São Paulo, sexta-feira, 04 de outubro de 2002
 |
 |
|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ERIKA PALOMINO MODA MUDA TAMBÉM NESTE FINDE
Não é só no Brasil e na política que o finde é importante. A temporada de lançamentos de verão 2003 segue agora em Paris, onde nos próximos dias a moda deverá mudar para sempre: hoje desfila Chalayan, amanhã Balenciaga e McQueen e, domingo, John Galliano. Ele desfilaria para a Dior ontem à tarde, no primeiro dia importante da temporada francesa. E o que você precisa saber de Milão? Que a Prada fez, de longe, o melhor desfile de todos. Que a Miu Miu misturou surfwear com anos 60 e China, em lindos quimonos de seda com bermudas e flores de plástico. Que a Missoni surpreendeu ao renovar sua silhueta; que Gucci fez histórico desfile com saias curtíssimas, no limite do bom senso e da estética, dividindo as opiniões do povo da moda. E que Dolce & Gabbana relança peças antigas em desfile comercial; Jil Sander entrou no prumo com coleção tecno inspirada na cantora Nico, da turma de Andy Warhol, da Factory. A Factory e seu visual lisérgico apareceram também na Versus, com imagens saturadas e megacoloridas. Precisa saber também que a adolescente russa Natalia Semionova é a modelo do momento. Loura, com uma perturbadora e ao mesmo tempo suave presença na passarela, ela parece uma princesa e é a favorita de diretores de castings, fotógrafos e estilistas. Outras modelos que estão se destacando são a supersexy Rie Rassmunsen, a morena Catriona, a louríssima Dave, uma menina alegre e cheia de personalidade que na passarela pisa duro, decidida. Outra favorita minha é a morena Eugenia, destaque da Prada. Eva Herzigova, por sua vez, reinou em Milão, depois de ter sido recuperada pela Prada na ultima temporada. É a mais velha, mas a mais inteira, com o corpo mais absurdo, que pega as roupas mais difíceis dos desfiles. VERSACE E DIOR: STRAVAGANZA Britney Spears assistiu ao segundo desfile da Versace, que teve mais uma vez a pumping house do DJ americano Junior Vasquez. Na coleção, Donatella brinca de popozuda, escrevendo seu nome com letras gigantes no derriére de vários vestidos -usados por brasileiras como Fernanda Tavares, que estava very Versace. As melhores partes desse desfile, irregular no final, eram os vestidinhos curtos evasê à la Gianni, e as brincadeiras com cores e listras horizontais em apertadíssimos vestidos stretch. Também eram bem divertidos os maiôs usados com botas altas, tipo Chacrete. Donatella está tomando segurança como estilista. Com maquiagem extravagante, que é mistura de crazy horse com rock'n'roll, John Galliano renovou absurdamente seu estilo da maison Christian Dior. À moda punk, ele redesenhou silhuetas com grandes volumes, como fez na alta-costura, e surpreendeu ao tratar seus materiais de alta qualidade com um despojamento que vem das ruas e da vida de cada tecido (georgette, couro, plumas). As estampas são muitas vezes palavras coladas como na estética punk (tipo Anarchy in the UK), e é com essa anarquia que ele vê a moda. Galliano terminou o desfile fazendo todos acompanharem a música batendo palma com uma explosão de papel picado dourado. Mágica. HYPE GREGO CRESCE NA EUROPA Depois do aparecimento da estilista Sophia Kokosalaki nas passarelas londrinas (ela está sendo considerada a revelação do cenário inglês pós-Alexander McQueen), há agora um outro estilista e dois stylists importantes vindos da Grécia e que viraram uma turma a partir da faculdade Saint Martins, a mais bacana escola de moda da capital inglesa -e talvez da Europa. Angelos Frentzos é o novo designer da marca Alma, uma tradicional casa do prêt-à-porter italiano, que desfilou na tarde da segunda-feira, num original circo do século 18, uma coleção de peças especiais e