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CINEMA
"Deixe-me Viver", com Michelle Pfeiffer e Renée Zellweger no elenco, tem adolescente como centro da narrativa
Dramalhão é retrato falso da família desajustada
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
"Deixe-me Viver" é o caso
raro de um título em português mais adequado que o original, "White Oleander". Ao menos, faz uma referência direta ao
tipo de filme que ele pretende ser,
sem sucesso: uma modernização
do melodrama feminino dos anos
1950, como "Quero Viver!", com
Susan Hayward (1958), ou "As
Três Faces de Eva", com Joanne
Woodward (1957). De quebra,
seu escancarado apelo comercial
é mais honesto com o espectador
sobre o que ele vai encontrar, um
telefilme ralo, sem categoria.
O "Oleander" do enigmático título em inglês é uma planta venenosa, usada por Ingrid Magnussen (Michelle Pfeiffer) para eliminar o namorado que lhe deu o fora. Mas a vítima desse veneno acaba sendo a filha de Ingrid, Astrid
(Alison Lohman), adolescente
abandonada à sorte do juizado de
menores e de lares adotivos depois que sua mãe vai presa.
Em três anos, Astrid sofre como
o diabo, passa por três novas famílias e, em todas elas, tem experiências desastrosas. Na primeira,
acaba levando um tiro da própria
mãe adotiva (Robin Wright
Penn), enciumada com sua presença. No segundo, entende-se às
maravilhas com Claire (Renée
Zellweger), mas ela se mata depois que o marido sai de casa, justamente, por causa de Astrid. Por
fim, mais crescida e amadurecida,
se estabelece na casa de Rena
(Svetlana Efremova), imigrante
russa que só pensa em ganhar dinheiro e põe os vestidos mais caros da garota para vender em seu
brechó ao ar livre.
Não pense, pelo panorama acima, que "Deixe-me Viver" é um
retrato franco das famílias desfuncionais dos Estados Unidos da
América. Esse retrato é falso, feito
com um discurso envelhecido,
que ninguém aguenta mais ouvir.
O infortúnio de Astrid se alterna
às suas visitas à prisão, onde a
mãe, que no fundo é uma louca,
fica tentando lhe dar lições do que
é arte e liberdade.
Por fim, há um erro básico na
escolha de Michelle Pfeiffer para
viver Ingrid. Em anos de prisão,
ela aparece no pátio da cadeia como se estivesse em um comercial
de xampu. Um trabalho que se
compromete ainda mais se comparado ao de Robin Wright Penn,
que faz o único retrato de fato interessante do filme ao interpretar
uma loura alcoólatra e viciada que
se torna evangélica, quase uma fanática religiosa. Em sua participação existe mais autenticidade do
que em todas as outras mulheres
de "Deixe-me Viver".
Deixe-me Viver
White Oleander
Produção: EUA/Alemanha, 2002
Direção: Peter Kosminsky
Com: Michelle Pfeiffer, Renée Zellweger,
Robin Wright Penn
Onde: em cartaz em SP nos cines
Kinoplex Itaim, SP Market 1 e circuito
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