São Paulo, quinta-feira, 04 de abril de 2002

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MÚSICA

"I Am Sam", com Ben Harper, Nick Cave e Eddie Vedder, segue cartilha infalível dos Beatles de forma simplificada

Trilha usa grande elenco para fazer covers

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

O encarte da trilha sonora do filme "I Am Sam" explica uma de suas peculiaridades: reunindo um vasto e contemporâneo elenco em torno de reinterpretações de 19 canções dos Beatles, o disco foi gravado no "praticamente impossível" intervalo de três semanas.
Abaixo, no mesmo pequeno texto, o produtor inclui um agradecimento aos "advogados". Aparentemente independentes, as duas informações se complementam entre si. Querendo usar os Beatles como fundo musical da história de um homem com idade mental de sete anos, a diretora norte-americana Jessie Nelson esbarrou na voracidade do espólio do quarteto britânico.
Ficaria muito caro usar os fonogramas originais, foi o que se deve ter concluído. E aí se optou pela "prática" alternativa de reunir no estúdio, a jato, nomes como Nick Cave, Rufus Wainwright, Sheryl Crow, Eddie Vedder, Black Crowes e outros tantos.
Seja como for, a trilha sonora, que está saindo agora no Brasil (sob o título "I Am Sam", e não a pecaminosa "tradução" "Uma Lição de Amor"), mostra que o que a equipe queria mesmo eram os fonogramas dos Beatles.
É que a maior parte das versões parece seguir à risca (embora de forma simplificada) os arranjos originais, entregando a gargantas e punhos como os de Aimee Mann, Ben Harper, Wallflowers, Stereophonics, Grandaddy, Paul Westerberg etc., a tarefa de fazer covers, mais que reinterpretações.
O disco é, então, bem bonitinho -não há muito onde errar com cartilha tão infalível à disposição. O elenco, um pouco orientado ao rock ortodoxo (Eddie Vedder, Black Crowes, a emoliente Sheryl Crow e outros) e muito ao folk rock (Ben Harper, Ben Folds, Aimee Mann, Grandaddy etc.), se justifica pela seleção musical.
Trata-se de um mapa da fase final dos Beatles, pós-iê-iê-iê, abrangendo principalmente da psicodelia de 67 ao pré-progressivo de 68-70. As exceções ("We Can Work It Out", "Help", "You've Got to Hide Your Love Away", "Nowhere Man"...) são poucas; delas vem a faixa mais fofa, "I'm Only Sleeping" (com os em geral desanimados Wallflowers, do filho de Bob Dylan).
Uma questão ronda o disco após (re)ouvir as psicodélicas "Lucy in the Sky with Diamonds" (em duas versões) e "Strawberry Fields Forever", ou os embriões progressivos "Two of Us", "Across the Universe", "Golden Slumbers", "Revolution"... Por que tanto som acústico de banda folk rock, meio de barzinho, mesmo nessas canções? Bem, vai ver era mais "prático" economizar na energia elétrica.


I Am Sam   
Lançamento: Sum Records
Quanto: R$ 25, em média




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