São Paulo, sábado, 4 de julho de 1998

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LIVROS
Fotógrafo mostra 75 túmulos de famosos

Gregg Felsen/Reprodução
O túmulo de Karl Marx em Londres, que traz a frase "Trabalhadores de todo o mundo, uni-vos"


PATRICIA DECIA
da Reportagem Local

Que tipo de pessoa dedicaria 20 anos e uma pesquisa de mais de 30 mil páginas sobre túmulos e lápides? Pois o fotógrafo norte-americano Gregg Felsen escolheu como projeto de vida capturar "a curiosidade e o encanto" despertados pelos cemitérios, locais onde estão, em sua opinião, "as mais duradouras obras de arte".
O resultado final aparece em "Tombstones - Seventy-Five Famous People and Their Final Resting Places" (Lápides - Setenta e Cinco Pessoas Famosas e os Lugares de Seu Descanso Final), lançado nos Estados Unidos.
"Ao redor do mundo, quase todas as pessoas têm uma fascinação pelas formas desses memoriais, especialmente daqueles de escritores, cientistas, militares, heróis, artistas, esportistas, estadistas e músicos que tocaram nossas vidas e contribuíram muito para nossas sociedades", escreve Felsen.
Como prometido no título, a obra reúne fotos dos túmulos de personalidades de várias áreas (artes, política, ciência), acompanhadas de uma breve biografia (uma página), onde consta, entre outros dados, a causa da morte.
Para quem espera morbidez, ou um clima semelhante ao dos filmes de terror, o livro oferece uma surpresa. As fotos abusam da cor e da luminosidade, fazendo o observador quase esquecer que, debaixo dos túmulos de mármore e pedra, estão os corpos dos mortos.
Patriotismo
Apesar de incluir túmulos de cemitérios na Europa e personalidades -especialmente do mundo das artes- de várias nacionalidades, o livro de Felsen é marcado pelo patriotismo norte-americano, personificado exemplarmente nas figuras de seus heróis.
Vários presidentes, a começar por George Washington (1732-1799), pioneiros e pistoleiros do oeste selvagem, como Daniel Boone (1734-1820) e Wyatt Earp (1848-1929), e ídolos do esporte daquele país, como no caso do jogador de beisebol George Herman "Babe" Ruth (1895-1948), são exaltados no livro -tendo quase sempre ao lado dos túmulos a bandeira dos EUA.
Esse ufanismo está expresso não só na escolha dos nomes, mas também nos textos. Ao falar sobre o general Custer (1839-1876), que liderou batalhas contra os índios sioux e cheyenne, não há referências à matança desses povos.
O principal problema, no entanto, é a total falta de referências sobre as lápides em si. Não são explicados dados como o simbolismo de determinadas imagens, quem são os autores dos monumentos e os motivos que levaram, por exemplo, à colocação de uma estátua do escritor irlandês James Joyce (1882-1941), autor de "Ulisses", em cima de sua sepultura.
Os escritores, aliás, oferecem algumas das melhores fotos. A escolhida para a capa, por exemplo, é a do túmulo de Júlio Verne (1828-1905), considerado o pai da ficção científica e autor, entre outros, de "20 Mil Léguas Submarinas" e "Viagem ao Mundo em 80 Dias", enterrado na França.
Outra imagem impressionante é a "gruta" que abriga os restos mortais do poeta Walt Whitman , num cemitério de Nova Jersey (Estados Unidos).
No mínimo curiosas são as sepulturas do gângster Al Capone (1899-1947), enterrado, como não poderia deixar de ser, na cidade de Chicago, e do pensador alemão Karl Marx, no cemitério de Highgate, em Londres, ornada no topo com uma grande estátua reproduzindo apenas sua cabeça.
Numa seara mais pop, há o ator James Dean (1931-1955) e o rock star Elvis Presley (1935-1977). Mesmo assim, uma ausência causa protesto. Felsen ignorou uma das sepulturas mais visitadas por jovens de todo o mundo, a do cantor Jim Morrison, dos Doors.


Livro: Tombstones - Seventy-Five Famous People and Their Final Resting Places Autor: Gregg Felsen Lançamento: Ten Speed Press Quanto: US$ 19,95 (151 págs.) Onde encomendar: livraria Cultura (www.livcultura.com.br) e Amazon (www.amazon.com)


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