|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Cinema/Estréias - Crítica/"Lost Zweig"
Sylvio Back retorna à sua melhor forma em biografia sobre escritor
Filme sobre a vida de Stefan Zweig no Brasil estréia hoje, quatro anos após conclusão, e une história individual e coletiva
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Em "Lost Zweig", que estréia finalmente nos cinemas, quatro anos depois de concluído, a história coletiva e a biografia individual se
fundem de modo inextricável.
Ao se suicidar em Petrópolis
(RJ) com sua segunda mulher,
Lotte, uma semana depois do
Carnaval de 1942, o escritor
austríaco Stefan Zweig lançou
uma incômoda luz sobre os
destinos do mundo (em particular da Europa conflagrada),
do povo judeu e do próprio Brasil, sobre o qual ele havia escrito, em 1936, o célebre livro
"Brasil, País do Futuro".
Mas o diretor Sylvio Back, ao
se debruçar sobre o tema (ao
qual já havia dedicado o documentário "Zweig: a Morte em
Cena"), não se serviu do drama
do escritor apenas como "gancho" para falar sobre a guerra, o
extermínio dos judeus pelos
nazistas e a postura ambígua da
ditadura Vargas. O suicídio como questão humana e filosófica
é o "leitmotiv" que pontua todo
este filme. Cabe lembrar que o
próprio Sylvio Back é filho de
um suicida.
Sob esse prisma, o embate
central de "Lost Zweig", entre o
escritor exilado e o ditador Getúlio Vargas, ganha uma dimensão ainda mais tocante.
Numa cena chave, esses dois
futuros suicidas conversam sobre um terceiro, Santos Dumont, cuja biografia Getúlio
tenta convencer Stefan Zweig a
escrever.
Tom elegíaco
Back conduz com delicadeza
esse duplo réquiem (por uma
civilização e por um homem). O
tom elegíaco se reflete nos longos planos, nos movimentos
comedidos de câmera, na predominância das cores frias e
dos tons pastel, na discreta reconstituição de época, no "cool
jazz" da trilha sonora e na atuação densa, contida dos protagonistas -o alemão Rüdigler Vogler e a austríaca Ruth Rieser.
É uma tragédia "de câmara",
em surdina, sem estardalhaço,
que toca o sublime na cena que
Back imaginou para Lotte no
intervalo entre a morte do marido e a dela própria.
Nesse contexto, o que destoa
é a caracterização um tanto caricatural de Getúlio Vargas
(Renato Borghi) e de Orson
Welles (Thelmo Fernandes),
como se a tragédia européia
ecoasse nas Américas como
farsa.
Isso não tira a força desse retorno de Sylvio Back à sua melhor forma, depois de documentários que foram prejudicados pela intenção sarcástica e
de um "Cruz e Souza" alegórico
e teatral.
LOST ZWEIG
Direção: Sylvio Back
Produção: Brasil/EUA, 2003
Com: Rüdiger Vogler, Ruth Rieser.
Onde: Frei Caneca Unibanco Arteplex 4
Avaliação: bom
Texto Anterior: CDs Próximo Texto: Saiba mais: Zweig previu Europa sem fronteiras Índice
|