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CRÍTICA
"60 Segundos" é farsa industrial
SÉRGIO RIZZO
ESPECIAL PARA A FOLHA
É bem para lá de impossível a
missão de Randall "Memphis" Raines (Nicolas Cage) em
"60 Segundos", mas não é a falta
de verossimilhança que emperra
o filme. Estão aí as séries 007 e Indiana Jones para lembrar que as
peripécias do cinema de ação correspondem a uma lógica própria.
Desrespeita-se a física desde
que se respeite a psicologia. James
Bond só faz maluquice quando
não tem outra alternativa e jamais
vira de costas para o vilão.
A tarefa mirabolante de "Memphis" é roubar 50 carros raros em
72 horas -depois, menos de um
dia. Até aí, nada de mais. E por
quê? Seu irmão caçula, Kip (Giovanni Ribisi), comprometeu-se a
entregar essa encomenda a um
gânsgter (Christopher Eccleston).
Como não conseguiu, tem a cabeça colocada a prêmio.
As chances de Kip estão nas
mãos de "Memphis". Se ele descolar a frota naquele prazo, a falha
será perdoada. Caso contrário, o
irmãozinho morre.
Tamanha insensatez em um
mundo de supostos escroques
profissionais desdobra-se, a partir
daí, em diálogos idiotas e situações risíveis.
Pode-se culpar o diretor Dominic Sena ("Kalifornia") e o roteirista Scott Rosenberg ("Con Air
-0A Rota da Fuga") por isso, mas
é melhor passar por cima dos intermediários e reclamar direto
com o produtor Jerry Bruckheimer, o brucutu por trás de pérolas
como "Flashdance" (1983), "Top
Gun" (1986), "Dias de Trovão"
(1990), "Mentes Perigosas"(1995)
e "Armageddon" (1998).
Aqui, ele exorbitou. Como o
apelo do filme -Angelina Jolie à
parte- são os carros de colecionador e as cenas de perseguição,
houve um desprezo quase cínico
em relação ao restante.
O resultado é uma aventura para consumo exclusivo de fanáticos por automóveis, com algumas
sequências que só podem impressionar quem não viu "Operação
França" (1971), "Velocidade Máxima" (1994) ou até mesmo "Ronin" (1998). E, se a graça da brincadeira são os puxadores de carros, melhor ficar com os de Alex
Cox em "Repo Man - A Onda
Punk" (1984).
Bruckheimer não se dá ao trabalho de informar nos créditos
iniciais que "60 Segundos" é uma
refilmagem de "Gone in 60 Seconds" (1974), de H. B. "Toby"
Halicki, produção independente
que virou cult.
Tinha uma sequência de perseguição de 40 minutos e destruía
93 carros em uma hora e meia.
Halicki morreu em um acidente
de filmagem, em 1989, quando rodava a continuação.
Sua viúva, Denice Shakarian
Halicki, é uma das produtoras
executivas de "60 Segundos". Não
evitou que a história, independente de seu marido, se repetisse
como farsa industrial.
60 Segundos
Gone in Sixty Seconds
Direção: Dominic Sena
Produção: EUA, 2000
Com: Nicolas Cage, Angelina Jolie,
Giovanni Ribisi
Quando: a partir de hoje nos cines ABC
Plaza Shopping 6 e 7, Astor, Interlagos 3,
6 e 7, Metrô Tatuapé 7 e 8 e circuito
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