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FREUD
Exposições paralelas traçam relações entre o movimento cultural e a história do freudismo no Brasil
Mostra liga psicanálise e modernismo
da Reportagem Local
A exposição "Freud: Conflito &
Cultura", que chega a São Paulo
em setembro do ano que vem, será acompanhada de duas mostras
paralelas e simultâneas, uma sobre a história do freudismo e da
psicanálise no Brasil e outra sobre
as relações do movimento modernista brasileiro com a psicanálise e seu fundador, Sigmund
Freud (1856-1939).
As duas exposições paralelas na
verdade se cruzam -e por várias
razões. A começar por uma, fundamental: Durval Marcondes
(1899-1981), considerado o precursor da psicanálise no Brasil,
chegou a colaborar com a revista
"Klaxon", o "mensário de arte
moderna", como se chamava, em
torno do qual se reuniu a elite do
movimento modernista em São
Paulo, a turma da Semana de 22.
Em agosto de 22, Marcondes
publica o poema "Symphonia em
Branco e Preto", num número de
"Klaxon" em que também comparecem o escritor Mário de Andrade e o historiador Sérgio Buarque de Holanda, entre outros.
"A relação entre a psicanálise e
o modernismo é mais intensa do
que comumente se pensa", diz o
crítico de arte Olívio Tavares de
Araújo, um dos curadores, ao lado do psicanalista Leopold Nosek, das mostras brasileiras.
Ele cita até aspectos pitorescos
dessa relação, como o fato de o escritor Oswald de Andrade ter ele
mesmo improvisado o seu consultório de psicanálise e "analisado" alguns de seus amigos. Sabe-se, além disso, que Freud é citado
no "Manifesto Antropófago", publicado no número inaugural da
"Revista de Antropofagia", em
maio de 1928, por Oswald.
Alguns elos da psicanálise com
o modernismo estão retratados
no livro "Álbum de Família: Imagens, Fontes e Idéias da Psicanálise em São Paulo", obra coletiva
editada por Leopold Nosek e publicada em 1994 pela Casa do Psicólogo e a Sociedade Brasileira de
Psicanálise de São Paulo.
"Pansexualismo"
Há histórias curiosas no livro. O
médico Francisco Franco da Rocha (1864-1933), idealizador e
fundador do Hospital Psiquiátrico do Juqueri, foi o primeiro a falar em psicanálise na Faculdade
de Medicina de São Paulo. Sua aula inaugural, em 1919, versava sobre a "Doutrina de Freud".
No ano seguinte, Franco da Rocha publica um livro chamado "A
Doutrina Pansexualista de
Freud". Estimulado anos depois
por seu ex-aluno Durval Marcondes, Franco da Rocha reedita a
obra em 1930, mas abole o "pansexualista" do título, pressionado
pelo ambiente médico da época.
Marcondes funda a Sociedade
Brasileira de Psicanálise em 1927.
Chega a se corresponder com
Freud que, em novembro de 1926,
lhe envia a primeira carta: "Meu
prezado senhor", escreve Freud,
"infelizmente não domino o seu
idioma, mas, graças aos meus conhecimentos da língua espanhola, pude deduzir que (...) sua intenção é aproveitar os conhecimentos adquiridos em Psicanálise nas belas letras, e, de modo geral, despertar o interesse de seus
compatriotas por nossa ciência".
Espantado com essa gentileza
inusitada, Marcondes escreve:
"Minha intenção era dar apenas a
Freud que, para mim, não poderia entender nada do meu idioma,
a noção de que, num lugar tão distante da civilização européia,
cheio de índios e serpentes, havia
alguém que ousava se interessar
pela "nossa jovem ciência'".
(FBS)
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