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MÚSICA ERUDITA
Maestro assume tom conciliador e evita entrar publicamente em conflito com o diretor John Neschling
Minczuk nega ter sido demitido da Osesp
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
O maestro Roberto Minczuk,
38, disse ontem à Folha que não
foi "demitido" da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado) e que tudo provavelmente "não passa de
um mal-entendido".
Seu estatuto era o de principal
regente convidado, sem vínculos
funcionais com a orquestra. Isso
já descartaria, argumentou, qualquer forma de "demissão".
Minczuk reiterou que mantém
por Neschling uma antiga relação
de admiração artística e disse lamentar não poder reger os cinco
programas da Osesp previamente
agendados até o final do ano.
Discorreu sobre seus planos
com a OSB (Orquestra Sinfônica
Brasileira), cuja direção artística
acaba de assumir. E também sobre o Festival de Campos do Jordão, que neste ano trará uma profusão de grandes nomes internacionais, como o maestro Kurt Masur e o Trio Beaux Arts.
O maestro Minczuk se encontrava ontem em Tel Aviv, onde
iniciou uma série de sete concertos frente à Filarmônica de Israel.
Leia a seguir a entrevista dada à
Folha, por telefone.
Folha - O sr. foi "demitido" da
Osesp, conforme o termo empregado pelo maestro John Neschling?
Roberto Minczuk - Eu tenho
muito respeito pessoal e artístico
pelo maestro Neschling. Gosto
muito dele. E tenho também muito respeito e carinho pela Osesp e
por seu público. Esse sentimento
me teria normalmente levado a
cumprir todos os demais compromissos que eu assumi neste
ano com a orquestra. Eram mais
cinco programas, cada um com
duas ou três récitas. Sinceramente
lamento não poder regê-los.
Folha - Mas e a "demissão"?
Minczuk - É provável que o
maestro Neschling tenha sido mal
entendido. Ele não poderia mencionar uma "demissão" porque
eu não sou mais funcionário da
Osesp. Em outubro último, conforme dissemos publicamente, eu
e Neschling anunciamos que eu
deixaria de ser o diretor artístico-adjunto para me tornar principal
regente convidado. Esse novo estatuto passou a vigorar na temporada deste ano. Um "convidado"
no máximo se "desconvida". É esse o meu entendimento. Não
creio que se possa falar propriamente de demissão.
Folha - O sr. está magoado?
Minczuk - Em verdade eu sempre procurei ser ao mesmo tempo
um bom artista e manter meus
compromissos profissionais.
Apesar de todos os contratos que
tenho assumido no exterior e no
Brasil -como o Festival de Campos do Jordão e a direção da Orquestra Sinfônica Brasileira-,
sempre fiz questão de profissionalmente cumprir com a agenda
previamente assumida. Creio,
mais uma vez, que houve um mal-entendido. Não acredito que o
maestro Neschling tenha afirmado que, em razão de uma agenda
carregada, eu não poderia manter
meu padrão profissional nos cinco programas que deveria ainda
reger neste ano com a Osesp.
Folha - O sr. gostaria de ter podido reger esses cinco programas?
Minczuk - Como ocorre com todos os compromissos que assumo, eu certamente teria vontade
de cumpri-los, conforme o que foi
previamente combinado.
Folha - E o recente encontro com
Neschling para a apresentação de
sua carta de demissão?
Minczuk - Esse encontro não
chegou a existir. Em razão de problemas de agenda, há algum tempo não tenho tido a oportunidade
de ter com o maestro Neschling
uma conversa pessoal.
Folha - Na semana passada o sr.
fez com a Osesp uma linda "Paixão
Segundo São Mateus", de Bach.
Havia a sensação de que se tratava
de uma despedida?
Minczuk - Não. Eu gosto muito
da "São Mateus". Foi algo em que
me empenhei superlativamente,
como ocorre com outros programas. Não pensava que se tratasse
de um concerto de despedida
com a Osesp.
Folha - O festival de Campos será
neste ano uma superprodução de
música erudita?
Minczuk - No ano passado já havíamos trazido grandes nomes.
Neste ano teremos um número
ainda maior. Haverá um grande
salto de qualidade, o que me deixa
extremamente feliz. Estamos investindo muito. Não será apenas a
oportunidade para que os 180 bolsistas "ouçam" grandes músicos.
Os artistas convidados darão aulas. Há o maestro alemão Kurt
Masur, ex-diretor da Gewandhaus de Leipzig e da Filarmônica
de Nova York. Há o Trio Beaux
Arts, cujo violoncelista é o Antonio Meneses. Há a Camerata Bariloche, que também será um grupo
residente, o violonista cubano
Manuel Barrueco...
Folha - Além do Brasil, bolsistas
de quantos outros países virão desta vez?
Minczuk - A relação completa será conhecida apenas no próximo
dia 6. Mas as audições e seleções
foram feitas neste ano em São
Paulo, Rio, João Pessoa, Buenos
Aires, Santiago do Chile e Cidade
do México. As Américas serão o
tema deste festival.
Folha - E quanto à OSB, quais são
especificamente seus planos?
Minczuk - Eu ainda preciso trabalhar com a orquestra, conhecer
seus músicos e permitir que eles
também me conheçam. O compromisso que assumi foi o de permitir que os salários fossem valorizados, para que a fundação gestora da orquestra permita um padrão comparável aos das grandes
orquestras internacionais. Estou
bastante otimista.
Folha - Quantos concertos o sr. regerá neste ano com a orquestra?
Minczuk - Não sei ao certo. A
programação de 2005 já havia sido definida. Com certeza eu farei
algumas modificações. Mas a primeira temporada sob minha plena direção será a do ano que vem.
Folha - A versão corrente é a de
que os melhores músicos da OSB
também participam da Petrobras
Pró-Música e que, por uma questão
de salário, é nessa última que eles
dedicam maior empenho.
Minczuk - Há 20 músicos da OSB
que também integram a orquestra Petrobras Pró-Música. Mas
não posso dar opinião a respeito
porque ainda não comecei a trabalhar com eles.
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