São Paulo, sexta-feira, 04 de junho de 2004

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"AGORA SEREMOS FELIZES"

Musical revela o gênio do enquadramento Vincente Minelli

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

A melhor análise de "Agora Seremos Felizes", jóia que Vincente Minelli dirigiu em 1944, não está no DVD duplo especial que sai pela Warner, mas em "Uma Viagem Pessoal com Martin Scorsese pelo Cinema Americano" (disponível aqui em vídeo).
No capítulo dos musicais, situa com precisão a importância do filme na história do gênero: "Pela primeira vez, um musical trazia uma história nostálgica de tom irônico e agridoce, que não tinha como pano de fundo a Broadway, e sim uma pequena cidade do Meio-Oeste na virada do século. Cantar e dançar passou a ser algo natural como respirar e falar, e as canções, por sua vez, avançavam a ação e revelavam nuanças emocionais dos personagens".
Ainda que repleto de extras, o DVD oficial do filme, em edição dupla, não é tão esclarecedor. Liza Minelli, filha de Judy Garland e de Vincente Minelli, faz uma breve apresentação dizendo que esse é seu trabalho favorito de "mamãe e papai" -mas não vai muito além disso. Os dois documentários do segundo disco (um especificamente sobre o filme, o outro sobre a época de ouro da MGM) sofrem do mal da "versão oficial".
Ao contrário, por exemplo, dos making ofs da caixa de "O Poderoso Chefão", que revelam todas as pressões da Paramount sobre Francis Ford Coppola, esses não tocam em questões polêmicas. Sobretudo nos problemas da turbulenta carreira de Garland, que emergem de maneira discreta no extra "Estrelando: Judy Garland".
O melhor é mesmo o filme em si, o mais revelador do talento de Minelli, gênio do enquadramento e da narrativa clássica, que se apoiou, aqui, em um belíssimo e suave "technicolor" e no naipe de canções de Ralph Blaine e Hugh Martin. O roteiro é inspirado nos textos autobiográficos de Sally Benson, publicados na revista "New Yorker" e alinhados à tradição das crônicas idealizadoras do cotidiano da classe média americana. A música, de tom ingênuo e melancólico, serve a esse propósito, com destaque para "The Trolley Song" e "Have Yourself a Merry Little Christmas".
Apesar da fragilidade dos documentários, os extras trazem raridades como o piloto da série de TV inspirada no filme (que não foi adiante) e um curta mostrando Judy Garland ainda criança.


Agora Seremos Felizes
Meet me in St. Louis
    
Direção: Vincente Minelli
Produção: EUA, 1944
Distribuidora: Warner



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