|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRÍTICA
Espectador vira cúmplice involuntário
TIAGO MATA MACHADO
CRÍTICO DA FOLHA
De um drama (cada vez mais) comum, o de um pai de família incapaz de revelar aos seus a condição de desempregado, o diretor Laurent Cantet, grata revelação, extrai as máximas consequências sociais e psicológicas.
Vincent (Aurélien Recoing), seu protagonista, é apenas alguém acostumado a simular o trabalho, uma arte cada vez mais em voga. Ocorre que essa simulação, desenvolvida por ele durante os anos em que trabalhou sem ambição num escritório de consultoria, faz-se literal a partir do momento em que é demitido. Passando a simular, de fato, um trabalho, o executivo intenta preservar a família, ganhar um pouco de
tempo até emplacar um negócio
todo seu. Mas, a essa altura, sua
única real especialidade é a encenação. Ele logo se revela um impostor no seio da própria família.
Cantet também simula o seu
trabalho, deixando, muitas vezes,
o espectador trabalhar por ele. É
assim que "A Agenda" acaba se
configurando num suspense real
e angustiante, tal é a habilidade
com que o cineasta nos faz trabalhar a seu favor, prendendo-nos
na teia de relações de seu filme e
nos fazendo, a exemplo da mulher de Vincent, uma espécie de
cúmplice involuntário da farsa.
Avaliação:
Texto Anterior: Cinema/Estréia: Profissão: farsante Próximo Texto: Erika Palomino: Moda muda também neste finde Índice
|