|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"RKO 281"
Telefilme "RKO 281" desvenda bastidores de "Cidadão Kane"
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
"Cidadão Kane" é um marco incontornável da história do cinema não apenas por ter
virado do avesso a narrativa cinematográfica clássica, mas pelo
impacto que causou no sistema
dos estúdios e nas relações destes
com a chamada opinião pública.
O telefilme "RKO 281", que o canal por assinatura HBO exibe
amanhã, às 22h, centra seu foco
justamente nessa espécie de crise
institucional que o filme provocou e que tornou seu realizador,
Orson Welles, uma "persona non
grata" em Hollywood.
Como se sabe, Welles escolheu
como tema, para seu filme de estréia, o retrato labiríntico de um
grande magnata da imprensa.
Inspirou-se em William Randolph Hearst, dono da maior rede
de jornais e emissoras de rádio
dos EUA. Embora as filmagens tenham sido cercadas de sigilo pela
RKO -que tocava o projeto sob o
título de trabalho "RKO 281"-,
Hearst acabou sabendo da história toda e tentou impedir "Cidadão Kane" de vir à luz.
Chantageados por Hearst, que
ameaçava denunciar os escândalos mais escabrosos de Hollywood em seus jornais, os chefões
dos estúdios pressionaram a RKO
para queimar o negativo e as cópias do filme. Dirigido por Benjamin Ross ("O Livro Secreto do Jovem Envenenador") "RKO 281"
reconstitui ficcionalmente essa
rede de intrigas. Além disso, procura traçar a gênese do filme, desde o amadurecimento da idéia até
os percalços das filmagens.
Embora o destaque seja para as
relações conflituosas entre Welles
(Liev Schreiber) e o roteirista Herman Mankiewicz (John Malkovich), há espaço para as discussões entre o cineasta e o diretor de
fotografia Greg Toland (Liam
Cunningham).
O que há de mais discutível em
"RKO 281" é o fato de assumir
"Cidadão Kane" como um "roman à clé" em sentido estrito,
com seus personagens correspondendo a figuras reais. Por exemplo, a amante de Hearst, a atriz
Marion Davies (Melanie Griffith),
é apresentada como modelo único da estúpida e sem talento Susan Alexander, a última mulher
de Kane.
Ao fazer isso, o telefilme indiretamente dá razão aos argumentos
censórios de Hearst e diminui a
importância da imaginação de
Mankiewicz e Welles na construção da história e dos personagens.
Seja como for, "RKO 281" é um
eficiente melodrama televisivo
que envolve o espectador ao mesmo tempo que o introduz nos
bastidores nada edificantes da
cultura de massa americana.
Ganhou o Globo de Ouro de
melhor filme para a TV.
RKO 281
Produção: EUA, 1999
Direção: Benjamin Ross
Com: Liev Schreiber, John Malkovich,
James Cromwell, Melanie Griffith
Quando: amanhã, às 22h, na HBO
Texto Anterior: Televisão: Série põe palavras de Jorge Amado no ar Próximo Texto: Música: Gravadoras nacionais ignoram o centenário de Louis Armstrong Índice
|