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Ricardo Castro prova sua maturidade com Chopin
especial para a Folha
A certa altura de suas carreiras,
todos os pianistas se vêem compelidos a enfrentar um "recital Chopin". Como mestre supremo do
piano, Chopin soube explorar como ninguém todas as possibilidades expressivas e técnicas de seu
instrumento e nos legou uma obra
totalmente dedicada a ele.
Sob os títulos genéricos de "Estudo", "Balada", "Valsa", "Noturno"
ou "Polonaise", Chopin teceu poemas sonoros onde desvelava seus
sonhos e visões e atingia um grau
insuperável de perfeição técnica.
Já Rubinstein havia dito que a
música de Chopin possui um apelo
universal: ela é imediatamente reconhecida e conquista os mais diferentes auditórios. Tendo passado por suas mãos e pelas de Horowitz, Pollini, Argerich, Arrau e outros, a música de Chopin torna-se
um desafio muito maior abordá-la
nos dias de hoje.
O "recital Chopin" seria assim o
atestado de maioridade de um pianista. E requer dele, além de apuro
técnico, plena maturidade emocional e grande sensibilidade poética.
Ricardo Castro, em seu novo CD,
mostra que tem todos os predicados para vencer esse desafio. Virtuosismo, precisão do toque e fidelidade à partitura são apenas os requisitos mínimos necessários para
fazer florescer toda a magia e a
poesia da arte de Chopin.
Ao contrário dos pianistas da nova geração, como Kissin e Pletnev,
que se concentram quase que exclusivamente nos aspectos técnicos e virtuosísticos, Castro nos
apresenta um Chopin imaginativo
e criativo, herdeiro das lições dos
grandes mestres.
A sua busca é pela expressividade
e riqueza do tecido sonoro, e nele o
virtuosismo se subordina aos fatores puramente musicais.
Sua interpretação das "Baladas
nºs 3 e 4" nada deixa a dever às melhores gravações de que dispomos,
e se caracteriza pela fluência da linha melódica e convincente apelo
dramático.
A "Polonaise op. 53" é executada
de maneira realmente "heróica",
enquanto que nas "Valsas op. 64"
ele revive o "Chopin de salão", despreocupado e ligeiro. Sua versão
da tão visitada "Sonata nº 2 op. 35"
revela que sempre há algo de novo
a ser dito em Chopin.
Neste caso, sua interpretação prima pelo despojamento e simplicidade, e principalmente pela desmistificação da sua famosa "Marcha Fúnebre", que é apresentada
de uma maneira sóbria e elegante,
quase clássica.
Castro já havia revelado o seu
Chopin intimista e melancólico ao
gravar, em 1995, a integral dos
"Noturnos". Nas quatro peças aqui
apresentadas, ele confirma sua vocação para o gênero, e elas atestam
o refinamento e a originalidade de
suas interpretações.
Mesmo sendo herdeiro de uma
vasta tradição fonográfica, que inclui os maiores pianistas do século,
Ricardo Castro se revela com o seu
Chopin não só pelo apuro técnico,
mas principalmente pela sinceridade de suas interpretações.
Com este CD ele prova assim que
atingiu a maturidade de seu pianismo.
(WL)
Avaliação:
Disco: Ricardo Castro interpreta Chopin
Lançamento: BMG
Quanto: R$ 20 (em média)
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