|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
DOCUMENTÁRIO
"Não tenho imaginação", diz Cartier-Bresson
EDER CHIODETTO
EDITOR DE FOTOGRAFIA
Uma das raras entrevistas
concedidas pelo fotógrafo
Henri Cartier-Bresson será exibida hoje no canal Eurochannel.
Trata-se do documentário "Henri
Cartier-Bresson - Ponto de Interrogação", realizado pela fotógrafa
Sarah Moon, em 1994.
"O que vou dizer? Eu não sei.
Tenho mil interrogações", diz o
mítico fotógrafo francês, visivelmente desconfortável com a presença da câmera. Um pouco
adiante, mais relaxado, diz: "A fama é horrível, horrível. Ficamos
acorrentados".
Nascido em 1908, Bresson estudou filosofia e pintura. Em 1930,
influenciado pelos surrealistas
("não pela pintura, mas pela percepção do subconsciente"), decidiu seguir a carreira de fotógrafo.
Sobre o fato de fotografar, filosofa: "A foto em si não me interessa, mas sim a reportagem, a comunicação entre o mundo e o homem comum. E há este instrumento maravilhoso que passa desapercebido. É uma dança!".
Durante a fala de Bresson, alternam-se fotografias, desenhos e
cenas de documentários realizados por ele. Durante a Segunda
Guerra Mundial, foi preso pelos
alemães, o que o motivou a fazer
documentários em vídeo. Mais
tarde, trabalharia com o cineasta
Jean Renoir. "Nunca pensei em
fazer ficção no cinema. Não tenho
imaginação", diz.
No início dos anos 70, parou de
fotografar, após conversa com o
amigo e crítico de arte Teriade.
"Ele me dizia: "Volta, volta. Você
já disse tudo o que podia. Não deve se repetir. Você precisa se questionar. É uma atitude libertária"."
Com a câmera aposentada,
Bresson se abrigou no desenho e
na pintura. "Não tenho saudade.
O desenho é uma meditação, enquanto a foto é um tiro", diz.
"Ponto de Interrogação" não se
propõe a apresentar Bresson para
leigos. Mas nem por isso é um depoimento que interessa apenas a
iniciados. Ao falar sobre fotografia, Bresson discorre sobre a vida.
E, sabemos, do mais belo e poético ponto de vista que a história da
fotografia produziu até hoje.
HENRI CARTIER-BRESSON - PONTO DE
INTERROGAÇÃO - Eurochannel, hoje, às 20h.
Texto Anterior: Festival do Rio BR 2002 - "A Jangada de Pedra": Francês usa ironia para levar Saramago às telas Próximo Texto: Carlos Heitor Cony: O amor em alta rotatividade Índice
|