diferenciadas, inspiradas na era bizantina, nos bordados hippies do final dos anos 70 (em estilo folk). O resultado em marrom e preto ainda é um pouco duro, mas certamente Frentzos é um nome a observar. Panos, stylist, é mais conhecido, até mesmo dos brasileiros, depois que assinou um trabalho de inverno 2002 para a Arezzo. Já Alister Mackie parece ser o mais absurdo. É o diretor de moda da revista "Another Magazine", a que é editada pelo namorado da Kate Moss, Jefferson Hack. Ele também assinou o styling do último desfile de McQueen, bem a cara de seu trabalho. E sabia que Sophia Kokosalaki serviu de consultora por algumas temporadas para a Fendi? Até esta última temporada. Daí, talvez, a força da estética grega nessa última coleção de verão. Para garantir a contemporaneidade de sua marca, um estilista importante como Karl Lagerfeld não hesita em contratar alguém mais jovem e até mesmo obscuro para estar ao seu lado. CINDERELA NO PLANETA FASHION A jovem modelo Ana Bela, 17, saiu de uma vida simples na periferia de São Paulo e em sua primeira temporada em Milão já foi logo desfilando para Gucci e Fendi. E pensar que Ana bateu na porta da agência Marilyn apenas com o dinheiro para pagar o ônibus de volta para casa. Quando pegou seu primeiro desfile internacional, não ficou surpreendida, achou que vida de modelo era assim mesmo, com viagens ao redor do globo. Agora, com pouco mais de um ano de profissão, ela já tem mais dimensão e experiência e sabe a importância de desfilar na temporada internacional. Diz que deu pulos de alegria ao saber que integraria o casting para o desfile de verão da Gucci (Ana Bela e Caroline Ribeiro foram as únicas brasileiras a desfilar para a marca). Ana Bela caiu nas garras de Tom Ford, poderoso estilista da Gucci, que fez o photo book da grife com ela e vai colocá-la também no casting da Yves Saint Laurent, um dos mais importantes e concorridos desfiles da temporada, que acontece na segunda-feira, às 19h30. "Ele gostou de mim", anima-se a modelo. Vale lembrar que também foi Tom Ford quem deu chance à linda Lia, colocando-a no desfile e na campanha de YSL, seguindo a tradição do mestre Yves Saint Laurent de usar modelos negras. Ana Bela termina esta temporada e volta para Nova York, onde está morando atualmente. E, pelo jeito, vai ficar por um bom tempo... ACESSÓRIOS FAVORITOS DAS EDITORAS A cada temporada as editoras de moda elegem seus itens favoritos, e ao longo dos dias você vai vendo pencas deles, até que, de repente, eles se esgotam nas lojas. As sandálias de Yves Saint Laurent, presas no tornozelo, de Pierre Hardy (guarde esse nome, ele é o cultuado designer de sapatos de Balenciaga) e da própria Balenciaga têm sido as mais vistas, por enquanto. Bolsas: Balenciaga, Prada e Miu Miu (que as editoras adoram). Mas bem que as mais descoladas correram para trazer qualquer coisa da dobradinha Pierre Cardin/Courreges, depois da explosão anos 60 de Milão. Paco Rabanne também vale, claro, e a exposição de suas roupas está instalada no Corso Como 10 até o final de outubro. CHINOISERIE É TENDÊNCIA Com o crescimento da China como potencial mercado para os bens de luxo, muitas marcas em Milão fizeram uma forcinha extra para chamar a atenção de suas consumidoras orientais com versões estilizadas de vestes chinesas, fortemente presentes em seus desfiles. De Gucci (nos momentos mais incríveis do desfile, em microquimonos curtissimos) a Miu Miu, de Antonio Berardi a Roberto Cavalli, que fez incrível cenografia em placas de laca vermelha e biobos, alegadamente se inspirando na ópera "Turandot". Chame de oriental-sexy, chinoiserie chic, se jogue. É puro fetiche. Texto Anterior: Crítica: Espectador vira cúmplice involuntário Próximo Texto: Cinema: SP recebe a modernidade de Eric Rohmer Índice |
|
|
