São Paulo, sexta-feira, 04 de maio de 2007

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Cinema/Estréias - Crítica/"Lost Zweig"

Sylvio Back retorna à sua melhor forma em biografia sobre escritor

Filme sobre a vida de Stefan Zweig no Brasil estréia hoje, quatro anos após conclusão, e une história individual e coletiva

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Em "Lost Zweig", que estréia finalmente nos cinemas, quatro anos depois de concluído, a história coletiva e a biografia individual se fundem de modo inextricável.
Ao se suicidar em Petrópolis (RJ) com sua segunda mulher, Lotte, uma semana depois do Carnaval de 1942, o escritor austríaco Stefan Zweig lançou uma incômoda luz sobre os destinos do mundo (em particular da Europa conflagrada), do povo judeu e do próprio Brasil, sobre o qual ele havia escrito, em 1936, o célebre livro "Brasil, País do Futuro".
Mas o diretor Sylvio Back, ao se debruçar sobre o tema (ao qual já havia dedicado o documentário "Zweig: a Morte em Cena"), não se serviu do drama do escritor apenas como "gancho" para falar sobre a guerra, o extermínio dos judeus pelos nazistas e a postura ambígua da ditadura Vargas. O suicídio como questão humana e filosófica é o "leitmotiv" que pontua todo este filme. Cabe lembrar que o próprio Sylvio Back é filho de um suicida.
Sob esse prisma, o embate central de "Lost Zweig", entre o escritor exilado e o ditador Getúlio Vargas, ganha uma dimensão ainda mais tocante. Numa cena chave, esses dois futuros suicidas conversam sobre um terceiro, Santos Dumont, cuja biografia Getúlio tenta convencer Stefan Zweig a escrever.

Tom elegíaco
Back conduz com delicadeza esse duplo réquiem (por uma civilização e por um homem). O tom elegíaco se reflete nos longos planos, nos movimentos comedidos de câmera, na predominância das cores frias e dos tons pastel, na discreta reconstituição de época, no "cool jazz" da trilha sonora e na atuação densa, contida dos protagonistas -o alemão Rüdigler Vogler e a austríaca Ruth Rieser.
É uma tragédia "de câmara", em surdina, sem estardalhaço, que toca o sublime na cena que Back imaginou para Lotte no intervalo entre a morte do marido e a dela própria.
Nesse contexto, o que destoa é a caracterização um tanto caricatural de Getúlio Vargas (Renato Borghi) e de Orson Welles (Thelmo Fernandes), como se a tragédia européia ecoasse nas Américas como farsa.
Isso não tira a força desse retorno de Sylvio Back à sua melhor forma, depois de documentários que foram prejudicados pela intenção sarcástica e de um "Cruz e Souza" alegórico e teatral.


LOST ZWEIG
Direção:
Sylvio Back
Produção: Brasil/EUA, 2003
Com: Rüdiger Vogler, Ruth Rieser.
Onde: Frei Caneca Unibanco Arteplex 4
Avaliação: bom


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