São Paulo, sábado, 04 de agosto de 2001

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TELEVISÃO

No mês do aniversário de 89 anos do escritor baiano, programas inéditos no GNT e na HBO prestam homenagem

Série põe palavras de Jorge Amado no ar

CYNARA MENEZES
DA REPORTAGEM LOCAL

Zélia Gattai está escrevendo seu romance "Crônica de uma Namorada" (Record, 1995), quando subitamente pára. O marido, Jorge Amado, sentado em frente, pergunta: "O que foi?". Ela diz: "É que meu personagem está avançando o sinal, tocando uma menininha. Vou fazer ele parar". Jorge: "Não, faça a menina ir embora". E Zélia: "Mas ela está gostando!". Ele ri, maroto: "Ela está gostando, é? Então não se meta na vida dos outros, minha filha".
Esta e outras histórias saborosas estão em "Palavras no Ar: Jorge Amado", série com quatro episódios de quatro minutos cada um que começa a ser exibida amanhã pelo canal a cabo HBO (TVA e DirecTV). No dia 2 de setembro, vai ao ar uma entrevista exclusiva de 20 minutos feita no início do ano passado com o escritor, que no próximo dia 10 completa 89 anos.
A entrevista foi feita originalmente pela Abril Produções e estava inédita quando foi adquirida pela HBO, que, ao gravar o "Palavras no Ar" em Salvador, entre junho e julho do ano passado, ficou impedida de conversar com Amado, já com problemas de saúde. Nos trechos em que aparece, intercalando as entrevistas de Zélia e dos amigos nos programas menores da série, o escritor está abatido e com voz enfraquecida.
O primeiro episódio a ir ao ar é "O Amado de Zélia", um retrato pessoal do escritor a partir do depoimento das pessoas mais chegadas. Começa com Zélia Gattai contando como se conheceram, em 1945, em meio à agitação da militância comunista, e de como ele a seduziu com um poema que iniciava assim: "Te darei um pente/ Para teus cabelos penteares".
A filha de ambos, Paloma, reconhece que entre seu primeiro livro, "O País do Carnaval" (1931), e "Os Subterrâneos da Liberdade" (1954), havia uma "rigidez" na obra do pai, causada pelo envolvimento com a política, só quebrado em "Gabriela" (1958) -Amado livra-se, então, do comunismo para libertar sua literatura. Paloma descreve o jeito dele de escrever, usando dois dedos apenas e sempre à máquina, fazendo as correções mais tarde, à mão.
Um bom trecho do episódio é dedicado à amizade. Jorge Amado é uma pessoa de muitos amigos, avaliam os seus. O artista plástico baiano Calasans Neto, uma das pessoas que desfrutam do convívio com os Amado na Casa do Rio Vermelho, em Salvador, chega a exagerar: "Ele não é uma pessoa, é uma religião". Outra conterrânea, a escritora Myriam Fraga, diz que Amado não só descobriu "sua" Bahia para o mundo, como para os próprios baianos.
A seguir, virão "Criaturas Amadas", "Amado da Bahia" e "Simplesmente Jorge", todos produzidos por Renata Afonso com supervisão de Maria Ângela de Jesus. A entrevista encerra a série.
No próximo sábado, dia 11 -no dia seguinte ao aniversário- é a vez do canal GNT (Net e Sky) apresentar outra atração sobre o escritor baiano: um documentário de uma hora de duração dirigido por João Moreira Salles dentro da série "Grandes Nomes".


PALAVRAS NO AR: JORGE AMADO. Amanhã e dias 12, 19 e 26, sempre às 20h55, e dia 2/9, às 20h30, na HBO.

GRANDES NOMES: JORGE AMADO. Dia 11, ao meio-dia e às 17h, no GNT.



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