São Paulo, Quinta-feira, 04 de Março de 1999
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TV ABERTA
"Queer as Folk", do Channel 4, traz personagem de 15 anos e exibe cenas de sexo; drama, que perde audiência, também não agrada gays
Novela homossexual gera polêmica no Reino Unido

ISABEL CLEMENTE
de Londres

É cada vez maior o número de reclamações sobre "desnecessárias cenas de sexo" em programas de TV no Reino Unido, de acordo com a Broadcasting Standards Commission, o órgão responsável pela auto-regulamentação de programas de TV e rádio.
O último a engrossar a lista dos programas "condenáveis" foi a novela "Queer as Folk".
Trata-se de um drama em oito capítulos do Channel 4 -um dos cinco canais abertos do Reino Unido- transmitido toda terça-feira, às 22h30.
A novela vem gerando polêmica devido, principalmente, ao fato de um dos três protagonistas, todos homossexuais, ser um garoto de 15 anos, vivido por um ator maior de 18, segundo a emissora.
Além de mostrar cenas de sexo, que não chegam a ser totalmente explícitas, mas que incomodaram espectadores pelo grau de veracidade sugerido, "Queer as Folk" recebeu mais de cem reclamações no primeiro capítulo.
Também perdeu audiência. Dos 2,2 milhões de telespectadores sintonizados no canal, 750 mil desligaram ou mudaram de programa durante a estréia.

Segundo episódio
O segundo episódio foi ao ar na noite de anteontem, sem alterações quanto ao seu conteúdo, apesar de a Broadcasting Standards Commission ter avisado que examinaria a fundo se a novela está ferindo o código para a qualidade de programas televisivos.
Diz o código da comissão que a relação de um adulto com uma criança pode ser tema de novelas e filmes.
Proibido, segundo o código, é encorajar esse tipo de comportamento.
A Associação Nacional de Telespectadores e Ouvintes reclamou da novela, que definiu como "um pedaço de propaganda para o homossexualismo".

Preconceito
Para alguns ativistas gays, a novela não acrescenta muito à luta contra o preconceito.
"Queer as Folk" é uma expressão antiquíssima que significa "as pessoas são estranhas". Sozinho, "queer" (também estranho, esquisito) tanto é um insulto para homossexuais -o equivalente a "veado", em português- como um termo cada vez mais usado pelos próprios, na tentativa de acabar com o tom pejorativo da palavra.

Sexo explícito
O diretor de drama do Channel 4, Gub Neal, disse que há apenas três cenas de sexo explícito nos oito episódios da série. A chamada para o próximo capítulo mostrou cenas de sexo a três.
Para Neal, há preconceito por trás das reclamações. Ele questiona se haveria tantas queixas caso as mesmas cenas fossem protagonizadas por um homem e uma mulher.
Para alguns críticos de TV da imprensa britânica, o programa é "descompromissadamente agressivo".
Antes da transmissão dos capítulos, os telespectadores são avisados sobre o uso de cenas e vocabulários pesados.


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