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HUMOR
Jô Soares encarna faceta "Seinfeld" e supera a performance da TV
BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA
O melhor momento de Jô
Soares não é quando ele se
transforma no David Letterman
tapuia. Embora muitas vezes seja
mais interessante e engraçado do
que seus convidados, não é no
programa de entrevistas que ele
consegue mover montanhas.
O melhor momento de Jô Soares, há décadas, é quando ele faz
as vezes de Jerry Seinfeld tapuia.
Para quem não sabe, além de estrela de seriado de TV, Seinfeld é,
sobretudo, o mais consagrado
"stand-up comedian" dos EUA.
O termo é tão estranho aos ouvidos brazucas que nem sequer
existe uma tradução apropriada
dele. Serve para definir o ato solo
de um comediante sobre o palco,
justamente a tarefa a que Jô se
propõe no espetáculo "Na Mira
do Gordo", em cartaz na recém-inaugurada casa Tom Brasil - Nações Unidas, em São Paulo.
Sozinho em cena durante uma
hora e meia, sem nenhum cenário
e com a ajuda apenas de dois prosaicos objetos de cena, uma lata
de lixo e uma cadeira de plástico,
Jô está em seu elemento. Sem sair
de cena ou mudar de roupa nenhuma vez, ele é tão ágil quanto
-pasme- uma gazela. Num minuto é um indecifrável samurai de
filme japonês, noutro um papa
"distraído" e, logo em seguida, é
um bebê prestes a sair da barriga
da mãe.
As piadas, todas de sua lavra,
são sucessivos ovos de Colombo
atirados sobre uma platéia sempre lotada. Sinta só: tai-chi-chuan
é luta marcial de aposentado; para
matar a cobra de inveja, Deus
criou a centopéia; uma das novidades no supermercado do Jô é o
"papel higiênico dupla face" e,
quando é avisado de que "sofre de
gases", o vovô reage: "Sofre? Mas
é o meu único prazer!".
Metade da graça de uma piada
está em reconhecer a situação em
que ela se dá. Jô é mestre em apresentar acontecimentos com que o
público tem intimidade: o cão que
cheira as partes pudendas da visita, o carrinho com a roda presa no
supermercado, a espera pela mala
na esteira de bagagem do aeroporto. E, assim como em todos os
seus outros espetáculos solo, a
gordura do nosso Seinfeld também é passada em revista.
Se no programa ele comanda
seu quinteto e a platéia com mão
de ferro, no teatro Jô baixa a guarda. E fala até de seus "bracinhos
de paraolimpíada". Desligue a TV
e corra para o Tom Brasil.
Na Mira do Gordo
Onde: Tom Brasil - Nações Unidas (r.
Bragança Paulista, 1.281, SP, tel. 0/xx/
11/ 5644-9800)
Quando: sex. e sáb., às 22h; dom., às
20h; até 31/8
Quanto: de R$ 30 a R$ 60 (estudantes
pagam meia-entrada)
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