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LIVRO - LANÇAMENTO
"Branco...' é feito de memória e fantasia
CECÍLIA SAYAD
da Redação
Infância marcada por constantes
viagens, amores frustrados, um
pai com Alzheimer, um romance a
ser escrito. Como pano de fundo, a
perspectiva de um tumor fatal, cuja verificação é sempre adiada.
Esse é o cenário em que se desenvolve o romance "Branco Como o
Arco-Íris", de Edgard Telles Ribeiro, uma obra que, como o autor definiu em entrevista por telefone à Folha, do Rio, levou sete
anos para ser escrita e tem um forte caráter autobiográfico.
Ribeiro, 53, é autor também de
"O Criado-Mudo" (editora 34),
"O Livro das Pequenas Infidelidades" e "As Larvas Azuis da Amazônia" (Companhia das Letras).
Atualmente, é embaixador do
Brasil na Nova Zelândia ("uma
embaixada criada há cerca de dez
meses"). Além da atividade diplomática, o escritor exerceu também
a de crítico de cinema. No final da
década de 60, escrevia para "O
Jornal", dos Diários Associados, e
para o "Correio da Manhã".
Leia a seguir os principais trechos da entrevista com o autor.
Folha - Em que medida sua paixão pelo cinema é responsável pela força que as imagens visuais
têm em seu romance?
Edgard Telles Ribeiro - Acho
que existe um elo muito estreito
entre a linguagem visual e minha
linguagem escrita porque desde
muito cedo tive uma forte paixão
pelo cinema. Sou um cineasta frustrado. Fiz alguns curtas-metragens
e nunca tive condições de dar o
grande salto para o longa.
Folha - Ao trabalhar sobre um
romance, o sr. se deixa levar pela
escrita ou traça um plano para saber os rumos que a história vai tomar?
Ribeiro - Não faço planos. Eu
tenho um impulso inicial, uma
imagem ou uma situação que me
marcou. Nunca me pergunto de
cara onde tal coisa vai me levar. E
também não escrevo por mais de
três horas seguidas, para não
avançar demais. Trabalho muito
cedo, a partir das cinco ou seis da
manhã. Aí paro, não só porque faço outras coisas, mas também porque não quero deixar a coisa
aguar. Passado um certo momento, a qualidade pode cair.
Folha - O fato de não saber para
onde o livro vai não é angustiante?
Ribeiro - Não. No começo era,
mas, depois que consegui atravessar o primeiro romance e os contos, perdi essa ansiedade. "As Larvas Azuis da Amazônia" é um livro que tinha uma situação narrativa impossível. Eu gostei disso.
Nunca houve um momento em
que dissesse "estou perdido, não
tem saída". O pior que pode acontecer é parar, interromper a obra e
considerar a coisa fracassada.
Folha - Seu livro tem um conteúdo bastante autobiográfico.
Ribeiro - Tem, é uma boa mistura de coisas que realmente aconteceram de uma forma quase documental, coisas que aconteceram
não exatamente daquele jeito e outras que foram fantasiadas, que
poderiam ter acontecido. Essa
mistura é uma espécie de pano de
fundo do livro.
Folha - E a perspectiva de um tumor no cérebro?
Ribeiro - Isso foi verdade. Havia uma chance remota de que
houvesse alguma coisa grave comigo na época. Tudo isso aconteceu há algum tempo atrás. Comecei a escrever "Branco..." em 91 e
engavetei. Como era uma coisa
muito pessoal, fui tirando a gordura até deixá-lo mais enxuto. O processo todo demorou uns sete anos.
O medo do tumor resolvi em seis
meses, período em que fui empurrando o livro com a barriga. De vez
em quando eu tinha a fantasia de
que era pra valer, de que eu iria
dançar. Mas já no final do livro eu
sabia que não tinha nada. É por isso que o romance acaba de uma
forma otimista, positiva.
Folha - Foi a possibilidade da
doença que o inspirou?
Ribeiro - Não, a doença era pano de fundo, não era central. Era
um dado da minha realidade e
também da minha fantasia. O que
inspirou o livro foram essas histórias que fui costurando.
Folha - O seu trabalho como escritor é mais um resultado de suas
experiências pessoais ou é o produto da observação de outras realidades?
Ribeiro - As duas coisas -é difícil separar uma da outra. Assim
como ficção e realidade se misturam muito, as experiências e observações acabam se fundindo. O
processo é uma fusão disso tudo.
Folha - Em que medida o sr.
acredita que deve guardar distanciamento com relação ao que relata?
Ribeiro - Para responder a essa
pergunta eu teria que partir do
pressuposto de que exerço um
controle sobre o que faço. É um
pouco como se dissesse "eu estou
usando essa técnica ou essa contenção". Mas não trabalho assim.
Pode até ser que exista um certo
distanciamento, mas não é uma
coisa deliberada. Talvez seja uma
proteção inconsciente.
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