São Paulo, Sábado, 04 de Setembro de 1999
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As origens do discurso nativista

MAURICIO PULS
da Redação

"Cronistas do Descobrimento", dos historiadores Antonio Carlos Olivieri e Marco Antonio Villa, constitui uma boa síntese dos escritos dos europeus que aportaram no país no início da colonização.
Os relatos de viagem nascem do espanto: os cronistas não se cansam de destacar as diferenças entre a Europa e a América, comparando a natureza e os homens. Dessa avaliação resulta um discurso que, em geral, tende a ressaltar as qualidades (reais ou supostas) do Brasil em contraste com os defeitos (sobejamente conhecidos) da Europa.
Formulada inicialmente pelos europeus, essa literatura de exaltação da nova terra acabou fornecendo as bases ideológicas para os movimentos nativistas que, a partir do século 17, passaram a defender a independência do país.
De cada relato, os historiadores selecionaram os trechos mais significativos, todos precedidos de uma introdução com a biografia do cronista e o resumo da obra.
O primeiro texto é a "Carta do Achamento do Brasil", de Pero Vaz de Caminha, que narra o descobrimento do Brasil. De linguagem clara e fluente, ela é a primeira obra de celebração da nova terra, "muito chã e muito formosa".
A narrativa de Caminha é complementada pelo "Relato do Piloto Anônimo" (1501), que traz informações adicionais sobre a viagem de Cabral, como o encontro da frota com uma expedição de Américo Vespúcio que se dirigia ao Brasil.
Em seu "Diário da Navegação", Pero Lopes de Souza descreve a expedição comandada por seu irmão Martim Afonso de Souza, em 1531.
Seguem-se dois escritos do padre Manoel da Nóbrega, entre os quais o "Diálogo sobre a Conversão do Gentio", no qual sustenta que os índios não deviam ser escravizados, pois "têm alma como nós".
De Anchieta foram selecionados um poema ("A Santa Inês") e uma carta sobre a conversão dos índios.
André Thevet, francês que viveu no Rio de 1555 a 1556, publicou "As Singularidades da França Antártica", no qual faz comentários sobre a religião dos índios e uma curiosa descrição da bananeira, uma árvore admirável que "nunca produz fruto mais de uma vez". Jean de Léry, outro francês que morou no país, escreveu "Viagem à Terra do Brasil", que encerra uma excelente descrição dos costumes indígenas.
O alemão Hans Staden publicou, em 1557, "Duas Viagens ao Brasil", no qual narra suas aventuras no litoral. Viveu por mais de nove meses entre os tupinambás, sempre sob ameaça de ser devorado. Sua obra contém valiosas observações sobre as sociedades tribais.
A "História da Província de Santa Cruz" (1576), de Pero de Magalhães Gandavo, exaltava de tal forma as riquezas da colônia que acabou estimulando a migração de portugueses para o Brasil, onde "nenhum pobre anda pelas portas a mendigar como nestes reinos".
Nos "Tratados da Terra e da Gente do Brasil", o padre Fernão Cardim apresenta as plantas e animais da colônia. Já o "Tratado Descritivo do Brasil" (1587), de Gabriel Soares de Souza, é uma pequena enciclopédia sobre o Brasil, com destaque para a capitania da Bahia.


Livro: Cronistas do Descobrimento Autores: Antonio Carlos Olivieri e Marco Antonio Villa Lançamento: editora Ática Quanto: R$ 9,90 (150 págs.)


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