São Paulo, sábado, 4 de outubro de 1997.




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RESENHAS
'Clube do Fogo' é suspense sofisticado

RODOLFO LUCENA
Editor de Informática

"O Clube do Fogo do Inferno" é um ótimo título. Instigante, pode levar um quase-futuro-leitor a imaginar muitas possibilidades, antes de comprar o livro.
Mas está longe de ser o centro da obra de Peter Straub, que a Bertrand Brasil está lançando.
Os personagens se cruzam no clube, onde jovens ricos se esbaldam. Recordações desses momentos se transformam em revelações para a heroína Nora Chancel.
Ela, sim, é um dos esteios desse suspense sofisticado, complexo e, ao mesmo tempo, cheio de drama, sangue e sexo. Seu oponente direto é o vilão sem nenhum caráter, Richard Dart, priápico estuprador e assassino de velhinhas.
Mas seu desafio mesmo é o da luta pelo conhecimento, por desvendar o mistério que envolve um escritor, Hugo Driver, sua obra maior, "Jornada na Noite", e outras jornadas menores. Tudo fica mais difícil porque o fio da meada está lá nos idos dos anos 30, perdido no tempo e enredado em mentiras, dissimulações e cadáveres.
Essas duas histórias -a luta contra Dick Dart e a busca da verdade sobre Driver- são trançadas com carinho e vigor por Straub, que conduz o leitor com ritmo rápido o suficiente para ninguém querer largar a obra.
Mais conhecido por livros de horror, Peter Straub investe aqui num suspense detetivesco. As investigações literárias de Nora Chancel, uma cinquentona malcasada, dão água na boca.
As descobertas e reconstruções dos debates e das intrigas que pululavam em um microcircuito de autores são vivas, lembram a fofocalhada que circundava o seleto círculo dos frequentadores do Algonquin, cujo bar reuniu a nata dos escritores norte-americanos na primeira metade do século.
Ela faz mais: compara textos, desencava semelhanças; baseada nas palavras, revela a mão e o cérebro que se escondem sob falsos nomes.
Esses são os melhores trechos do livro, em que a investigação ganha verniz erudito, sem ficar chata.
O trabalho da heroína -que talvez possa salvar seu casamento ou, pelo menos, soprar mais orgulho e hombridade ao marido- é feito em meio a um drama muito maior, em que sua vida está sob a ponta de faca e a mira de revólver.
Sob o jugo de Dick Dart acontecem os melhores trechos da personalidade thriller do livro. Ele arrisca fugas performáticas, estupra Chancel e outras tantas, mata sem pestanejar, lambe os beiços planejando mortes, troca tiros em cenas dignas de filme de John Woo.
Nessas horas, dá até para duvidar do comportamento da vítima. "Por que ela não foge agora?", alguém poderia perguntar em vários momentos. Ela mesma responde.
Mas aí você já está imerso na história, conquistado, e quer ir até o fim. O pior, talvez, tenha sido o começo. Os personagens são apresentados aos montes, fica difícil guardar seus nomes na hora, a história demora um pouco para se delinear, nada é muito óbvio.
Então Peter Straub lança algumas iscas apetitosas, e o leitor cai de cabeça em "O Clube do Fogo do Inferno".

Livro: O Clube do Fogo do Inferno Autor: Peter Straub Lançamento: Bertrand Brasil Quanto: R$ 44 (602 págs.)


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