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São Paulo, sexta-feira, 04 de julho de 2003

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HUMOR

Jô Soares encarna faceta "Seinfeld" e supera a performance da TV

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

O melhor momento de Jô Soares não é quando ele se transforma no David Letterman tapuia. Embora muitas vezes seja mais interessante e engraçado do que seus convidados, não é no programa de entrevistas que ele consegue mover montanhas.
O melhor momento de Jô Soares, há décadas, é quando ele faz as vezes de Jerry Seinfeld tapuia. Para quem não sabe, além de estrela de seriado de TV, Seinfeld é, sobretudo, o mais consagrado "stand-up comedian" dos EUA.
O termo é tão estranho aos ouvidos brazucas que nem sequer existe uma tradução apropriada dele. Serve para definir o ato solo de um comediante sobre o palco, justamente a tarefa a que Jô se propõe no espetáculo "Na Mira do Gordo", em cartaz na recém-inaugurada casa Tom Brasil - Nações Unidas, em São Paulo.
Sozinho em cena durante uma hora e meia, sem nenhum cenário e com a ajuda apenas de dois prosaicos objetos de cena, uma lata de lixo e uma cadeira de plástico, Jô está em seu elemento. Sem sair de cena ou mudar de roupa nenhuma vez, ele é tão ágil quanto -pasme- uma gazela. Num minuto é um indecifrável samurai de filme japonês, noutro um papa "distraído" e, logo em seguida, é um bebê prestes a sair da barriga da mãe.
As piadas, todas de sua lavra, são sucessivos ovos de Colombo atirados sobre uma platéia sempre lotada. Sinta só: tai-chi-chuan é luta marcial de aposentado; para matar a cobra de inveja, Deus criou a centopéia; uma das novidades no supermercado do Jô é o "papel higiênico dupla face" e, quando é avisado de que "sofre de gases", o vovô reage: "Sofre? Mas é o meu único prazer!".
Metade da graça de uma piada está em reconhecer a situação em que ela se dá. Jô é mestre em apresentar acontecimentos com que o público tem intimidade: o cão que cheira as partes pudendas da visita, o carrinho com a roda presa no supermercado, a espera pela mala na esteira de bagagem do aeroporto. E, assim como em todos os seus outros espetáculos solo, a gordura do nosso Seinfeld também é passada em revista.
Se no programa ele comanda seu quinteto e a platéia com mão de ferro, no teatro Jô baixa a guarda. E fala até de seus "bracinhos de paraolimpíada". Desligue a TV e corra para o Tom Brasil.


Na Mira do Gordo   
Onde: Tom Brasil - Nações Unidas (r. Bragança Paulista, 1.281, SP, tel. 0/xx/ 11/ 5644-9800)
Quando: sex. e sáb., às 22h; dom., às 20h; até 31/8
Quanto: de R$ 30 a R$ 60 (estudantes pagam meia-entrada)



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