não estou. O jogo está
mudando, é difícil, eu diria que
estamos em uma busca pessoal
como povo", teoriza.
"Nesse contexto", diz, "temos
de nos concentrar no que nós
concordamos, não no que discordamos". Ele se refere à profunda
divisão por que o país passa desde
a reeleição de Bush, em que o interior do país, chamado de "América profunda", acusa as costas e
principalmente Hollywood de ter
se dissociado da realidade do seu
povo. "Mas o que eles querem?
Dissociar-se da realidade é o que
fazemos melhor. É por isso que
eles vão ao cinema."
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