MARCELO VALLETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de passar por uma experiência traumática -o estúdio da banda foi destruído por um incêndio em julho do ano passado-, o grupo baiano de rock brincando de deus (assim mesmo, com minúsculas) lança seu terceiro CD (leia ao lado).
O disco foi gravado com equipamento emprestado de outras bandas de Salvador, onde o quarteto nasceu, em 1991, por iniciativa do vocalista Messias Guimarães Bandeira, 34, que já se apresentava com grupos de rock na cidade desde 1983, quando abandonou um monastério beneditino, onde ficou por um ano.
"No incêndio, perdemos nossos instrumentos, amplificadores, material inédito, objetos pessoais... Até minha árvore de Natal de 2,5 m foi destruída", diz Messias. "Gravar um disco foi a maneira de manter o grupo unido."
A gravação e a prensagem de "brincando de deus" foram patrocinadas por um convênio entre um estúdio de Salvador e a Secretaria de Cultura e Turismo do governo da Bahia. "A gente precisou recorrer a esse artifício, porque a rigidez do axé business é muito grande, e o mercado não investe na diversidade", diz.
O projeto, chamado de Emergentes da Madrugada, oferece aos músicos da cidade a chance de usar o estúdio para gravar no período de 0h às 7h. "Foi cansativo. Chegávamos ao estúdio depois do trabalho, cada dia com instrumentos diferentes, pois eram emprestados, e tínhamos de montar o set, passar o som... Começávamos a gravar lá pelas 4h, para desmontar tudo e ir embora às 7h."
Com letras em inglês -o português aparece esparsamente, em algumas canções-, o grupo também busca referências na literatura e no cinema. "Fico preocupado com o hermetismo, mas estamos aqui para mostrar que é possível fazer rock honesto, sério, sem palavrão ou pose de mau", diz.
As letras em inglês são para veicular a banda no exterior, segundo Messias. "Tom Zé canta em inglês, até guardador de carro em Salvador fala inglês. Nosso plano sempre foi dominar o mundo, mas não pelo discurso fácil." Além dos CDs brasileiros, a banda já participou de coletâneas no Japão, nos EUA e na Europa.
O grupo trabalha para conseguir shows em São Paulo, Rio, Curitiba, Belo Horizonte, Brasília, Goiânia, Aracaju, Recife, Fortaleza e outras cidades, sem cobrar cachê, tocando apenas em troca das passagens e da hospedagem.
Messias, que é professor de jornalismo e de produção cultural na Universidade Federal da Bahia, também prepara sua tese de doutorado em comunicação, enfocando música e cibercultura -o site da banda, www.deus.art.br, está na rede há mais de seis anos.


Texto Anterior: Regente adquiriu prestígio mundial
Próximo Texto: Banda opera um milagre
Índice