São Paulo, sexta-feira, 04 de agosto de 2000


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CRÍTICA
"60 Segundos" é farsa industrial

SÉRGIO RIZZO
ESPECIAL PARA A FOLHA

É bem para lá de impossível a missão de Randall "Memphis" Raines (Nicolas Cage) em "60 Segundos", mas não é a falta de verossimilhança que emperra o filme. Estão aí as séries 007 e Indiana Jones para lembrar que as peripécias do cinema de ação correspondem a uma lógica própria.
Desrespeita-se a física desde que se respeite a psicologia. James Bond só faz maluquice quando não tem outra alternativa e jamais vira de costas para o vilão.
A tarefa mirabolante de "Memphis" é roubar 50 carros raros em 72 horas -depois, menos de um dia. Até aí, nada de mais. E por quê? Seu irmão caçula, Kip (Giovanni Ribisi), comprometeu-se a entregar essa encomenda a um gânsgter (Christopher Eccleston). Como não conseguiu, tem a cabeça colocada a prêmio.
As chances de Kip estão nas mãos de "Memphis". Se ele descolar a frota naquele prazo, a falha será perdoada. Caso contrário, o irmãozinho morre.
Tamanha insensatez em um mundo de supostos escroques profissionais desdobra-se, a partir daí, em diálogos idiotas e situações risíveis.
Pode-se culpar o diretor Dominic Sena ("Kalifornia") e o roteirista Scott Rosenberg ("Con Air -0A Rota da Fuga") por isso, mas é melhor passar por cima dos intermediários e reclamar direto com o produtor Jerry Bruckheimer, o brucutu por trás de pérolas como "Flashdance" (1983), "Top Gun" (1986), "Dias de Trovão" (1990), "Mentes Perigosas"(1995) e "Armageddon" (1998).
Aqui, ele exorbitou. Como o apelo do filme -Angelina Jolie à parte- são os carros de colecionador e as cenas de perseguição, houve um desprezo quase cínico em relação ao restante.
O resultado é uma aventura para consumo exclusivo de fanáticos por automóveis, com algumas sequências que só podem impressionar quem não viu "Operação França" (1971), "Velocidade Máxima" (1994) ou até mesmo "Ronin" (1998). E, se a graça da brincadeira são os puxadores de carros, melhor ficar com os de Alex Cox em "Repo Man - A Onda Punk" (1984).
Bruckheimer não se dá ao trabalho de informar nos créditos iniciais que "60 Segundos" é uma refilmagem de "Gone in 60 Seconds" (1974), de H. B. "Toby" Halicki, produção independente que virou cult.
Tinha uma sequência de perseguição de 40 minutos e destruía 93 carros em uma hora e meia. Halicki morreu em um acidente de filmagem, em 1989, quando rodava a continuação.
Sua viúva, Denice Shakarian Halicki, é uma das produtoras executivas de "60 Segundos". Não evitou que a história, independente de seu marido, se repetisse como farsa industrial.


60 Segundos
Gone in Sixty Seconds   Direção: Dominic Sena Produção: EUA, 2000 Com: Nicolas Cage, Angelina Jolie, Giovanni Ribisi Quando: a partir de hoje nos cines ABC Plaza Shopping 6 e 7, Astor, Interlagos 3, 6 e 7, Metrô Tatuapé 7 e 8 e circuito




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