São Paulo, sexta-feira, 04 de abril de 2003 |
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CINEMA/ESTRÉIA "DOIS PERDIDOS NUMA NOITE SUJA" Diretor José Joffily diz que manteve "substância" do autor ao adaptar sua peça Plínio Marcos vai ao cinema com novo final
DA REPORTAGEM LOCAL O cineasta José Joffily transportou do teatro para o cinema "Dois Perdidos numa Noite Suja", texto de Plínio Marcos (1935-1999). Na transposição, entregou a uma atriz (Débora Falabella) o papel de Paco, trouxe para o século 21 a história escrita há quatro décadas e conduziu para Nova York -na condição de imigrantes- os personagens antes confinados numa pensão miserável. Com o filme finalizado (e pronto para estrear hoje no Brasil), Joffily concluiu que havia devotado "uma fidelidade canina" a Plínio Marcos. "A substância do texto do Plínio está lá [no filme]", diz. O diretor cometeu, porém, uma única "traição", observada pela viúva do autor, Vera Artaxo -mudou o desfecho da história, tornando-a menos trágica, já que deixa de ser fatal. Artaxo considera que a escolha de Joffily suaviza a idéia da "impossibilidade de uma saída individual", presente no texto de Marcos, e subtrai do personagem Tonho a curva dramática descrita por alguém que passa por uma transformação sem volta. Joffily ouviu, ponderou e tende a concordar com a crítica, feita publicamente esta semana, durante um debate em torno do filme, em São Paulo. "E nenhum especialista em Plínio foi capaz de notar isso", diz Joffily, elogiando a acuidade de Artaxo. Ele afirma que a opção de final que adotou no longa foi uma escolha mais intuitiva do que lógica. Casualmente, ele havia filmado um plano a mais do que originalmente previa o roteiro. Quando ouviu a composição que Arnaldo Antunes fez para o filme, julgou esteticamente atraente a colagem daquelas imagens extras com o novo som. "Eu me rendi a esses encantos", disse. "É a tentação do happy end", brincou Artaxo. Convém avisar o espectador de que, embora menos duro do que na versão teatral, não chega a ser feliz o desfecho no cinema desses "Dois Perdidos numa Noite Suja". Com locações em Nova York, onde as filmagens ocorreram em duas etapas distantes no calendário, o filme contém cenas em que as torres gêmeas do World Trade Center (que foram alvo de atentado terrorista em 11 de setembro de 2001) integram a paisagem da cidade e outras em que elas já desapareceram. Na primeira fase de filmagens, a equipe deixou a cidade no 6 de setembro anterior aos atentados. Um galpão no Rio serviu como cenário do apartamento em que Paco e Tonho (Roberto Bomtempo) travam seus duelos. Ou, como prefere o diretor, encarnam a idéia de que "o homem é o lobo do homem". (SILVANA ARANTES) Texto Anterior: "O Desprezo": Godard mergulha em babel de linguagens Próximo Texto: Crítica: Adaptação dilui crueldade do dramaturgo Índice |
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