São Paulo, sexta-feira, 04 de outubro de 2002

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CRÍTICA

Espectador vira cúmplice involuntário

TIAGO MATA MACHADO
CRÍTICO DA FOLHA

De um drama (cada vez mais) comum, o de um pai de família incapaz de revelar aos seus a condição de desempregado, o diretor Laurent Cantet, grata revelação, extrai as máximas consequências sociais e psicológicas.
Vincent (Aurélien Recoing), seu protagonista, é apenas alguém acostumado a simular o trabalho, uma arte cada vez mais em voga. Ocorre que essa simulação, desenvolvida por ele durante os anos em que trabalhou sem ambição num escritório de consultoria, faz-se literal a partir do momento em que é demitido. Passando a simular, de fato, um trabalho, o executivo intenta preservar a família, ganhar um pouco de tempo até emplacar um negócio todo seu. Mas, a essa altura, sua única real especialidade é a encenação. Ele logo se revela um impostor no seio da própria família.
Cantet também simula o seu trabalho, deixando, muitas vezes, o espectador trabalhar por ele. É assim que "A Agenda" acaba se configurando num suspense real e angustiante, tal é a habilidade com que o cineasta nos faz trabalhar a seu favor, prendendo-nos na teia de relações de seu filme e nos fazendo, a exemplo da mulher de Vincent, uma espécie de cúmplice involuntário da farsa.


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