São Paulo, sábado, 4 de julho de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Obra é baseada na simultaneidade

da Redação


Branco, segundo o dicionário "Aurélio": "Diz-se da impressão produzida no órgão visual pelos raios da luz não decomposta". Ou, mais simplesmente, uma mistura das cores básicas que compõem o arco-íris.
Se por um lado agrega (e reflete) muitos elementos, o branco é utilizado também para indicar ausência -de mácula, quando significa pureza, de memória, na expressão "dar branco".
"Branco Como o Arco-Íris", de Edgard Telles Ribeiro, é um livro construído sobre presenças e ausências.
O personagem-narrador é um publicitário que, enquanto adia uma tomografia que pode detectar um tumor no cérebro, e na luta para concluir seu terceiro romance, se vê habitado por memórias da infância e de amores.
Essas recordações evocam sensações de perda (os amores que não se concretizaram, os que não vingaram, a infância que não volta) e ganho (a riqueza das experiências vividas, o fato de as lembranças servirem de material à sua obra).

Literatura visual
Mas o branco não parece ter sido escolhido para o título somente por uma questão semântica.
Ele condiz com o caráter da escrita de Telles Ribeiro, muito forte em imagens visuais, e está presente em diversos momentos da vida do personagem -na neve da cidade em que viveu na infância, no tom da pele de seu mais recente relacionamento amoroso, na cor da tela de cinema que habita seus sonhos.
Trata-se de uma escrita sensorial, que se faz por meio de uma narrativa em que passado (ausência) e presente (presença) se misturam, na medida em que a memória evocada por pequenos detalhes do dia-a-dia e o cotidiano do personagem se alternam em seu discurso, rompendo com a linearidade temporal.
O presente convive tanto com o passado -recordações- quanto com o futuro -a perspectiva da doença terminal e a finalização do livro, que se compõe de todos esse elementos e, dessa forma, é o próprio romance que lemos.
Um romance, portanto, cuja confecção é um processo que o leitor acompanha e que, como o personagem (ou o autor), também traz em si a memória de sua formação e a perspectiva de um fim.
Assim, tanto a trajetória do personagem quanto a do livro que abriga suas memórias são compostas pela simultaneidade de tempos e de sensações, assim como a cor branca é o resultado da simultaneidade de raios de luz. Ou das cores do arco-íris.
(CS)


Livro: Branco Como o Arco-Íris
Autor: Edgard Telles Ribeiro
Lançamento: Companhia das Letras
Quanto: R$ 18 (136 págs.)



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.