São Paulo, quinta-feira, 04 de agosto de 2011 |
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CRÍTICA DRAMA "45 Minutos" é experiência radical acessível ao público
LUIZ FERNANDO RAMOS CRÍTICO DA FOLHA As tensões de um monólogo. "45 minutos", encenação de Roberto Alvim a partir de um texto de Marcelo Pedreira, é a síntese feliz de um embate produtivo entre dramaturgo e encenador. Um ator se apresenta diante do público hesitante e sem motivação. Deixa claro que não tem nada para contar e que sua presença ali é uma imposição externa, um martírio que compartilhará com os assistentes nos três quartos de hora seguintes. Pelo seu discurso não há trama ser desenvolvida, mas o espetáculo em curso o contradiz, afirma uma dimensão fabular e provoca inevitável reflexão sobre a teatralidade. A direção de Roberto Alvim dialoga com a tradição de textos dramáticos do século 20 que fizeram da relação problemática entre ator e espectador seu tema. O mais famoso deles é "Insulto ao Público" (1966), do austríaco Peter Handke. Com o discurso cênico que estabelece, pontuando milimetricamente todas as falas do personagem, Alvim intensifica as dificuldades para o ator que o encarna e o patético da situação. Caco Ciocler assume o desafio com desassombro e realiza um dos trabalhos mais interessantes de sua carreira. Ator renomado pelas telenovelas, ele trabalha na contramão das expectativas. Constrói sua caracterização explorando as falhas, os brancos e os silêncios. O personagem quase colapsa ao servir-se do parco estoque de truques de que ainda dispõe e que, fragilizado, revela. A cenografia quase inexistente, que consiste na palavra "teatro" escrita no fundo do palco em letras garrafais, explicita a ironia dominante do espetáculo. Se ali já não se representa nada, havendo só um ator nauseado tentando entreter o público, não deixa de haver teatro, ou alguém fazendo cena. Pelo menos é o que vários lances precisos e cortantes de luz e som operados sugerem. A dramaturgia de Marcelo Pedreira não apontava necessariamente para essa solução. Participante de uma nova geração de autores cariocas, seu texto poderia ter sido encenado de uma forma mais leve e ligeira. A opção pela gravidade e pelos tons escuros reflete o projeto estético que Roberto Alvim vem obrando no seu grupo Club Noir. É da tensão entre essas duas correntes teatrais, cristalizada no trabalho de um grande intérprete, que emergem as virtudes de "45 Minutos". Não é só mais um monólogo de ator global. É experiência de teatro radical, acessível ao grande público. 45 MINUTOS QUANDO qui. a sáb., às 21h; dom., ás 20h; até 14/8 ONDE CCSP (rua Vergueiro, 1.000; tel. 0/xx/11/3397-4002) QUANTO R$ 20 CLASSIFICAÇÃO 14 anos AVALIAÇÃO livre Texto Anterior: Rubricas Próximo Texto: Ítalo Rossi arrancou elogios já na estreia Índice | Comunicar Erros |
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