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LIVRO
Big Richard agora escreve histórias para crianças, visando um público que não se identifica com as importadas
Rapper quer criar literatura infantil negra
CYNARA MENEZES
da Reportagem Local
O cantor Hamilton Richard Ferreira, 24, o Big Richard, quer fugir
do estigma de "marginal" que
ronda os rappers: com fama de
bom moço, contrário ao uso de
drogas e defensor da religião, Big
Richard agora escreve histórias
para crianças.
"Sou tido como careta", assume o rapper, carioca radicado em
São Paulo desde 94, ano em que foi
preso em um show no Anhangabaú por, segundo os policiais militares que invadiram o palco,
"incitação à violência e desacato
à autoridade".
O motivo era a letra de "Homens da Lei", violenta crítica à polícia que volta em um medley com
"Polícia", dos Titãs, no disco
que Big Richard lança até o final
do mês (leia texto abaixo). O processo continua em andamento.
Nos livros, o neo-escritor quer
atingir a criançada negra. "Não
existe literatura infantil para o público negro", diz. "Só falando
sobre a Inglaterra, com crianças
loirinhas."
Como em muitas obras para pequenos, o primeiro livro de Big Richard tem como personagem central um herói, mas de carne e osso
e pele negra: Zumbi, o líder do
Quilombo dos Palmares.
"O negro só recebe informação sobre Zumbi quando já está na
universidade", diz Richard, que
pesquisou, escreveu o livro e pediu a um amigo, também negro,
que fizesse as ilustrações. Conseguiu publicar pela Planetinha Paz.
"O Rei Zumbi" é apresentado
como um herói da liberdade, que
defendia negros, brancos e índios
que não estavam satisfeitos com o
governo do Brasil Imperial.
É um livro simples, escrito em
linguagem popular, como outras
histórias do rapper também publicadas pela editora Planetinha Paz
na coletânea "Zeca e Juninho no
Mundo dos Homens". São três
contos a favor da igualdade interracial e entre os sexos, influenciados pela fé Baha'i- religião fundada no século 19 na Palestina.
"Acho que as pessoas têm que
ter uma religião, um ponto de
apoio. Gosto da idéia Baha'i de
igualdade na diversidade", diz.
Sobre as drogas, é duro, mas não
radical: não usa, mas respeita
quem fuma maconha.
Big Richard defende, porém, outros caminhos. "Acho que para
o pobre só há dois: ou vira "avião'
(quem faz a ligação do traficante
com o comprador) ou trabalha
muito e mostra do que é capaz. Eu
fui pelo segundo."
Para o rapper, uma pessoa pobre
envolvida com droga vive uma situação de perigo de vida. "Se ele
deve R$ 5 na "boca', morre fuzilado. Essa é a recuperação do pobre.
Pobre não tem clínica de desintoxicação", diz.
Para provar que não é conversa
fiada, ele será a estrela do novo
anúncio institucional da campanha contra as drogas, um videoclipe com um rap de sua autoria.
E já tem outros projetos. Prepara
um novo livro infantil, contando a
história de um menino que vende
balas no semáforo e é procurado
por traficantes de drogas, e escreve um roteiro para um curta à Spike Lee. "Quero fazer cinema negro brasileiro", promete.
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