São Paulo, sábado, 04 de junho de 2005

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MÚSICA ERUDITA

Maestro assume tom conciliador e evita entrar publicamente em conflito com o diretor John Neschling

Minczuk nega ter sido demitido da Osesp

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

O maestro Roberto Minczuk, 38, disse ontem à Folha que não foi "demitido" da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado) e que tudo provavelmente "não passa de um mal-entendido".
Seu estatuto era o de principal regente convidado, sem vínculos funcionais com a orquestra. Isso já descartaria, argumentou, qualquer forma de "demissão".
Minczuk reiterou que mantém por Neschling uma antiga relação de admiração artística e disse lamentar não poder reger os cinco programas da Osesp previamente agendados até o final do ano.
Discorreu sobre seus planos com a OSB (Orquestra Sinfônica Brasileira), cuja direção artística acaba de assumir. E também sobre o Festival de Campos do Jordão, que neste ano trará uma profusão de grandes nomes internacionais, como o maestro Kurt Masur e o Trio Beaux Arts.
O maestro Minczuk se encontrava ontem em Tel Aviv, onde iniciou uma série de sete concertos frente à Filarmônica de Israel. Leia a seguir a entrevista dada à Folha, por telefone.

 

Folha - O sr. foi "demitido" da Osesp, conforme o termo empregado pelo maestro John Neschling?
Roberto Minczuk -
Eu tenho muito respeito pessoal e artístico pelo maestro Neschling. Gosto muito dele. E tenho também muito respeito e carinho pela Osesp e por seu público. Esse sentimento me teria normalmente levado a cumprir todos os demais compromissos que eu assumi neste ano com a orquestra. Eram mais cinco programas, cada um com duas ou três récitas. Sinceramente lamento não poder regê-los.

Folha - Mas e a "demissão"?
Minczuk -
É provável que o maestro Neschling tenha sido mal entendido. Ele não poderia mencionar uma "demissão" porque eu não sou mais funcionário da Osesp. Em outubro último, conforme dissemos publicamente, eu e Neschling anunciamos que eu deixaria de ser o diretor artístico-adjunto para me tornar principal regente convidado. Esse novo estatuto passou a vigorar na temporada deste ano. Um "convidado" no máximo se "desconvida". É esse o meu entendimento. Não creio que se possa falar propriamente de demissão.

Folha - O sr. está magoado?
Minczuk -
Em verdade eu sempre procurei ser ao mesmo tempo um bom artista e manter meus compromissos profissionais. Apesar de todos os contratos que tenho assumido no exterior e no Brasil -como o Festival de Campos do Jordão e a direção da Orquestra Sinfônica Brasileira-, sempre fiz questão de profissionalmente cumprir com a agenda previamente assumida. Creio, mais uma vez, que houve um mal-entendido. Não acredito que o maestro Neschling tenha afirmado que, em razão de uma agenda carregada, eu não poderia manter meu padrão profissional nos cinco programas que deveria ainda reger neste ano com a Osesp.

Folha - O sr. gostaria de ter podido reger esses cinco programas?
Minczuk -
Como ocorre com todos os compromissos que assumo, eu certamente teria vontade de cumpri-los, conforme o que foi previamente combinado.

Folha - E o recente encontro com Neschling para a apresentação de sua carta de demissão?
Minczuk -
Esse encontro não chegou a existir. Em razão de problemas de agenda, há algum tempo não tenho tido a oportunidade de ter com o maestro Neschling uma conversa pessoal.

Folha - Na semana passada o sr. fez com a Osesp uma linda "Paixão Segundo São Mateus", de Bach. Havia a sensação de que se tratava de uma despedida?
Minczuk -
Não. Eu gosto muito da "São Mateus". Foi algo em que me empenhei superlativamente, como ocorre com outros programas. Não pensava que se tratasse de um concerto de despedida com a Osesp.

Folha - O festival de Campos será neste ano uma superprodução de música erudita?
Minczuk -
No ano passado já havíamos trazido grandes nomes. Neste ano teremos um número ainda maior. Haverá um grande salto de qualidade, o que me deixa extremamente feliz. Estamos investindo muito. Não será apenas a oportunidade para que os 180 bolsistas "ouçam" grandes músicos. Os artistas convidados darão aulas. Há o maestro alemão Kurt Masur, ex-diretor da Gewandhaus de Leipzig e da Filarmônica de Nova York. Há o Trio Beaux Arts, cujo violoncelista é o Antonio Meneses. Há a Camerata Bariloche, que também será um grupo residente, o violonista cubano Manuel Barrueco...

Folha - Além do Brasil, bolsistas de quantos outros países virão desta vez?
Minczuk -
A relação completa será conhecida apenas no próximo dia 6. Mas as audições e seleções foram feitas neste ano em São Paulo, Rio, João Pessoa, Buenos Aires, Santiago do Chile e Cidade do México. As Américas serão o tema deste festival.

Folha - E quanto à OSB, quais são especificamente seus planos?
Minczuk -
Eu ainda preciso trabalhar com a orquestra, conhecer seus músicos e permitir que eles também me conheçam. O compromisso que assumi foi o de permitir que os salários fossem valorizados, para que a fundação gestora da orquestra permita um padrão comparável aos das grandes orquestras internacionais. Estou bastante otimista.

Folha - Quantos concertos o sr. regerá neste ano com a orquestra?
Minczuk -
Não sei ao certo. A programação de 2005 já havia sido definida. Com certeza eu farei algumas modificações. Mas a primeira temporada sob minha plena direção será a do ano que vem.

Folha - A versão corrente é a de que os melhores músicos da OSB também participam da Petrobras Pró-Música e que, por uma questão de salário, é nessa última que eles dedicam maior empenho.
Minczuk -
Há 20 músicos da OSB que também integram a orquestra Petrobras Pró-Música. Mas não posso dar opinião a respeito porque ainda não comecei a trabalhar com eles.


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