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São Paulo, sábado, 04 de outubro de 2003

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ARTES PLÁSTICAS

Mostra, que será inaugurada hoje em Porto Alegre, apresenta obras de 76 artistas vindos de 13 países

Bienal do Mercosul busca inquietação sobre origens

FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL A PORTO ALEGRE

Num labirinto de espelhos, o visitante vê sua imagem multiplicada e misturada à de outros visitantes. O piso irregular do espaço torna o percurso ainda mais confuso. Uma pequena abertura permite que o visitante entre por trás desse caminho e veja como pode ser complexa a construção da identidade.
Tal obra, "Hotel Solidão", do brasileiro Laércio Redondo, funciona como síntese da proposta curatorial de Nelson Aguilar para a 4ª Bienal do Mercosul, em Porto Alegre, que é aberta hoje pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Desde 1957, com Juscelino Kubitschek (1902-1976), um presidente da República não inaugurava uma bienal brasileira.
Com "Arqueologia Contemporânea", Aguilar buscou mapear "uma inquietação em relação às origens" dos povos do Mercosul. Com 76 artistas de 13 países (além dos países do Mercosul), a mostra tem o México como país convidado e artistas norte-americanos e europeus na seção denominada "Transversal", organizada por Alfons Hug, também curador da 26ª Bienal de São Paulo, prevista para o próximo ano.

Menos participantes
Em um momento de questionamento do formato de grandes mostras, a redução do número de participantes em Porto Alegre aponta para uma saída que acaba por valorizar a própria exposição. Para ter uma idéia, a primeira Bienal do Mercosul contou com 275 artistas. Hug disse à Folha que também pretende reduzir o número de artistas na bienal da capital paulista.
A seleção brasileira, com nove participantes, atesta como a concentração foi uma boa estratégia. Com curadoria de Franklin Pedroso, cada um dos selecionados, entre eles Redondo, dialoga com o tema geral, tendo a idéia de mutação como uma de suas principais vertentes, caso de Janaína Tschäpe, Lia Menna Barreto, Solange Pessoa e Rosana Paulino.
Dois artistas veteranos, Lygia Pape e Ivens Machado, comparecem com obras monumentais, enquanto José Damasceno é minimalista: seis esculturas de mármore, em formato de vírgula, apontam para uma crítica sobre o discurso artístico. Laura Lima faz uma performance na abertura.
Nos galpões, um dos países que surge com maior força é a Argentina, com curadoria de Adriana Rosenberg. Já a seção denominada "Arqueologia Genética", também nos galpões, apenas comprovou "cientificamente" o que antropólogos têm conceituado há anos sobre a identidade latino-americana: ela é construída sobre a diversidade. Das 50 amostras de DNA coletadas entre participantes do evento constatou-se a existência de 17 halogrupos, de 30 existentes no mundo todo.
Apesar de ser a única bienal de arte contemporânea a contar com um núcleo histórico -aqui denominado Mostras Icônicas-, a vinculação com o tema geral da mostra revela-se eficiente, especialmente nos casos do chileno Roberto Matta e da uruguaia Maria Freire, ou ainda do brasileiro Saint Clair Cemin.
Mas é em "Arqueologia das Terras Altas e Baixas", com curadoria de Eduardo Neves e Adriana Schmidt Dias, que a tese curatorial de Aguilar ganha força, ao mostrar em peças de mais de 4.000 anos de arte pré-colombiana, como os povos sul-americanos já trocavam informações e se influenciavam de forma constante, o que, agora, se repete com a Bienal do Mercosul.


O jornalista Fabio Cypriano viajou a convite da Fundação Bienal de Artes Visuais do Mercosul

4ª BIENAL DO MERCOSUL - mostra com 76 artistas de 13 países. Curadoria: Nelson Aguilar. Quando: abertura hoje, às 11h; de ter. a dom., das 9h às 21h. Até 7/ 12. Onde: Memorial do Rio Grande do Sul, Santander Cultural e Margs (todos na pça. da Alfândega), Cais do Porto (av. Mauá, 1.050) e Usina do Gasômetro (av. Presidente João Goulart, 551); tel. 0/xx/ 51/3228-4074. Quanto: entrada franca. Patrocinadores: Gerdau, Santander Cultural e Petrobras.


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