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ARTES PLÁSTICAS
Mostra, que será inaugurada hoje em Porto Alegre, apresenta obras de 76 artistas vindos de 13 países
Bienal do Mercosul busca inquietação sobre origens
FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL A PORTO ALEGRE
Num labirinto de espelhos, o visitante vê sua imagem multiplicada e misturada à de outros visitantes. O piso irregular do espaço
torna o percurso ainda mais confuso. Uma pequena abertura permite que o visitante entre por trás
desse caminho e veja como pode
ser complexa a construção da
identidade.
Tal obra, "Hotel Solidão", do
brasileiro Laércio Redondo, funciona como síntese da proposta
curatorial de Nelson Aguilar para
a 4ª Bienal do Mercosul, em Porto
Alegre, que é aberta hoje pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Desde 1957, com Juscelino Kubitschek (1902-1976), um presidente da República não inaugurava uma bienal brasileira.
Com "Arqueologia Contemporânea", Aguilar buscou mapear
"uma inquietação em relação às
origens" dos povos do Mercosul.
Com 76 artistas de 13 países (além
dos países do Mercosul), a mostra
tem o México como país convidado e artistas norte-americanos e
europeus na seção denominada
"Transversal", organizada por Alfons Hug, também curador da 26ª
Bienal de São Paulo, prevista para
o próximo ano.
Menos participantes
Em um momento de questionamento do formato de grandes
mostras, a redução do número de
participantes em Porto Alegre
aponta para uma saída que acaba
por valorizar a própria exposição.
Para ter uma idéia, a primeira Bienal do Mercosul contou com 275
artistas. Hug disse à Folha que
também pretende reduzir o número de artistas na bienal da capital paulista.
A seleção brasileira, com nove
participantes, atesta como a concentração foi uma boa estratégia.
Com curadoria de Franklin Pedroso, cada um dos selecionados,
entre eles Redondo, dialoga com
o tema geral, tendo a idéia de mutação como uma de suas principais vertentes, caso de Janaína
Tschäpe, Lia Menna Barreto, Solange Pessoa e Rosana Paulino.
Dois artistas veteranos, Lygia
Pape e Ivens Machado, comparecem com obras monumentais,
enquanto José Damasceno é minimalista: seis esculturas de mármore, em formato de vírgula,
apontam para uma crítica sobre o
discurso artístico. Laura Lima faz
uma performance na abertura.
Nos galpões, um dos países que
surge com maior força é a Argentina, com curadoria de Adriana
Rosenberg. Já a seção denominada "Arqueologia Genética", também nos galpões, apenas comprovou "cientificamente" o que antropólogos têm conceituado há
anos sobre a identidade latino-americana: ela é construída sobre
a diversidade. Das 50 amostras de
DNA coletadas entre participantes do evento constatou-se a existência de 17 halogrupos, de 30
existentes no mundo todo.
Apesar de ser a única bienal de
arte contemporânea a contar com
um núcleo histórico -aqui denominado Mostras Icônicas-, a
vinculação com o tema geral da
mostra revela-se eficiente, especialmente nos casos do chileno
Roberto Matta e da uruguaia Maria Freire, ou ainda do brasileiro
Saint Clair Cemin.
Mas é em "Arqueologia das Terras Altas e Baixas", com curadoria
de Eduardo Neves e Adriana
Schmidt Dias, que a tese curatorial de Aguilar ganha força, ao
mostrar em peças de mais de
4.000 anos de arte pré-colombiana, como os povos sul-americanos já trocavam informações e se
influenciavam de forma constante, o que, agora, se repete com a
Bienal do Mercosul.
O jornalista Fabio Cypriano viajou a
convite da Fundação Bienal de Artes Visuais do Mercosul
4ª BIENAL DO MERCOSUL - mostra com
76 artistas de 13 países. Curadoria:
Nelson Aguilar. Quando: abertura hoje,
às 11h; de ter. a dom., das 9h às 21h. Até
7/ 12. Onde: Memorial do Rio Grande do
Sul, Santander Cultural e Margs (todos na
pça. da Alfândega), Cais do Porto (av.
Mauá, 1.050) e Usina do Gasômetro (av.
Presidente João Goulart, 551); tel. 0/xx/
51/3228-4074. Quanto: entrada franca.
Patrocinadores: Gerdau, Santander
Cultural e Petrobras.
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