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Escritores recriam clássicos on-line
Projeto We Tell Stories convida autores a produzir seis histórias digitais a partir de livros como "As Mil e Uma Noites"
Entre as criações, há trama policial narrada no Google Maps, história de fantasmas contada por meio de blogs e romance escrito ao vivo
MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REPORTAGEM LOCAL
Comparada ao cinema e à
música, a literatura engatinha
na internet -até há textos disponíveis, mas, na maioria, sem
avançar nenhum milímetro em
relação ao formato do papel e
com a desvantagem de serem
bem menos confortáveis de ler.
Foi para tentar avançar o segmento e criar uma literatura digital que abraçasse de fato as
possibilidades da internet que a
editora britânica Penguin se
uniu à empresa digital Six to
Start e lançou o projeto We Tell
Stories (wetellstories.co.uk).
A idéia era pegar seis livros
célebres e convidar autores para que, baseados neles, criassem histórias exclusivamente
on-line, amparadas em ferramentas digitais -ou seja, algo
que não coubesse no papel.
O resultado (veja quadro ao
lado) foi sendo publicado ao
longo de seis semanas no site
do projeto e está disponível
gratuitamente, em inglês.
Siga aquele mapa
A primeira história a ser criada foi justamente uma das mais
inovadoras: a adaptação que o
escocês Charles Cumming fez
para "Os 39 Degraus", de John
Buchan, usando o Google Maps
-um mapa on-line que usa
imagens de satélite.
"O estilo do livro, cheio de
ação e suspense e com reviravoltas em sua trama, era ideal
para a web", disse Cumming,
em entrevista à Folha.
"Acho que as pessoas têm
uma atenção muito curta
quando estão lendo on-line,
por isso na história há tanto
movimento, cenas de exterior e
relativamente pouco conteúdo
psicológico ou emocional."
O inglês Toby Litt, por sua
vez, usou blogs de texto e de fotos (como o Flickr) para contar
uma história de fantasmas,
"Slice", que os leitores puderam acompanhar à medida que
os personagens iam postando,
diariamente, em seus blogs
-era possível até mandar e-mail para os personagens.
"A cada autor desse projeto
foi dada uma forma na qual escrever, ainda que houvesse
bastante flexibilidade nisso. A
minha foram os "lifestreams",
como os blogs, o Twitter e o
Flickr", disse Litt à Folha.
"Quis fazer algo que, quando
você entrasse, parecesse uniforme com o resto da web. Tudo aconteceu em tempo real.
Queria que os leitores ficassem
acordados até tarde, esperando
por um post para descobrir o
que estava acontecendo."
Quem sabe faz ao vivo
A idéia de narrativa em tempo real foi levada ao extremo
pelo casal Nicci Gerrard e Sean
French, que escreve em dupla e
assina como Nicci French: sua
história, inspirada em "Thérèse
Raquin", de Émile Zola, foi produzida ao vivo, diariamente.
"A experiência foi muito diferente do nosso modo normal de
escrever. Não houve revisão,
nada de reler e mudar algo por
causa de uma nova idéia", disse
o casal por e-mail.
"Normalmente, quando as
pessoas lêem um livro nosso, já
se passou um ano desde que o
finalizamos. Nesse caso, houve
a excitação de saber que estávamos sendo lidos enquanto digitávamos as palavras, e conseguíamos ver as reações imediatamente, na sala de bate-papo."
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