|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MÚSICA
"I Am Sam", com Ben Harper, Nick Cave e Eddie Vedder, segue cartilha infalível dos Beatles de forma simplificada
Trilha usa grande elenco para fazer covers
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
O encarte da trilha sonora
do filme "I Am Sam" explica
uma de suas peculiaridades: reunindo um vasto e contemporâneo
elenco em torno de reinterpretações de 19 canções dos Beatles, o
disco foi gravado no "praticamente impossível" intervalo de
três semanas.
Abaixo, no mesmo pequeno
texto, o produtor inclui um agradecimento aos "advogados".
Aparentemente independentes,
as duas informações se complementam entre si. Querendo usar
os Beatles como fundo musical da
história de um homem com idade
mental de sete anos, a diretora
norte-americana Jessie Nelson esbarrou na voracidade do espólio
do quarteto britânico.
Ficaria muito caro usar os fonogramas originais, foi o que se deve
ter concluído. E aí se optou pela
"prática" alternativa de reunir no
estúdio, a jato, nomes como Nick
Cave, Rufus Wainwright, Sheryl
Crow, Eddie Vedder, Black Crowes e outros tantos.
Seja como for, a trilha sonora,
que está saindo agora no Brasil
(sob o título "I Am Sam", e não a
pecaminosa "tradução" "Uma Lição de Amor"), mostra que o que
a equipe queria mesmo eram os
fonogramas dos Beatles.
É que a maior parte das versões
parece seguir à risca (embora de
forma simplificada) os arranjos
originais, entregando a gargantas
e punhos como os de Aimee
Mann, Ben Harper, Wallflowers,
Stereophonics, Grandaddy, Paul
Westerberg etc., a tarefa de fazer
covers, mais que reinterpretações.
O disco é, então, bem bonitinho
-não há muito onde errar com
cartilha tão infalível à disposição.
O elenco, um pouco orientado ao
rock ortodoxo (Eddie Vedder,
Black Crowes, a emoliente Sheryl
Crow e outros) e muito ao folk
rock (Ben Harper, Ben Folds, Aimee Mann, Grandaddy etc.), se
justifica pela seleção musical.
Trata-se de um mapa da fase final dos Beatles, pós-iê-iê-iê,
abrangendo principalmente da
psicodelia de 67 ao pré-progressivo de 68-70. As exceções ("We
Can Work It Out", "Help",
"You've Got to Hide Your Love
Away", "Nowhere Man"...) são
poucas; delas vem a faixa mais fofa, "I'm Only Sleeping" (com os
em geral desanimados Wallflowers, do filho de Bob Dylan).
Uma questão ronda o disco
após (re)ouvir as psicodélicas
"Lucy in the Sky with Diamonds"
(em duas versões) e "Strawberry
Fields Forever", ou os embriões
progressivos "Two of Us",
"Across the Universe", "Golden
Slumbers", "Revolution"... Por
que tanto som acústico de banda
folk rock, meio de barzinho, mesmo nessas canções? Bem, vai ver
era mais "prático" economizar na
energia elétrica.
I Am Sam
Lançamento: Sum Records
Quanto: R$ 25, em média
Texto Anterior: Cozinha Ilustrada - Brandade de bacalhau Próximo Texto: Contardo Calligaris: Ecos da guerra em Israel e na Palestina Índice
|