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São Paulo, segunda-feira, 04 de agosto de 2003

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CINEMA

"Deixe-me Viver", com Michelle Pfeiffer e Renée Zellweger no elenco, tem adolescente como centro da narrativa

Dramalhão é retrato falso da família desajustada

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

"Deixe-me Viver" é o caso raro de um título em português mais adequado que o original, "White Oleander". Ao menos, faz uma referência direta ao tipo de filme que ele pretende ser, sem sucesso: uma modernização do melodrama feminino dos anos 1950, como "Quero Viver!", com Susan Hayward (1958), ou "As Três Faces de Eva", com Joanne Woodward (1957). De quebra, seu escancarado apelo comercial é mais honesto com o espectador sobre o que ele vai encontrar, um telefilme ralo, sem categoria.
O "Oleander" do enigmático título em inglês é uma planta venenosa, usada por Ingrid Magnussen (Michelle Pfeiffer) para eliminar o namorado que lhe deu o fora. Mas a vítima desse veneno acaba sendo a filha de Ingrid, Astrid (Alison Lohman), adolescente abandonada à sorte do juizado de menores e de lares adotivos depois que sua mãe vai presa.
Em três anos, Astrid sofre como o diabo, passa por três novas famílias e, em todas elas, tem experiências desastrosas. Na primeira, acaba levando um tiro da própria mãe adotiva (Robin Wright Penn), enciumada com sua presença. No segundo, entende-se às maravilhas com Claire (Renée Zellweger), mas ela se mata depois que o marido sai de casa, justamente, por causa de Astrid. Por fim, mais crescida e amadurecida, se estabelece na casa de Rena (Svetlana Efremova), imigrante russa que só pensa em ganhar dinheiro e põe os vestidos mais caros da garota para vender em seu brechó ao ar livre.
Não pense, pelo panorama acima, que "Deixe-me Viver" é um retrato franco das famílias desfuncionais dos Estados Unidos da América. Esse retrato é falso, feito com um discurso envelhecido, que ninguém aguenta mais ouvir. O infortúnio de Astrid se alterna às suas visitas à prisão, onde a mãe, que no fundo é uma louca, fica tentando lhe dar lições do que é arte e liberdade.
Por fim, há um erro básico na escolha de Michelle Pfeiffer para viver Ingrid. Em anos de prisão, ela aparece no pátio da cadeia como se estivesse em um comercial de xampu. Um trabalho que se compromete ainda mais se comparado ao de Robin Wright Penn, que faz o único retrato de fato interessante do filme ao interpretar uma loura alcoólatra e viciada que se torna evangélica, quase uma fanática religiosa. Em sua participação existe mais autenticidade do que em todas as outras mulheres de "Deixe-me Viver".


Deixe-me Viver
White Oleander
 
Produção: EUA/Alemanha, 2002
Direção: Peter Kosminsky
Com: Michelle Pfeiffer, Renée Zellweger, Robin Wright Penn
Onde: em cartaz em SP nos cines Kinoplex Itaim, SP Market 1 e circuito



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